Universidade Federal de Minas Gerais

'A arte foi e sempre será política', afirma o documentarista Silvio Tendler

segunda-feira, 28 de abril de 2014, às 5h40

IMG_8748-1.jpg O golpe de 1964 teve um “lado bom”. Melhor dizendo: teve uma consequência positiva. Este texto não propõe qualquer defesa do obscurantismo em que o país mergulhou a partir daquele ano. A “consequência positiva” diz respeito ao fato de que, para o bem ou para o mal, a tragédia política motivou certa efervescência cultural – a ditadura parece ter influenciado o surgimento ou mesmo o amadurecimento de artistas que, se não fossem os acontecimentos da época, talvez não se vissem provocados a trabalhar tão fortemente com cultura.

Este foi o caso de Silvio Tendler (em foto de Gabi Nehring), um dos principais documentaristas do cinema brasileiro, diretor de filmes como Jango e Anos JK. Tendler começou a carreira sob a influência do que viu nas ruas a partir daquele 1º de abril, ocasião em que tinha acabado de completar 14 anos. “O golpe de 1964 me fez artista”, disse em depoimento recente ao jornal O Globo.

Para Tendler, a ditadura o motivou a produzir cultura com foco no debate sobre justiça social. “Esse é o caminho consciente que sempre segui. Minha obra é, basicamente, política. Estou sempre discutindo a realidade da história e acho que o cinema é um instrumento essencial”, comentou na ocasião.

Na entrevista que concedeu ao canal que o jornal mantém no YouTube, Tendler faz um retrato-análise do que assistiu naquele dia. "Comecei a ouvir uma gritaria, um buzinaço. (...) Pessoas com bandeiras nacionais e lenços brancos, comemorando o golpe de estado. (...) Vi na rua os porteiros dos edifícios, todos cabisbaixos: os radinhos de pilha no ouvido, pegando as notícias. Ali eu percebi, pela tristeza dos porteiros, e pela alegria da classe média, quem tinha ganhado e quem tinha perdido com o golpe."

Às 17h de hoje, a 2ª Semana Cultural Travessia fará o lançamento em Minas do mais recente documentário do cineasta: Militares da democracia – Os militares que resistiram ao golpe (que também pode ser assistido na web por meio deste link). O filme traz à tona memórias dos militares que lutaram pela Constituição, pela legalidade e contra o golpe, capítulo pouco conhecido da história política brasileira.O evento é uma realização do Diretório Acadêmico Carlos Drummond de Andrade, da Faculdade de Letras. A temática deste ano são Os 50 anos do golpe no Brasil: o silenciamento e a rebelião das palavras.

O cineasta conversou com o Portal UFMG sobre a política e a juventude de ontem e de hoje e sobre sua obra. Confira.

O senhor defende uma arte eminentemente política. O senhor vê na arte o poder de mudar a realidade social? A arte teria essa função?
A arte foi e sempre será política. Em qualquer tempo. Sófocles escreve Antígona, em que proclamava o direito das famílias de enterrarem os seus mortos. Ou seja, na Grécia Antiga já se previa uma situação que aconteceria durante a ditadura: a luta pelo direito das famílias de sepultar seus mortos, os desaparecidos. Claro que sempre haverá aqueles que vão defender o ‘apoliticismo’ da arte. Estes, no entanto, são comediantes; não são artistas.

Como enxerga a atual postura política da juventude brasileira? Que percepção tem dela na comparação com a juventude de que fazia parte àquela época?
A juventude de hoje é necessariamente diferente. Alguns bons anos nos separam; existem cabelos brancos que nos separam dessa juventude. Se considerarmos 1968, são 46 anos de distância. Mas a juventude de qualquer tempo vai portar sempre a chama da rebeldia. As manifestações de junho do ano passado são o testemunho disso. Jovens lutando por outras causas, que não são as mesmas, mas que são a continuidade de uma luta.

Que aproximações e distanciamentos o senhor percebe entre as duas gerações?
Penso que, entre os aspectos que separam a juventude de hoje e a daquela época, alguns são, de certa forma, responsabilidades da minha geração, consequências dela. A geração de hoje é mais plural; ela porta bandeiras que a minha geração tinha bloqueado. Nós não discutíamos a questão do gênero. A maioria de nós não lutava pelos direitos das mulheres. Não lutávamos pelos direitos dos homossexuais. Essa é uma luta que começa depois. Lutávamos especificamente pela coisa política, e a turma da contracultura lutava por certo liberalismo, pela liberdade de consumir drogas, pela emancipação sexual. Mas nós não lutávamos por essas outras questões. A juventude de hoje é pautada por valores que ainda não eram os da minha geração, como os direitos das minorias. São diferenças de causas determinadas pelos tempos. Nós tivemos de lutar pela liberdade de expressão. Os jovens de hoje não têm de lutar por ela. Mas têm de lutar contra a ditadura da mídia.


Sobre o cineasta
Tendler estima ter dirigido mais de 50 filmes: “Já perdi a conta". Dirigiu Glauber, o filme – labirinto do Brasil, por exemplo, que foi selecionado para exibição hors concours no Festival de Cannes. É também integrante do Conselho Superior da Fundação do Novo Cinema Latino-americano, que até então era presidida pelo escritor Gabriel García Márquez.

Desde 1978, Tendler é professor no Departamento de Comunicação da PUC-Rio. Atualmente, ministra o curso de Cinema e História no Departamento de Cinema. O conjunto de sua obra recebeu, em 2005, o Prêmio Salvador Allende, criado em 2003 pelo Festival de Cinema Latino-Americano de Trieste. Suas produções discutem temas como literatura, poesia, revolução, história, fotografia, meio ambiente e utopias. “Não sou um cineasta monocórdio”, garante.

(Ewerton Martins Ribeiro)

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