No ano do centenário do nascimento da escritora mineira Carolina Maria de Jesus (1914-1977), há outro motivo para comemorar o marco: acabam de ser doados ao Acervo de Escritores Mineiros (AEM), na UFMG, microfilmes com cópias dos cadernos em que a escritora criava suas histórias. Trata-se de material raríssimo, uma grande coleção da qual só existem outras duas outras cópias no mundo, nenhuma em universidade. A doação resulta agora na criação da Coleção Especial Carolina Maria de Jesus, que será incorporada ao AEM. Em comemoração à doação e à efeméride, será realizada na próxima segunda-feira, 3, a mesa-redonda Carolina Maria Jesus na UFMG. Participam o historiador José Carlos Sebe Bom Meihy, professor da USP que doou o material, e o pesquisador Sergio da Silva Barcellos, que atualmente se dedica à escrita diarística de Carolina Maria de Jesus em pesquisa realizada no âmbito do Prêmio Funarte de Arte Negra, com foco no estabelecimento do real montante de seu acervo. O evento será realizado no auditório 1007 da Fale, às 19h, com entrada franca, limitada à capacidade do auditório. A mesa-redonda está sendo promovida pelo Centro de Estudos Literários e Culturais (Celc) e pelo Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade (Neia), com apoio da Fale. No encontro, os pesquisadores falarão sobre os arquivos da autora e o legado que sua produção deixou para a literatura brasileira. Momento histórico O professor Marcelino Rodrigues da Silva, diretor do Acervo de Escritores Mineiros, comemora a novidade. “Receber o acervo é muito importante. A obra e a trajetória de Carolina Maria de Jesus são reconhecidas internacionalmente. Além disso, o material colabora para o alargamento do escopo do Acervo de Escritores Mineiros”, afirma. Além dos microfilmes, será incorporado ao acervo uma cópia do documentário alemão Favela – A vida na pobreza (Favela – Das leben in armut), até há pouco tempo inédito no Brasil. Narrado em alemão, ele está sendo legendado em português pelo professor Georg Otte, professor da Letras e pesquisador do AEM. Acervo de Escritores Mineiros É que fora do campo de visão do visitante há uma série de documentos arquivados: são acervos não só desses escritores, como também de nomes do passado e do presente como Carlos Herculano Lopes, Lúcia Machado de Almeida, Octávio Dias Leite e Wander Piroli. Os acervos contêm livros em exemplares raros e com as revisões feitas manualmente pelos próprios autores, documentos, como manuscritos de textos publicados e inéditos, além de cadernetas de anotações, periódicos, fotografias e cartas, além de objetos como obras de arte, mobiliário, adornos, entre outros. Também estão sendo organizados acervos e coleções de Frei Betto (com Maria Stella Libânio Christo), Antônio Barreto, Affonso Ávila e Laís Corrêa de Araújo.
Eduardo de Assis Duarte, professor da Faculdade de Letras que intermediou a doação, considera o recebimento do acervo um acontecimento histórico para a UFMG. “Carolina é conhecida como a autora de um diário, Quarto de despejo, mas ela é uma escritora infinitamente maior do que ele. Há vários originais de ficção não publicados neste acervo. A doação à UFMG possibilitará que essa obra ficcional e inédita seja publicada”, diz.
O recebimento da coleção de Carolina faz lembrar que o Acervo de Escritores Mineiros é muito mais do que aquilo que vê o estudante que transita pelo terceiro andar da Biblioteca Universitária (Biblioteca Central) e depara com as representações cenográficas dos ambientes de trabalho de Henriqueta Lisboa, Oswaldo França Júnior, Cyro dos Anjos, Murilo Rubião, Fernando Sabino e Abgar Renault.