A balança comercial brasileira apresentou bom desempenho nos últimos 12 anos graças, em grande parte, ao aumento da demanda chinesa por commodities. “Isso aliviou a balança, que foi deficitária durante muitos anos”, analisa o professor Marcelo Pinho, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Ele participou, na tarde desta sexta-feira, da mesa-redonda Desenvolvimento, inserção externa e empresas transnacionais. O economista explicou que, em decorrência da crise econômica mundial de 2008, houve deflação abrupta de alguns artigos. “A recuperação também foi rápida, pois, em dois anos, a maioria dos preços das nossas exportações foi restabelecida”, disse. Marcelo Pinho apresentou gráficos que retratam o aumento do consumo chinês de materiais básicos, como carnes, pescados e papel, em comparação com os Estados Unidos e países do G-7. Ele observou que os dados denotam o enorme grau de “materialização da economia chinesa”, aspecto ainda mais evidente no tocante às commodities utilizadas para o crescimento da estrutura do país, por exemplo cimento e aço. “Em 10 anos, a China construiu a maior rede de trens-bala do mundo. Lá também estão as maiores pontes, viadutos e outras obras da construção civil. O investimento para realização dos Jogos da Juventude [sediado em Nanquim no mês passado], evento considerado secundário, certamente não será superado pelo que está sendo feito para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016”, argumentou. Em sua conclusão, Marcelo Pinho destacou que a economia brasileira “gostemos ou não, tem inserção externa calcada em commodities”. “Numa perspectiva de longo prazo, o sucesso dessa política depende da possibilidade de que outros países carentes de recursos naturais estabeleçam trajetória de crescimento semelhante à da China, baseado em dinamização do mercado”. Cadeias de valor Para ele, a integração às cadeias é geralmente viável para países em desenvolvimento. No caso do Brasil, Hiratuka considera que “chegamos um pouco atrasados”. “As cadeias já estão maduras o suficiente, em patamar avançado, por isso a inserção é muito difícil”, opinou o economista da Unicamp.
Outro participante da conferência, o economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Célio Hiratuka, abordou possibilidade de solução da crise da indústria brasileira com base no estabelecimento de cadeias globais de valor [conjunto de atividades industriais que integra atores de origens diversas nas relações com os fornecedores, ciclos de produção, venda e distribuição].