O homem sai para caçar e a mulher cuida da caverna. Apesar de estereotipada, essa imagem ainda serve para ilustrar a clássica divisão sexual do trabalho, cujos alicerces permanecem firmes em pleno século 21, principalmente quando estão em jogo o sustento da família e o cuidado com as crianças que ficam em casa. Enquanto os homens tendem a se agarrar a seus empregos, as mulheres se sentem forçadas a abandoná-los. É o que revela o estudo Tempo de permanência no emprego e sua relação com a presença de criança no domicílio: análise de sobrevivência aplicada ao risco de desemprego de homens e mulheres adultos e assalariados da Região Metropolitana de Belo Horizonte, de autoria de Janaína Teodoro Guiginski e Simone Wajnman. O trabalho será apresentado no Seminário sobre a Economia Mineira, em Diamantina, nesta quinta, 18. Mestranda em Demografia pela Face, Janaína Guiginski se debruçou sobre os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) de 2013, levantamento quantitativo aplicado em 35.652 domicílios que abrigavam 19.687 moradores adultos, entre 25 e 49 anos, da Região Metropolitana de Belo Horizonte. A autora constatou que a presença de crianças em casa aumenta em 38% as chances de mulheres abandonarem o emprego ou serem demitidas. No caso dos homens, foi constatado o inverso: se existem crianças em seus lares, suas chances de ficarem desempregados são reduzidas em 30%. “Os resultados, apesar de esperados, deixam claro que a mulher é mais vulnerável no mercado de trabalho brasileiro. Ainda persiste a divisão sexual do trabalho, ou seja, a mulher que tem filhos, além de trabalhar fora, é a principal responsável pelo trabalho dentro do lar, cuidando da casa e das crianças”, explica Guiginski. O banco de dados analisado contou com entrevistas de homens e mulheres entre 25 e 49 anos que eram assalariados no trabalho atual ou no último emprego. Não foi considerada a quantidade de crianças dentro de casa nem seu parentesco com os adultos que trabalhavam para sustentar o lar. “Só nos interessava se essas crianças tinham até 12 anos de idade, o que implicaria a necessidade de cuidados realizados por um adulto, que, geralmente, apresenta vínculo empregatício mais fraco”, diz a pesquisadora. O estudo valeu-se da análise de sobrevivência, metodologia comumente aplicada na área de Epidemiologia, para medir taxas de mortalidade de uma população, por exemplo. No caso da pesquisa realizada no Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), o método foi aplicado de forma a identificar outras variáveis, como os fatores que aumentam o risco do desemprego. Segundo Janaína Teodoro Guiginski, idade e setor de atividade, além do sexo, têm ação direta na probabilidade de permanência no emprego das pessoas. “Se a pessoa é o chefe da família, vimos que ela fica mais tempo no emprego, mesmo que seja do sexo feminino. Isso prova que, além de ser homem ou mulher, a sua função dentro de casa também vai determinar a permanência da pessoa no emprego ou não”, afirma. Baixa permanência é prejudicial Janaina acrescenta que políticas de acesso a serviços de creche são fundamentais para que a baixa permanência das mulheres nos empregos seja minimizada. “A pesquisa pode auxiliar na defesa de políticas públicas que aumentem o acesso a esses serviços, o que é essencial para que a mulher consiga, mesmo depois de ter filhos, permanecer no emprego, da mesma forma que os homens”, conclui. Trabalho: Tempo de permanência no emprego e sua relação com a presença de criança no domicílio: análise de sobrevivência aplicada ao risco de desemprego de homens e mulheres adultos e assalariados da região metropolitana de Belo Horizonte O trabalho será apresentado no Seminário sobre a Economia Mineira no dia 18 de setembro. A programação completa do evento está disponível neste site. (Luana Macieira)
A rotatividade do brasileiro no emprego é alta, conclui pesquisa realizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2012. Os brasileiros mudam mais de emprego do que habitantes de outros países da Europa e América Latina. Para Janaína Guiginski, isso gera níveis baixos de produtividade e menores salários.
“Se permanece por mais tempo no emprego e fica estável, a pessoa ganha mais experiência e, consequentemente, aumenta seu salário. Se troca muito de emprego, não permanecendo em nenhum deles, ela não consegue crescer e se desenvolver na empresa”, afirma a mestranda.
Autoras: Janaína Teodoro Guiginski e Simone Wajnman