“O esforço de se pensar a trajetória econômica brasileira até a década de 50 ganha muita clareza na obra de Celso Furtado”, afirmou o professor da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG Alexandre Mendes, que coordenou a mesa-redonda que celebrou os 60 anos de publicação do primeiro livro de Furtado, Economia brasileira. “O livro surpreende logo no primeiro capítulo, que fala sobre cultura e inovação, pontos que seriam desdobrados ao longo de toda a sua obra”, completou. O professor Mauro Boianowsky, da Universidade de Brasília (UnB), lembrou que, posteriormente, Economia brasileira seria ofuscado pelas demais obras do economista. Boianowsky contou que o volume, custeado pelo próprio autor e publicado pela extinta editora A Noite, consistiu em uma “compilação de ensaios em que a economia brasileira foi interpretada à luz da teoria do desenvolvimento e da história econômica. O livro, jamais reeditado, marcou a emergência de uma nova área de estudos”, disse. A obra Em 1967, o autor foi convidado a reeditar o livro. Furtado recusou a proposta, mas decidiu reescrevê-lo, dando origem a outros dois volumes: Formação econômica do Brasil (1959) e Desenvolvimento e subdesenvolvimento (1961). “Desses também derivaram outras obras, mas tudo começou com Economia brasileira, em 1954”, explicou Boianowsky. Para o professor, o primeiro livro de Furtado estabeleceu uma nova agenda de pesquisa para os economistas brasileiros heterodoxos. “A obra definiu a economia brasileira como objeto de estudo, estabeleceu como ela deve ser estudada e qual teoria permite interpretá-la.”
Dedicado ao economista argentino Raul Prebisch, como relata Boianowsky, Economia Brasileira, em razão de seu caráter inovador, causou reação negativa por parte do subdiretor da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Celso Furtado acabou se afastando definitivamente da Cepal três anos depois.