Levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS) constatou que 85% da população mundial já sentiu ou ainda vai sentir dor nas costas em algum momento da vida. No Brasil, um terço da população sofre com dores lombares, que afastam as pessoas do trabalho e as impedem de levar uma vida normal. Por muito tempo, a crença popular associou as mudanças climáticas a essas dores, o que até o momento não havia sido colocado em xeque pela ciência. Pesquisa realizada pela Universidade de Sydney em parceria com a UFMG comprovou que condições climáticas não têm efeito importante no desencadeamento da dor lombar aguda. Segundo o pesquisador brasileiro Daniel Steffen, ainda que a exposição ao vento possa aumentar as chances de desencadeamento de dor lombar aguda em pessoas que já apresentam tendência ao problema, a influência dessas mudanças climáticas é tão pequena que não pode ser considerada para fins clínicos. “Muitos pacientes sugerem que a dor apareceria em períodos de baixas temperaturas ou altas taxas de umidade (dias frios e chuvosos). Nosso estudo prova que temperatura, umidade relativa do ar, pressão e incidência de ventos não agem da forma como a crença popular acreditava”, diz Steffen, que cursou doutorado por meio de cotutela de tese, modalidade de intercâmbio da UFMG que permite a realização do seu trabalho sob a responsabilidade de um orientador no Brasil e outro no exterior. As conclusões foram obtidas por meio de estudo de caso-cruzado desenvolvido em clínicas de atendimento primário de Sydney, na Austrália. Foram observados 993 pacientes, de outubro de 2011 a novembro de 2012, que procuraram atendimento devido a episódios súbitos e agudos de dor lombar. Ao chegarem à clinica, os pacientes eram submetidos a entrevistas para a coleta de dados demográficos e clínicos. Os parâmetros meteorológicos (temperatura, umidade relativa do ar, pressão atmosférica, velocidade, rajada e direção do vento e taxa de chuvas) foram obtidos por meio do Bureau de Meteorologia Australiano. “A exposição aos parâmetros do tempo imediatamente antes do início da dor na coluna foram comparados com a exposição em dois períodos anteriores – uma semana e um mês antes do início do episódio. Dessa forma, podíamos perceber se a mudança do clima coincidia ou não com a ocorrência da dor”, explica Steffens. Segundo o pesquisador, há fatores não climáticos, como condições musculoesqueléticas, artrite reumatoide e levantamento de objetos pesados, além de outros de natureza psicológica (como o estresse), que podem ser atribuídos ao desencadeamento da dor lombar. Ele acrescenta que ampliar a compreensão dos fatores que aumentam esse risco é fundamental para a criação de métodos de prevenção e tratamento. “Os resultados da nossa pesquisa indicam aos profissionais de saúde e pacientes que outros fatores devem ser explorados ao buscarmos a causa das dores lombares. Portanto, as pessoas não devem se preocupar com as condições do tempo", garante Steffens. A pesquisa já foi encerrada, mas o doutorando ressalta a necessidade da realização de estudos clínicos com pacientes brasileiros. “Os dados foram coletados em Sydney, cidade de clima temperado. Não podemos descartar a possibilidade de que, em países com condições climáticas mais extremas, um resultado diferente seja obtido”, conclui. Parceria Artigo: Weather does not affect back pain: results from a case-crossover study
O artigo faz parte da tese de doutorado de Daniel Steffens, que será defendida no início de 2015. O trabalho desenvolvido pelo pesquisador foi publicado na Arthritis Care & Research, revista da American College of Rheumatology (ACR), e está sendo orientado, no Brasil, pela professora Leani Souza Máximo Pereira, do Departamento de Fisioterapia da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG. Na Austrália, o trabalho é supervisionado pelo professor Chris Maher, do The George Institute for Global Health, da Universidade de Sydney.
Autores: Daniel Steffens, Chris G. Maher , Qiang Li, Manuela Ferreira, Leani Pereira, Bart Koes e Jane Latimer.
Publicado na Arthritis Care & Research.
(Luana Macieira)