O reitor Jaime Arturo Ramírez e a vice-reitora Sandra Goulart participaram na noite desta segunda-feira, dia 31, do evento 50 anos de resistência à ditadura de 1964 no prédio do Coleginho, na antiga Fafich, no bairro Santo Antônio, onde está sendo construído o Memorial Nacional da Anistia. A cerimônia contou ainda com a participação da ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, e do presidente da Comissão Nacional da Anistia e secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão. Durante o evento, promovido pela Associação dos Amigos do Memorial da Anistia Política do Brasil, foi realizada a solenidade de cessão simbólica de arquivos da Câmara Municipal de Belo Horizonte para a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e para a Comissão da Verdade em Minas Gerais, em homenagem aos que lutaram contra a ditadura militar no Brasil. Também foi realizada uma homenagem ao cartunista Henfil pelos 70 anos de nascimento, recebida pela viúva, Gilda Cosenza. “Hoje, 50 anos após o golpe civil-militar que instaurou um regime de exceção em nosso país, a UFMG expressa a certeza de que a democracia, reconquistada pela sociedade civil ao longo de 21 anos de luta e restabelecida em 1985, permanecerá como princípio constitutivo do Brasil. A história da Universidade é marcada pela resistência imediata a quaisquer ameaças ao cumprimento de suas funções e pela esperança combativa a favor dos ideais que a sustentam”, afirmou o reitor Jaime Arturo Ramírez. “Em respeito àqueles que na comunidade universitária lutaram pelo restabelecimento da liberdade e da justiça, a UFMG, fiel à sua história, reafirma seu permanente compromisso com a defesa dos direitos humanos, com a construção da igualdade no terreno da cidadania, com o combate a todas as formas de discriminação e opressão e com a oposição a quaisquer movimentos que tenham por objetivo a quebra do ordenamento democrático. Que esses compromissos sejam a inspiração constante para a realização de nosso trabalho na Universidade, garantindo que nossa responsabilidade social esteja sempre em sintonia com as demandas de liberdade, justiça e igualdade”, ressaltou o reitor da UFMG. Nunca mais “Falar do primeiro dia de golpe é falar sobre os primeiros a serem perseguidos pela ditadura, como o presidente João Goulart e os militares que disseram não e foram cassados pelos próprios pares", afirmou o secretário, que lembrou as mortes dos líderes estudantis Ivan Rocha Aguiar e Jonas José de Albuquerque, após passeata em Recife, no dia 1º de abril de 1964. "Ali fica claro que a ditadura matou desde o seu primeiro dia e que não é verdade que a repressão foi necessária para conter a resistência, como queriam fazer acreditar”, disse o secretário. “Não aceitamos a justificativa de que o golpe foi um mal necessário e que não havia outro caminho. Queremos uma condenação moral da ditadura”, completou Abrão. A ministra Eleonora Menicucci recordou sua ligação com a Fafich, onde estudou Ciências Sociais. “No dia 1º de março de 1964 coloquei pela primeira vez meus pés aqui, onde aprendi a ser sujeito de direitos, aprendi que viver é lutar. A Fafich está nas vidas de quem ali estudou de maneira muito importante e forte. Nela aprendemos não só teoria, mas a prática da política, o respeito, a luta contra a ditadura e seus desmandes. Saí da Fafich, mas ela nunca saiu de mim”, afirmou a ministra. Eleonora afirmou que faz parte de uma geração que construiu na luta contra a ditadura os rumos da democracia no país. “A consolidação das leis democráticas são resultado das ações de jovens que enfrentaram torturas e prisões. Nosso destino era a cadeia ou a morte. Fui contemplada com a cadeia, mas sobrevivi para continuar na luta pela justiça social, por um país mais equânime e sem preconceitos de qualquer ordem”, finalizou. O evento contou também com o lançamento do livro Nós dois, do educador Paulo Freire e de sua viúva, Nita Freire, contemplada com o título de cidadania honorária de Belo Horizonte; exposição de quadros do pintor Renato Godinho; apresentação do cantor e compositor Sirlan e apresentação da peça de teatro Only you, de Consuelo de Castro, que conta a história de um estudante que se apaixona por uma guerrilheira e decide investigar o seu desaparecimento. Tombamento A Fafich, como ainda é chamado o espaço onde funciona a Secretaria Municipal de Educação, foi um dos principais locais da organização da resistência aos militares que tomaram o poder e destituíram João Goulart da Presidência. A data da reunião foi escolhida para marcar os 50 anos do Golpe de 1964. De acordo com a Fundação Municipal de Cultura, o tombamento não altera o cotidiano do prédio, mas impede que ele sofra mudanças em sua fachada e no projeto original.
Paulo Abrão salientou que a sociedade brasileira não aceitará nunca mais o ataque às instituições democráticas como forma de disputa pelo poder com o uso de armas. Para ele, a memória é a melhor arma humana contra a barbárie.
Ainda nesta segunda-feira, o Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte se reuniu extraordinariamente e decidiu tombar o antigo prédio Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais (Fafich), localizado na Rua Carangola, Bairro Santo Antônio, Região Centro-Sul da capital.