Universidade Federal de Minas Gerais

Estudo revela que diagnóstico de câncer infantil pode demorar até oito anos após surgimento de sintomas

quarta-feira, 27 de novembro de 2013, às 5h58

Ainda é elevado o número de crianças com câncer que demoram a ser encaminhadas para tratamento, uma vez que a descoberta da doença pode levar até oito anos após o aparecimento dos sintomas. É o que conclui estudo desenvolvido pelo Observatório da Saúde da Criança e do Adolescente (Observaped), da Faculdade de Medicina, divulgado na semana do Dia Mundial de Combate ao Câncer (27 de novembro).

O estudo é baseado na análise retrospectiva de prontuários registrados no Hospital das Clínicas no período de 2004 a 2012. “Essa demora ocorre porque o portador tende a apresentar sintomas inespecíficos ou parecidos com os de doenças comuns”, justifica a estudante Elena Domingues, do 8º período do curso de Medicina da UFMG, integrante do grupo de pesquisa.

Segundo ela, entre as queixas mais comuns estão dor de cabeça, náuseas, vômitos e alterações da marcha e coordenação. Nas crianças com menos de quatro anos, os sintomas inespecíficos mais frequentes são náuseas, vômitos e irritabilidade. Dos 488 pacientes atendidos no período, 364 (74,5%) tiveram diagnóstico de neoplasia maligna, a proliferação anormal de células. O intervalo entre o início dos sintomas e o diagnóstico da doença variou de um dia a oito anos.

Elena conta que o diagnóstico mais comum foi dos tumores do sistema nervoso central, responsáveis por 42% dos casos de câncer e com tempo de queixa de aproximadamente 13 semanas. Tumores de partes moles – tipo de câncer que pode afetar um grupo de tecidos localizados entre a epiderme e as vísceras – demoraram em torno de 26 semanas para serem diagnosticados.

Prognóstico
Além do comportamento da doença, a demora no diagnóstico pode estar relacionada a fatores socioeconômicos, como dificuldade de acesso ao atendimento médico, aos métodos diagnósticos e ao encaminhamento para os centros de referência em oncologia pediátrica.

Segundo a professora Karla Emília de Sá Rodrigues, do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina e uma das orientadoras da pesquisa, outro fator para a baixa suspeição do pediatra é o fato de que ele diagnostica um caso de neoplasia maligna a cada 7 a 10 anos. “Assim, o câncer dificilmente será a primeira hipótese considerada diante de queixas inespecíficas”, conclui.

Óbitos
Em outro estudo realizado pelo grupo, também no período de 2004 a 2012, dos 364 pacientes identificados, 86 acabaram morrendo. A prevalência de mortes foi maior entre os portadores de tumores do sistema nervoso central, que corresponderam a 45% dos casos. “Esses dados estão em consonância com a literatura que aponta tais tumores como as principais causas de morte por câncer”, completa Elena Domingues.

Já entre as causas de óbito, as principais foram a progressão da doença, que chegou a 45,4% e a sepse - infecção generalizada – que foi de 14,7%. Para a professora Karla Rodrigues, é fundamental a conscientização da população médica e leiga sobre os sinais e sintomas precoces do câncer. “Em geral, quanto maior o atraso do diagnóstico, mais avançado é o estágio da doença e menores as chances de cura”, ressalta.

O Brasil apresenta a maior demora entre o início dos sintomas e o diagnóstico ou primeira consulta com o oncologista pediátrico, quando comparado a países desenvolvidos. Nos tumores das partes moles, por exemplo, o tempo de queixa chega a ser cinco vezes maior.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer infantil é a doença que mais leva crianças e adolescentes com idades de 1 a 19 anos ao óbito no Brasil. Considerados também os fatores externos, a enfermidade fica em segundo lugar entre as causas de morte nesta faixa etária, perdendo apenas para os acidentes.

(Com Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina)