Sarah Dutra/UFMG |
O aumento da renda dos trabalhadores domésticos tem forte impacto sobre a economia do país, segundo o artigo An impact assessment: the formalisation of domestic work in Brazil, publicado este mês na revista Policy in Focus. Desenvolvido pelo professor Edson Domingues, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, em coautoria da estudante de doutorado Kênia de Souza, o estudo aponta e analisa algumas das consequências do aumento dos salários dessa classe profissional. Dentre os impactos econômicos do aumento dos ganhos dos trabalhadores domésticos, os autores destacam a redistribuição de renda e o aumento da produção e venda de bens de consumo duráveis, como geladeiras, fogões e televisões. “Com um salário maior, esse profissional começa a receber mais dinheiro das pessoas que pagam por esse tipo de serviço, o que é uma forma de redistribuição de renda que pode ajudar a diminuir o abismo da desigualdade social no Brasil. Com maior poder aquisitivo, os empregados domésticos também passam a comprar mais, principalmente bens domésticos duráveis. E isso se reflete na indústria, que precisa produzir mais”, aponta. Para analisar o aumento do poder aquisitivo dessa classe de trabalhadores, os autores desenvolveram um modelo econômico de simulação com mais de 100 mil variáveis, que incorpora dois efeitos: o aumento dos ganhos dos empregados domésticos e o do custo desse tipo de serviço. “Os ganhos de renda dessa classe afetam a economia do país de forma positiva, pois seu poder de consumo aumenta. Isso também interfere na vida de quem paga por eles, ou seja, as famílias que contratam serviços domésticos também participam do processo de mudança e melhoria da economia”, explica. Para a definição de trabalhador doméstico, o trabalho considerou a classificação da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), banco de dados coletados e organizados pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Segundo a RAIS, os empregados domésticos são babás, mordomos, motoristas e jardineiros, além dos profissionais envolvidos nas tarefas do lar, como cozinha e limpeza. Esses dados foram incorporados ao modelo econômico de simulação, que define como os mercados e os atores econômicos interagem e respondem a estímulos econômicos. “A RAIS nos forneceu o salário e o rendimento médio dos profissionais domésticos. A partir dessas informações, pudemos perceber que o salário médio dos empregados domésticos, apesar de ter aumentado 86% entre os anos de 2005 e 2010, ainda está muito abaixo da média dos salários de outras profissões”, afirma o pesquisador. Edson Domingues acrescenta que esse tipo de estudo, apesar de trazer informações que já eram apontadas por outros pesquisadores, consegue mostrar, por meio de dados numéricos, uma realidade que é observada no Brasil desde a década de 2000. “Esse artigo ajuda a levantar números e informações que estimam os impactos dos ganhos de uma classe específica no consumo e no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Além disso, com a formalização e as novas leis que regem o trabalho desses profissionais, creio que o trabalho doméstico vai diminuir. Estamos caminhando para o padrão dos países desenvolvidos, onde as pessoas não usam empregadas domésticas nem contratam babás, realizando elas mesmas esse tipo de trabalho.” Classe média incomodada “No final das contas, temos que considerar que o efeito para a economia brasileira é positivo, porque está se gerando renda e poder de consumo para um conjunto de famílias. A outra classe em questão sofre um pouco, mas toda política de redistribuição gera esse efeito em quem está ‘perdendo’: você transfere a renda de um conjunto de famílias mais ricas para as mais pobres. E isso é muito positivo para o país se considerarmos a economia como um todo”, conclui. Artigo: An impact assessment: the formalisation of domestic work in Brazil (Luana Macieira)
Edson Domingues aponta, ainda, que os novos ganhos da classe doméstica brasileira têm efeito incômodo sobre a classe média. “Quando você aumenta a remuneração de um trabalho, o empregado vai viver melhor e consumir mais, o que é bom para a nossa economia. Mas por outro lado, há um conjunto de famílias que terá que desembolsar mais por esse serviço. Portanto, esse trabalho mais caro começa a pesar no orçamento dessas famílias, que podem optar por abrir mão desse serviço”, explica.
Autores: Edson Domingues e Kênia Souza
Publicado na edição de março da revista Policy in Focus e disponível aqui.