Sarah Dutra/UFMG |
A partir deste mês, o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC) passa a abrigar um Centro de Tecnologia para Web (CTWeb), vinculado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Web, coordenado por professores do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Ciências Exatas. A implantação do CTWeb vai possibilitar a criação e transferência de tecnologias desenvolvidas na Universidade e a geração de novos negócios de forma mais madura no que diz respeito à gestão dos processos, possibilitando uma melhor divisão de escopos entre os participantes. “O Centro de Tecnologia para Web tenta eliminar um gargalo que dificulta que conhecimentos e tecnologias desenvolvidos na Universidade cheguem ao mercado da forma correta. Muitas vezes, em seu trânsito até esta etapa, a tecnologia perdia o seu vínculo com a sua origem, a Universidade, impossibilitando que fosse devidamente creditada pelo que foi desenvolvido. O novo modelo tem a virtude de melhorar a sistematização do processo de inovação, carência antiga do setor”, diz o professor Wagner Meira, um dos idealizadores do CTWeb. O objetivo, frisa Meira, é reduzir a distância que separa a Universidade do mercado. A base do CTWeb é o trabalho do próprio InWeb, que há alguns anos vem desenvolvendo protótipos de Observatórios da Web que lidam, em tempo real, com grandes volumes de dados oriundos das redes sociais. O Observatório das Eleições é um exemplo. Nas eleições de 2012, software foi implantado com o objetivo de mapear o que as pessoas publicavam nas redes sociais e minerar os dados de sites e portais de notícias sobre o processo eleitoral - das postagens sobre os candidatos aos tradicionais ataques aos opositores, passando pelas propostas de governo. Este ano um novo Observatório das Eleições será instalado. “Já há algum tempo estamos mapeando os possíveis presidenciáveis, coletando os dados”, afirma Wagner. Outro destaque é o Observatório da Dengue, que acompanha as menções feitas à doença na internet para monitorar e até mesmo prever a disseminação real dos casos, colaborando para o planejamento de políticas públicas de saúde. E ainda há os softwares voltados para o futebol, como o Observatório do Brasileirão, que durante o campeonato possibilita o monitoramento de jogos e o acompanhamento de cada time, e o Observatório da Copa, que já teve o seu protótipo instalado em 2010 e está previsto para entrar em funcionamento novamente este ano. O software vai possibilitar, entre outras coisas, o acompanhamento e rastreamento do tráfego de mensagens nas redes sociais durante os jogos, das postagens no mapa do mundo, das palavras mais utilizadas do universo esportivo em diversas línguas, das fotos e vídeos mais referenciados nas redes sociais, entre outros. Tais observatórios são exemplos concretos de como estruturas como o InWeb, e agora o CTWeb, permitem que a inovação encontre formas de se reverter em produtos práticos e úteis ao mercado. “Historicamente, a área de TI vinha sendo cobrada em relação às formas de se fazer inovação na área da informática. É algo complicado. A inovação associada à TI precisa acontecer de forma diferente de outras áreas. Algumas áreas trabalham com patentes, por exemplo. Em TI, essa lógica não funciona. Patentes são muito demoradas, e em Tecnologia da Informação as coisas mudam muito rapidamente. Não dá para esperar. Nesse sentido, o CTWeb surge para imprimir uma dinâmica e estabelecer os processos de que a área precisa”, explica. A inauguração do CTWeb acontece nesta segunda-feira, 10 de março, às 10h, no BH-Tec, com presenças prevista do reitor Clélio Campolina, do Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Narcio Rodrigues, e do presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Mario Neto Borges, entre outros. Interações A UFMG fez uma consulta formal à Procuradoria Geral da República com o objetivo de obter autorização para constituir uma Empresa de Propósito Específico (EPE), figura jurídica prevista na Lei de Inovação. Se obtiver a autorização, o CTWeb será formalizado como uma sociedade sem fins lucrativos, mas que pode ter parceiros e receber investimento privado – e da qual a UFMG será sócia. Enquanto a consulta está correndo junto à Procuradoria, a Fundação de Amparo à Pesquisa (Fundep) é responsável por intermediar os trâmites legais das parcerias. A interação do CTWeb com essas empresas e instituições privadas se dará por pelo menos quatro formas de interação, duas delas mais tradicionais: licenciamento ou venda simples de projetos. No entanto, o foco do Centro de Tecnologia serão outras duas modalidades de interação consideradas mais estratégicas: a parceria e a fundação de startups. “Elas possibilitam que a Universidade e o CTWeb mantenham-se envolvidos com o projeto depois da consolidação do produto”, detalha Wagner. Na modalidade parceria, as tecnologias são refinadas em sinergia com empresas já existentes no mercado, a partir de pré-produtos gerados no CTWeb. “Nesse formato, o retorno financeiro para o CTWeb tende a acontecer pelo compartilhamento da receita líquida associada ao produto”, explica o professor Wagner Meira. A outra modalidade é a criação de empresas de tecnologia de ponta a partir do modelo de startups. “Neste caso, os pré-produtos são igualmente a base para a criação, mas, em vez de a parceria ser firmada com empresas já consolidadas no mercado, a própria empresa é desenvolvida simultaneamente ao produto, seja por alguém advindo do mercado, interessado em encampar o projeto, seja pelo próprio autor da ideia. Em casos assim, uma forma típica de ressarcimento ao CTWeb é a participação em lucros e ações dessa nova empresa”. Wagner Meira chama atenção para a natureza não lucrativa do CTWeb. “As receitas pela exploração dos ativos de conhecimento e tecnologia são integralmente revertidas para repasses à UFMG e aos inventores e para a manutenção do Centro e investimentos em pesquisa”, diz. O exato destino de cada receita é definido no momento da contratação da transferência tecnológica. Em atividade Também será assinado, no mesmo dia, acordo com startup gestada fora da UFMG que atua no segmento de moda. “O seu foco de atuação são as blogueiras de moda e as discussões que se dão na web relacionadas ao setor”, detalha. E uma terceira parceria será firmada com uma pequena empresa, atualmente incubada na Inova-UFMG, chamada S10i. “Trata-se de uma empresa para a gestão de portfólio de investimentos, iniciativa de ex-aluno do DCC em conjunto com estudantes do curso de Administração. Estamos fazendo a observação de web e redes sociais para fins de investimentos. O protótipo desenvolvido se chama Observatório de Investimentos”. Segundo Wagner Meira, há pelo menos mais três acordos em negociação, e muitos protótipos em andamento, já que várias atividades vinham sendo desenvolvidas nos próprios laboratórios do DCC, como os observatórios. Nesse sentido, o professor reitera a importância dos protótipos para a área de TI. “O CTWeb cumprirá o papel de ser um ambiente de desenvolvimento desses protótipos e amadurecimento de tais tecnologias, algo que não deve ser executado por um laboratório de Universidade”, afirma o professor, para quem esse tipo de novidade libera os laboratórios da academia a executar seu papel primordial: “Formar alunos e gerar artigos, pesquisas, protótipos”. (Ewerton Martins Ribeiro)
O diferencial advindo da criação do CTWeb está em sua constituição jurídica. É ela que vai possibilitar que o Centro, em vez de se relacionar diretamente com o consumidor final, atue em parceria com empresas e instituições de forma que elas, com sua expertise, se responsabilizarem pelas relações com o mercado. Assim, o Centro pode concentrar seus esforços na especificidade de seu negócio, ou seja, o desenvolvimento de tecnologias.
Três parcerias serão assinadas já na cerimônia do dia 10: a primeira com a Módulo, empresa brasileira de gestão de riscos e de atuação internacional. “Ela é responsável, por exemplo, por todos os centros de controle e operação da Copa do Mundo”, lembra Wagner Meira. Com a parceria, toda a parte de redes sociais da empresa ficará concentrada no Observatório da Web.