Os despejos e as reintegrações de posse realizadas recentemente no centro de São Paulo reafirmam a falta de moradia como um crônico problema brasileiro – e ainda distante de uma solução definitiva. Segundo dados do Censo Demográfico de 2010, faltam quase sete milhões de domicílios no país, o que corresponde a mais de 12% das residências existentes. A região Sudeste concentra o maior percentual desse déficit: 38%, ou 2,674 milhões de unidades. O problema, sobretudo, é urbano: 85% da demanda estão nas cidades. No Sudeste, o estado de São Paulo é seguido por Minas Gerais na carência de moradias. Em Minas, faltam 557.371 residências – mais de 500 mil delas no espaço urbano. A fim de mapear, apresentar e discutir essa realidade, duas pesquisadoras da Fundação João Pinheiro (FJP) e um professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) desenvolveram o estudo Déficit habitacional nos municípios mineiros em 2010, um recorte para estado dos resultados da pesquisa Déficit habitacional municipal no Brasil 2010. As conclusões do estudo foram apresentadas ontem, 18, no 16º Seminário sobre a Economia Mineira, realizado em Diamantina. “Os resultados do nosso estudo mostram que o perfil do déficit habitacional nos municípios mineiros é bastante variado. Enquanto alguns deparam com grande número de domicílios precários, outros sofrem com os preços dos aluguéis, que afetam sobremaneira a população com rendimentos de até três salários mínimos”, afirmam os pesquisadores. “Em capitais como Belo Horizonte, por exemplo, destacam-se, entre os componentes do déficit, o ônus excessivo com o aluguel e a coabitação familiar”, particulariza a pesquisadora Raquel de Mattos Viana. Raquel Viana realiza pesquisas em Demografia na Fundação João Pinheiro (FJP) juntamente com Adriana de Miranda-Ribeiro, coautora do estudo e responsável por sua apresentação no Seminário de Diamantina. “Fica claro, diante dessa citada heterogeneidade, que há necessidade de adoção de políticas diferenciadas para amenizar os efeitos do déficit habitacional em cada localidade”, defendem as autoras no trabalho. Raquel explica, no entanto, que as posições de Minas Gerais no ranking do déficit habitacional brasileiro são antagônicas quando se leva em consideração as perspectivas absoluta e relativa do déficit. “Como Minas Gerais é um estado populoso, o déficit absoluto aqui é muito alto. Em São Paulo também é assim. O Sudeste, no geral, por ser uma região populosa, se sobressai nesse sentido. Já em relação à posição relativa, proporcional à população, Minas se destaca por ter um dos menores déficits do país”, afirma o estudo. Avanço gera demanda Déficit Habitacional nos municípios mineiros em 2010 foi desenvolvido em parceria com o Ministério das Cidades, com base nos dados do Censo Demográfico 2010. O trabalho também reúne números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento feito pelos pesquisadores só foi possível porque os dados dos censos demográficos brasileiros já permitem que o déficit habitacional seja calculado no plano municipal. Artigo: Déficit habitacional nos municípios mineiros em 2010 (Ewerton Martins Ribeiro)
Sérgio de Azevedo, professor da UENF que assina o trabalho com as duas pesquisadoras da FJP, alerta que os dados do déficit habitacional devem ser sempre apreciados levando-se em consideração a complexidade do contexto socioeconômico do país. “Como a situação econômica do Brasil melhorou nos últimos anos com o incremento do salário mínimo e de outros avanços, uma gama de pessoas de famílias conviventes, que antes afirmavam não desejar nem ter expectativa de mudar de casa, passaram a ter essa demanda, incrementando o déficit”, diz o professor.
Autores: Adriana de Miranda-Ribeiro, doutora em Demografia, Raquel de Mattos Viana, doutoranda em Demografia, e Sérgio de Azevedo, doutor em
Sociologia e professor da UENF