Ao ser acometido por um dos quatro sorotipos conhecidos do vírus da dengue, o organismo humano desenvolve anticorpos que não o protegem dos outros três tipos e ainda aumentam no paciente a chance de desenvolver dengue grave, confirma a tese de Vivian Vasconcelos Costa [foto], escolhida como a melhor no grupo de Grandes Áreas de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde. A pesquisadora também desenvolveu modelo animal inédito que reproduz os sintomas da forma grave da doença. Desenvolvida no âmbito da rede que compõe o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Dengue (INCT em Dengue), a pesquisa identificou moléculas associadas tanto ao aumento da gravidade da doença quanto à proteção do hospedeiro contra o dengue. “A pesquisadora encontrou moléculas, como os interferons dos tipos 1 e 2, associados à proteção, pois minimizam o dano e tentam controlar a quantidade de vírus. Além disso, identificou outras associadas à gravidade da doença, a exemplo da proteína bradicinina”, explica a orientadora da tese, professora Danielle da Glória de Souza. Ela ressalta a importância da pesquisa básica sobre uma enfermidade que continua sem tratamento, apesar do aumento do número de casos. “Pode-se dizer que há tantos casos de dengue grave porque ainda não conseguimos entender a fisiopatologia da doença”, pondera. O modelo experimental montado por Vivian Costa já vem sendo usado em outros estudos e pode ajudar a encontrar respostas às várias perguntas suscitadas pela enfermidade. A pesquisa revela que, além de não neutralizar os outros tipos de vírus da doença, os anticorpos produzidos pelo hospedeiro ainda facilitam a entrada do micro-organismo nas células, ambiente em que ele consegue ativar toda a sua maquinaria. “Tais anticorpos são soroneutralizantes apenas para aquele sorotipo, ou seja, a pessoa não voltará a ter o mesmo tipo de dengue. Mas são também subneutralizantes para os demais sorotipos, isto é, marcam o vírus sem conseguir anulá-lo para que seja morto pelo sistema imune”, explica a orientadora. Assim, quando a pessoa é infectada sucessivamente por sorotipos diferentes, aumenta a probabilidade de ela ter a dengue em sua forma mais grave. De acordo com Danielle Souza, qualquer que seja o sorotipo que a causou, a doença pode se manifestar da forma clássica, em que é facilmente confundida com gripe; assintomática, em que a pessoa não percebe que está doente; ou grave, na qual cerca de 5% dos casos resultam em morte. “Tais diferenças da gravidade podem estar associadas a fatores do vírus ou do hospedeiro”, esclarece a professora do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas. Colaboração “Naquele período, iniciei estudos com o modelo humanizado de infecção pelo vírus da dengue e consegui estabelecer laços que me abririam novas oportunidades para a realização de um futuro pós-doutorado”, comenta a pesquisadora. Seu atual projeto, Modelo humanizado como ferramenta de estudo da imunopatogênese da infecção pelo dengue vírus, com duração de dois anos, vem sendo desenvolvido na Singapore Massachusetts Institute of Technology Alliance for Research and Technology (Smart Centre), e é fruto de parceria entre o Massachusetts Institute of Technology (MIT), situado em Boston (Estados Unidos), e a National Research Foundation of Singapore. Vivian Costa é bolsista de pós-doutorado pelo programa Ciência sem Fronteiras do governo federal, por meio do INCT em Dengue, como colaboração entre a UFMG e o Smart Centre. “Tenho dado continuidade aos estudos que desenvolvi durante o mestrado e o doutorado na UFMG, agora no contexto de um sistema imune humano”, explica. Tese: Mecanismos de proteção versus doença na resposta do hospedeiro frente à infecção pelo dengue vírus em camundongos (Ana Rita Araújo/Boletim 1881)
Graduada em fisioterapia pelo Centro Universitário de Belo Horizonte, Vivian Costa fez iniciação científica, mestrado e doutorado na UFMG. Atualmente desenvolve pesquisa de pós-doutorado em Cingapura, onde realizou, de setembro a dezembro de 2012, doutorado-sanduíche.
Autora: Vivian Vasconcelos Costa
Orientadora: Danielle da Glória de Souza, coordenadora do Laboratório interação microorganismo-hospedeiro
Coorientador: Caio Tavares Fagundes, pesquisador do Departamento de Microbiologia do ICB
Colaborador: Mauro Martins Teixeira, coordenador do INCT em Dengue e professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB
Defesa: junho de 2013, no Programa de Pós-graduação em Microbiologia do ICB