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Há 25 anos, um grupo de pesquisadores da UFMG investiga os fatores que geram predisposição para ocorrência de tumores em plantas. No artigo Unexpected high diversity of galling insects in the Amazonian Upper Canopy: the savana out there, publicado na revista PLOS One, a equipe descreveu sua última descoberta: as plantas que vivem na parte mais alta da floresta amazônica têm a mesma predisposição a tumores que as que compõem formações vegetais de savana, bioma muito mais seco que o amazônico. “Apesar de a Amazônia possuir uma formação vegetal muito úmida, percebemos que, na parte mais alta da floresta, também chamada dossel, existe uma formação de savana. É uma camada da floresta extremamente seca, com altas temperaturas e que submete a vegetação a elevadas condições de estresse”, explica o professor Geraldo Wilson Fernandes, do Departamento de Biologia Geral do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. Em pesquisas anteriores, o professor já havia observado que espécies que vivem sob condições severas de estresse ambiental, como escassez de água ou nutrientes, estão mais sujeitas a tumores. Assim como nos animais, o câncer age de forma parasitária sobre o organismo da planta, podendo provocar sua morte. “Uma planta estressada é aquela que sofre com falta de água, nutrientes e sais minerais e com o excesso de sol. Suas células passam a não ‘conversar’ mais e, por isso, não conseguem ativar o sistema imunológico de forma eficiente para destruir o tumor”, detalha Fernandes. A equipe do professor Geraldo Fernandes já havia realizado testes em diversas outras formações vegetais, como o cerrado e a mata atlântica brasileira e as savanas norte-americanas. Segundo ele, a grande descoberta da última etapa da pesquisa está associada ao fato de que a floresta amazônica possui trechos que se comportam como savana, onde a vegetação é submetida à falta de água e ao excesso de radiação solar. “No cerrado, isso já era evidente. Sabíamos que aquele ambiente era estressante e que, por isso, a incidência de câncer em espécies de cerrado era alta. A Amazônia foi o último bioma onde analisamos a relação entre estresse e tumores. O mais interessante foi constatar que o ambiente favorável ao câncer das plantas só ocorre em uma parte muito específica da floresta, no seu topo”, afirma. Segundo Fernandes, a explicação para a existência dos tumores em vegetações do topo da floresta é simples: “Trata-se da parte mais estressada da floresta. Apesar da grande quantidade de chuvas, a umidade desaparece rapidamente, devido à forte incidência solar. As folhas do dossel da floresta amazônica também são muito duras, o que dificulta a vida de inimigos naturais que poderiam eliminar os tumores, que, nesse ambiente hostil, têm mais chances de parasitar as plantas.” Relevância econômica Segundo o professor Geraldo Fernandes, o estudo é muito importante porque o planeta está passando por mudanças climáticas e aumento da temperatura global. “No futuro, as plantas vão sofrer mais porque estarão sujeitas a mais estresse. Pesquisas como esta ajudam a buscar métodos para proteger as plantas de importância econômica (milho, sorgo, trigo e soja) dos tumores que podem destruir plantações inteiras”, argumenta o pesquisador. Os pesquisadores pretendem, ainda, investigar as respostas imunológicas das plantas com o objetivo de desenvolver métodos que as deixem menos vulneráveis ao câncer. “Os tumores indicam que o clima está mudando e para pior. Investigar as mudanças da biota da Terra é essencial para que as próximas gerações assegurem suas produções agrícolas e qualidade de vida”, conclui o professor Geraldo Wilson Fernandes. Artigo: Unexpected high diversity of galling insects in the Amazonian Upper Canopy: the savana out there (Luana Macieira / Boletim 1891)
Para as análises, foram coletadas mais de duas mil espécies do dossel da floresta amazônica. O trabalho, realizado em parceria com a UFMG pela pesquisadora Genimar Julião, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), durou quatro anos, dando origem à sua tese de doutorado.
Autores: Genimar Julião, Eduardo Venticinque, Geraldo Wilson Fernandes e Peter Price.
Publicado na revista PLOS One, em dezembro de 2014