Pesquisadores da UFMG desenvolveram dispositivo que, em contato com a água e a radiação solar, impede a eclosão dos ovos do mosquito Aedes aegypti e mata as larvas recém-nascidas. Trata-se de um tijolo de concreto autoclavado tratado quimicamente, cuja densidade é menor que a da água, o que o faz flutuar. A novidade é que a tecnologia contribui também para a eliminação dos vetores de outras doenças que se originam em fase aquática. Assim, além da dengue, o tijolo combate a malária e as febres amarela, chikungunya e do Nilo Ocidental. A febre chikungunya chegou ao Brasil recentemente e já registrou grande número de casos. Quanto à febre do Nilo, o primeiro caso foi confirmado no Brasil em dezembro de 2014, em um agricultor do interior do Piauí. Ambientalmente correto “Nossa intenção era trabalhar um processo ambientalmente correto e que contribuísse com os métodos e tecnologias já disponíveis para evitar a proliferação da dengue”, conta o professor Jadson Belchior, do Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas da UFMG, coordenador da pesquisa, iniciada em maio de 2013, também conduzida pelo professor Luiz Carlos Alves de Oliveira, dois doutorandos, um pós-doutorando e uma aluna de graduação. Belchior explica que a larva irrompe quando o ovo encontra um local propício para se desenvolver. Além de água limpa, ela precisa de material orgânico e oxigênio. A proposta foi criar um mecanismo que não deixasse a larva eclodir ou não permitisse o desenvolvimento das já formadas, matando-as por asfixia ou por falta de alimentação, uma vez que exterminar o mosquito é mais difícil. Segundo o professor Luiz Carlos, depois de receber tratamento químico, geralmente cortado em cubos ou tabletes, o tijolo reage na superfície da água por meio de um processo fotocatalítico – que necessita de radiação solar. No momento em que ocorre a combinação de água, luz e tablete, o produto – uma solução de óxido de ferro impregnado no tijolo na forma de hematita – é liberado, evitando a proliferação. A tecnologia pode ser utilizada em qualquer lugar onde houver a possibilidade de acúmulo de água, como vasos de plantas, calhas e caixas d’água. Sem água ou luz, o dispositivo não entra em atividade, pois é preciso ocorrer a combinação das duas condições para desencadear a ação. Manta flexível Jadson Belchior afirma que o dispositivo, em princípio, tem vida útil média de quatro a cinco meses. Quando está inerte por falta de água ou luz, o material não perde as características. “Havendo água e luz continuamente, a durabilidade é de cerca de quatro meses. Se, por exemplo, houver um intervalo de dois meses na atividade, a durabilidade sobe para seis meses”, salienta. Com relação à concentração, o professor diz que, em uma caixa d’água de 200 ou 500 litros, o ideal é que a superfície seja coberta pelo material. O princípio ativo utilizado não é nocivo à saúde humana nem afeta a potabilidade da água. A aprovação da tecnologia está em tramitação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os dois depósitos de patentes – relativos ao tratamento químico do tijolo e da manta – foram protocolados em março e em maio de 2014, respectivamente. Agora, a pesquisa está direcionada à otimização da potência da tecnologia, visando à utilização de quantidades menores do produto e com maior eficiência. O processo é barato. Para se produzir, em laboratório, em torno de mil tijolinhos cúbicos (2 cm³), gastam-se aproximadamente R$ 2, incluindo matéria-prima, reagentes e energia. “As matérias-primas são encontradas em abundância na natureza, e o suporte também é de baixo custo. Acreditamos que a tecnologia chegará ao mercado também a um preço acessível”, prevê o professor Luiz Carlos. A fabricação é simples, acrescenta Jadson. “Todo o processo gasta dois dias, mas vislumbramos a possibilidade de que esse tempo possa ser reduzido ainda mais”. A pesquisa desenvolvida pela UFMG é financiada pela empresa Vértica Serviços e Tecnologia Eireli. O financiamento – cerca de R$ 420 mil, nessa fase de pesquisa de bancada, com aportes semestrais – termina em fevereiro de 2016. As amostras de ovos do mosquito Aedes aegypti empregadas nos testes são fornecidas pela Secretaria de Saúde de Belo Horizonte. (Assessoria de Imprensa da UFMG)
O grupo de pesquisadores da UFMG estudou o processo de proliferação do Aedes aegypti e verificou que, após a ovulação, os ovos eclodem e formam larvas, que se desenvolvem em pupas. As pupas se transformam rapidamente em um mosquito – de seis a 12 horas.
Em um segundo momento do processo de desenvolvimento da tecnologia, os pesquisadores se voltaram para outra questão: em alguns locais, como calhas, o material poderia não ser o formato mais adequado para utilização. Foi desenvolvida uma manta flexível de tecido sintético com as mesmas propriedades químicas dos tabletes, mas que facilita a adaptação a determinadas estruturas, já que assume o formato e adere à superfície em que for colocado.