Fabíola de Paula/UFMG |
O Brasil vivenciou, ao longo das últimas décadas, significativas modificações em seu panorama demográfico. O aumento da expectativa de vida, a baixa fecundidade e a postergação da independência dos filhos geraram um cenário que se configura, por contingente crescente de adultos “comprimidos”, por um lado, pelas demandas dos filhos e, por outro, pelas necessidades de cuidados com os pais. A literatura especializada classificou essas pessoas de meia-idade como Geração Sanduíche (GS), e as mulheres são mais propensas a se imporem essas responsabilidades. Perfil As pesquisadoras também concluíram que as integrantes da GS no recorte etário de 40 a 50 anos são, em linhas gerais, casadas e economicamente inativas. Ou seja, o sustento financeiro da família cabe ao marido. “Há uma contrapartida por parte dos idosos, pois, na maioria das vezes, os avós contribuem em casa cuidando das crianças”, diz Jordana. Jornada flexibilizada (Matheus Espíndola)
A mestranda em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG Jordana Cristina de Jesus e sua orientadora, professora Simone Wajnman, escreveram artigo sobre a temática, com análise fundamentada no Censo Demográfico de 2010. O estudo Mulheres das gerações-sanduíche no Brasil: uma análise a partir de dados censitários será apresentado no 16º Seminário sobre a Economia Mineira, em Diamantina, nesta quinta-feira, 18.
“Para a pesquisa, tomamos como referência a faixa etária de 40 a 50 anos, quando a mulher ainda tem filhos jovens, mas seus pais já estão em idades mais avançadas”, explica Jordana. Ela destaca o fato de que as atividades de cuidados com os idosos cabem, em geral, às mulheres: acompanhá-los ao médico, alimentar, dar banho, levar ao banheiro, vestir, despir, calçar, entre outras.
Uma das descobertas decorrentes da pesquisa, segundo Jordana, diz respeito à faixa intermediária de nível financeiro predominante entre as mulheres da GS. “A mulher pobre não dispõe de recursos para custear despesas com assistência a idosos na família. Já as mais ricas podem contratar profissionais como enfermeiras e assistentes”, detalha.
Entre as mulheres da faixa de 30 e 40 anos, Jordana descobriu um aspecto que surpreendeu: “Diferentemente do que eu presumia, essas mulheres são ajudadas pelos pais idosos, pois estatisticamente não contam com renda do marido (não possuem cônjuge no domicílio), têm baixa escolaridade e estão no mercado de trabalho informal”, explica.
No plano das políticas públicas, Jordana sugere o estabelecimento de maior flexibilidade na jornada trabalhista para as mulheres da GS, como já ocorre em alguns países europeus, onde as empresas auxiliam os adultos que cuidam de pais idosos. “Na Inglaterra, há companhias que oferecem aos empregados, como benefícios, serviços de cuidados a idosos, como acompanhantes para serviços de saúde e cuidadores de emergência”, exemplifica.
Para Jordana, o envelhecimento populacional requer a compreensão de suas implicações, desafios e oportunidades. "Deve ser conferida atenção especial às mulheres da GS no planejamento de políticas públicas que considerem o novo cenário demográfico do país", avalia a pesquisadora.