Universidade Federal de Minas Gerais

'Modernização autoritária' imposta pelo regime militar nas universidades brasileiras é analisada em livro de historiador da UFMG

terça-feira, 11 de março de 2014, às 5h55

livro%20universidades%20e%20ditadura.jpg A academia abrigava “inimigos” do regime instaurado em 1964 e, por isso, sofreu com a mão pesada dos governos militares. Professores e estudantes foram expulsos – alguns passaram por prisão e tortura –, carreiras acabaram interrompidas abruptamente e nunca seriam retomadas. Mas com a outra mão o regime investiu na modernização das universidades, interessado em formação de quadros técnicos e em desenvolver a pesquisa.

Entender esse processo de “modernização autoritária” foi o objetivo central de pesquisa do professor Rodrigo Patto Sá Motta, da UFMG, que resultou no livro As universidades e o regime militar, lançado este mês pela editora Zahar.

A obra tenta explicar, segundo Sá Motta, essa face de uma ditadura heterogênea, em que conviviam radicais de direita, obcecados pela eliminação de comunistas e pessoas que se opunham ostensivamente ao regime, e uma ala mais liberal, preocupada em impulsionar o desenvolvimento econômico.

“A universidade tinha papel fundamental para alimentar a indústria e outras áreas estratégicas de novas tecnologias e recursos humanos. Essa combinação de impulsos gerou uma política universitária contraditória”, comenta o autor, que pesquisou durante seis anos em arquivos brasileiros e americanos, e fez cerca de 50 entrevistas.

Acomodação
Rodrigo Patto Sá Motta usa como exemplo do investimento maciço nos campi a própria UFMG, que sobretudo nos anos 1970 ganhou novos institutos e infraestrutura de pesquisa mais robusta. A universidade brasileira estruturou um sistema de pós-graduação, e a carreira docente foi reformulada, com o intuito, entre outros, de estimular a dedicação integral, que permitiria aos professores somar a seu tempo de aulas a orientação de pesquisas: “Os governos do período pós-64 precisavam de quadros técnicos não apenas para a indústria, mas também para o próprio Estado".

Ele conta que, se por um lado a violência deixou muitos professores e alunos pelo caminho, muitas vezes a ala mais liberal ganhou a queda de braço, conseguindo impedir demissões. O historiador chama de “acomodação” o processo em que os reitores convenciam os órgãos de repressão a preservar profissionais de esquerda considerados qualificados e, portanto, úteis em áreas-chave.

“A repressão teve limites no ambiente acadêmico e fez uma limpeza ideológica parcial, diferentemente do que ocorreu no Uruguai, Argentina e Chile, onde esse processo foi radical”, afirma Sá Motta. Para ele, essa diferença se explica pela tradição política do Brasil, mais propenso à conciliação, e também pelo fato de que as pessoas envolvidas nesse imbróglio pertenciam à elite social e intelectual.

Uns mais, outros menos
Em As universidades e o regime militar, Rodrigo Patto Sá Motta se debruça sobre a participação dos reitores, agentes do Estado com razoável autonomia. Segundo ele, alguns eram mais engajados com a ditadura, outros menos. Estes últimos “não se entusiasmaram tanto” com o papel destinado a eles e tinham mais disposição de proteger seus pesquisadores. Sá Motta cita o caso do ex-reitor da Unicamp Zeferino Vaz, partidário declarado do regime, mas muito dedicado à preservação de quadros. “Ele entendia, por exemplo, que não era possível desenvolver a área de economia sem a participação de marxistas. E tinha cacife político para contratar ou manter pesquisadores. Muito graças a Zeferino Vaz, paradoxalmente, a Unicamp se tornou referência da esquerda entre as universidades brasileiras”, afirma Sá Motta.

De acordo com o autor, o Ato Institucional nº 5, de 1968, generalizou a triagem ideológica, que revirava o passado dos candidatos a emprego nas universidades. Uma ficha negativa gerava orientação para não se contratar, mas os gestores máximos das instituições tinham autoridade para fazê-lo. “Encontrei casos em que os reitores enfrentaram dissabores por contratar contra a vontade do governo. Mas eles argumentavam sobre a necessidade de contar com aqueles professores e prometiam monitorá-los”, conta Rodrigo Sá Motta.

O professor da UFMG conta ainda que os docentes que voltavam às salas de aula e laboratórios após ter passado pela prisão eram orientados a não fazer proselitismo. Esse trabalho era feito por agentes infiltrados e pelas Assessorias de Segurança e Informação, responsáveis também por ações de contrapropaganda, divulgando, por exemplo, notícias e mensagens que combatiam os regimes comunistas soviético e chinês.

Americanização
O tema principal das pesquisas do autor nos Estados Unidos foram os acordos do MEC com a agência americana Usaid. Ele investigou até que ponto houve americanização no processo de modernização do sistema universitário brasileiro. “A influência foi menor do que se supunha. O modelo americano inspirou a criação de departamentos, a adoção do sistema de créditos, e os acordos levaram muitos pós-graduandos brasileiros aos EUA e trouxeram professores de lá.

Mas a universidade pública gratuita no Brasil continuou dependente do governo, e muitos professores preferiram manter características do modelo europeu, especialmente o francês”, conclui Rodrigo Patto Sá Motta.

(Itamar Rigueira Jr./Boletim 1854)

Livro: As universidades e o regime militar
De Rodrigo Patto Sá Motta/Editora Zahar
432 páginas
R$ 54,90 (impresso) e R$ 34,90 (e-book)

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