As inovações brasileiras na área de biotecnologia são gestadas em menos de 10% dos municípios do país – mais de 5,5 mil cidades nunca geraram um registro de patente. Das 40 que mais depositaram patentes, 29 apresentaram entre duas e 10 inovações, seis têm entre 11 e 20 pesquisas patenteadas, quatro (Brasília, Belo Horizonte, Campinas e Caxias do Sul) geraram entre 21 e 100 inovações e 419 foram registradas em Rio de Janeiro e em São Paulo. Esses números, além de ilustrarem a elevada concentração da produção de inovação técnico-científica, permitiram que uma equipe de pesquisadores do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Face, associasse a estrutura urbana das cidades ao número de patentes que elas já registraram. "O registro de uma patente é bom indicador da inovação tecnológica. Tínhamos uma base de dados que mostrava o número de patentes na área de biotecnologia registradas pelo INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), entre os anos de 1975 e 2008, e queríamos estabelecer conexões entre a ideia de atributos urbanos e a produção de inovação”, explica o professor Rodrigo Simões (em foto de Foca Lisboa/UFMG). O resultado da pesquisa, que se originou de uma monografia de graduação, está descrito no artigo Innovation, urban attributes and scientific structure: a Zero-Inflated-Poisson model for biotechnology in Brazil, que conquistou o Best International Paper Award, concedido pela Regional Studies Association. A equipe liderada pelo professor Rodrigo Simões procurou compreender como a estrutura urbana das cidades permite que elas se transformem em polos de inovação. Além de sediarem as principais universidades do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Campinas), os municípios de onde surgiu a maioria das patentes também contam com estruturas urbanas mais complexas e diversificadas. Segundo o professor, a produção de inovação sempre foi associada a um conjunto de fatores que integram a estrutura científico-tecnológica dos municípios, como centros de pesquisas, universidades e a presença de empresas de base tecnológica. A pesquisa realizada no Cedeplar transcende esses fatores, uma vez que investiga como os atributos urbanos são decisivos para a produção de inovação. Quatro atributos foram examinados pela equipe do Cedeplar: a escala urbana, a escala industrial, a complexidade do seu setor terciário e seu papel na hierarquia urbana brasileira (dado divulgado pelo IBGE) e o seu nível de inclusão digital e acesso à internet. “Esses atributos podem nos ajudar a explicar a ocorrência ou não de inovação quando analisados em conjunto com a existência de grupos de pesquisa, quantidade de doutores, universidades e empresas de base tecnológica”, afirma o pesquisador. A complexidade do setor terciário é considerada, por Simões, um dos pontos de maior peso. Ela é caracterizada por serviços que poucas pessoas demandam e, por isso, se concentram em poucos municípios. “Estamos falando de uma terceirização, que inclui áreas de alta qualificação, como logística, advogados, controlers e consultorias. São Paulo é um grande exemplo de cidade com terceiro setor complexo, e esse é um dos motivos que a levaram a ter o maior número de patentes registradas no país”, exemplifica. Só infraestrutura científica não basta “Para gerar inovação, é preciso melhorar o espaço urbano brasileiro, o que inclui investimento no transporte público, na saúde, na segurança e na inclusão digital. Ninguém quer morar em uma cidade onde não há bons hospitais, escolas e opções culturais de lazer, e isso é fator determinante para que nossa inovação continue concentrada na região centro-sul do país. Se queremos sistemas nacionais e regionais de inovação, a produção técnico-científica não pode estar tão concentrada em uma só parte do país”, conclui. Artigo: Innovation, urban attributes and scientific structure: a Zero-Inflated-Poisson model for biotechnology in Brazil (Luana Macieira)
Para o pesquisador do Cedeplar, a pesquisa conseguiu mostrar que apenas o investimento na capacidade técnico-científica das empresas e instituições de pesquisa não é suficiente para incrementar a inovação, uma vez que a infraestrutura física e de serviços das cidades é a maior responsável pela atração de pesquisadores e corpos técnicos qualificados.
Autores: Rodrigo Simões, Agda Martins e Sueli Moro
Artigo vencedor do Best International Paper Award, concedido pela Regional Studies Association e disponível aqui.