Se, de um lado, o Plano Real foi extremamente bem-sucedido em relação ao controle da inflação, por outro, agravou a vulnerabilidade da economia brasileira diante de turbulências externas. Essa é avaliação do professor João Machado Borges, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que participou da mesa-redonda 20 anos de Plano Real, realizada na tarde de ontem, 17, no Seminário sobre a Economia Mineira, em Diamantina. Segundo o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Wilson Suzigan, mediador da atividade, a entrada em vigor do plano, em julho de 1994, foi acompanhada de altíssima elevação da taxa de juros reais e controle do câmbio como instrumento de promoção do equilíbrio fiscal. “A estabilização monetária efetivou-se, mas o equilíbrio fiscal não foi alcançado”, resumiu. O aumento da dívida pública e a fuga de capitais do país foram apontados pelo coordenador como implicações negativas da política fiscal inaugurada por Fernando Henrique. Decisivo nas eleições A crítica dos opositores do plano, como explica Borges, foi fundamentada, principalmente, na ancoragem cambial promovida na época, o que ocasionou relativa perda de autonomia monetária nacional. Em sua explanação, o professor Carlos Pinkusfeld Bastos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), discorreu sobre casos mundiais de superação da hiperinflação. “Vários países, em algum momento, resolveram a hiperinflação. Não é exclusividade nossa”, pontuou, acrescentando que o contexto de estabilização econômica brasileira foi precedido por grande fluxo de dinheiro que entrou no país. “Chovia dinheiro no mundo”, disse. No encerramento da conferência, o consultor Ricardo Gazel, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), fez um apanhado histórico das moedas que vigoraram no Brasil desde a época do Império. “Por conta de tantos ajustes no valor de nossa moeda, um real de hoje vale 2,75 quatrilhões de réis de 1942”, comparou.
“As deficiências do Plano não foram enfrentadas de forma consistente durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, tampouco nos 12 anos com o PT à frente. O primeiro não enxergava os problemas, e os sucessores adotaram medidas que os tangenciaram, como o aumento de exportações de produtos primários e a diplomacia mais participativa”, completou Borges.
João Machado Borges lembrou que o Plano Real foi o motor da eleição de Fernando Henrique Cardoso, seu mentor, à Presidência da República, em 1994. “Sua aprovação foi praticamente um consenso, exceto para a vertente derrotada no pleito”, comentou o professor.