Universidade Federal de Minas Gerais

Tese da Fafich propõe terceira via para solucionar impasse entre realistas e empiristas na filosofia da ciência

sexta-feira, 31 de outubro de 2014, às 5h48

Até que ponto podemos acreditar no que diz a ciência? Ainda que os modelos que explicam fenômenos físicos, químicos e biológicos pareçam bons, estamos autorizados a tomar tais explicações como verdade? No universo da filosofia da ciência, há dois posicionamentos principais: os realistas defendem que sim, se a explicação é boa, deve ser assumida como verdadeira. Os antirrealistas, ou empiristas, são mais cautelosos e lembram que muitas teorias foram desmentidas com o tempo.

Segundo Fábio Tenório de Carvalho, um dos vencedores do Prêmio UFMG de Tese 2014, se esse impasse fundamental persiste, é porque a questão não está posta da forma correta. Em seu trabalho, defendido no ano passado na UFMG e na Université Paris I Panthéon Sorbonne, ele propõe a substituição dos pressupostos da discussão.

Para elaborar sua proposta, Fábio fez uma leitura renovada de Immanuel Kant (1724–1804), à luz do estado da arte da ciência. Para Kant, a ciência se compõe de regras que não descrevem a coisa dada, mas que constroem a realidade. “O discurso cria o fenômeno. Isso parece esquisito no domínio do cotidiano, mas faz sentido quanto às coisas que não são visíveis a olho nu. Fóton e elétrons existem ou não?”

Carvalho atualiza o filósofo alemão, por exemplo, quando causa e efeito são tratadas não como categorias universais e permanentes, mas como mutáveis ao longo da história, devido à interação do ser humano com o entorno, ou seja, à reflexão. "O discurso da ciência, antes de nos dizer o que é o real em si mesmo, exprime, sobretudo, nosso modo de interagir com ele”, diz Fábio de Carvalho.

A proposta da tese adota a abordagem que o francês Michel Bitbol, da Université Paris 1, coorientador da tese, que teve orientação principal da professora Patricia Kauark, da Fafich, batizou de pragmatismo transcendental. Diferentemente de Kant, que afirmou que a mente constrói o mundo, o filósofo francês se baseia na ideia de que o mundo se constrói pelas ações humanas.

“O significado do que nós dizemos deve ser buscado no modo como usamos a linguagem em nossas interações sociais. Isso vale também para o discurso científico. Esse é o lado pragmático da abordagem”, explica Fábio de Carvalho. Para Bitbol, Kant identificou um mecanismo de construção transcendental do mundo pertinente para a física do século 18, mas seu método de análise filosófica continua atual e ainda mais abrangente quando aplicado à física contemporânea. Esse é o lado transcendental da teoria de Michel Bitbol.


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“Depois de examinar os principais argumentos de realistas e antirrealistas, concluí que estes últimos têm razão quando afirmam que o modelo da Inferência à Melhor Explicação – em que se escolhe a explicação mais plausível – é inadequado para descrever como raciocinamos e também não consegue mostrar a ligação entre as qualidades de uma explicação e a verdade. Os realistas, por outro lado, acertam quando consideram que existe relação entre as qualidades de uma explicação e a verdade, mas não foram bem-sucedidos em mostrar qual é essa relação”, afirma Fabio Carvalho (na foto de Foca Lisboa).

Equivalência em Kant
A abordagem pragmático-transcendental é pragmática na medida em que se concebe a atividade científica como um jogo, um tipo de interação social que envolve ações e consequências, segundo conceitos de filósofos como Charles Peirce e Ludwig Wittgenstein. Algumas regras desse jogo foram sendo elaboradas, modificadas ou abandonadas ao longo da história. “O lado transcendental vem do modo como se interpretam as regras”, afirma o filósofo.

Segundo o pesquisador, podem-se considerar dois tipos de regras para a atividade científica: as definidoras, que estipulam o que é possível e o que não é possível fazer, e as estratégicas, que indicam as melhores decisões a tomar, dadas as situações. “O que fiz foi propor que esses dois tipos de regras equivalem ao que Kant, na Crítica da razão pura, chamou de princípios constitutivos e princípios regulativos do conhecimento humano.”

A respeito de suas conclusões, Fábio de Carvalho explica que, quando se identificam os critérios de escolha da melhor explicação com as regras estratégicas – os princípios regulativos – do jogo científico, a abordagem transcendental mostra que esses critérios não exprimem apenas preferências pessoais arbitrárias dos cientistas.

“O método transcendental de Kant nos ajuda a entender que os critérios da escolha da melhor explicação são imprescindíveis para indicar os caminhos que vale a pena trilhar para continuar perseguindo o principal objetivo epistemológico do jogo, que é compreender a realidade”, diz Fábio de Carvalho. “Desse modo, o método pragmático-transcendental possibilita ligar as duas pontas do problema: os critérios de escolha da melhor explicação e a relação desses critérios com a verdade.”

Tese: Inferir explicações e explicar inferências: uma abordagem pragmático-transcendental da Inferência à Melhor Explicação
Autor: Fábio Tenório de Carvalho
Orientadora: Patricia Kauark Leite
Coorientador: Michel Bitbol
Defesa: março de 2013, no Programa de Pós-graduação em Filosofia

(Itamar Rigueira Jr./Boletim 1881)

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