Universidade Federal de Minas Gerais

Tese da Fale investiga 'niilismo galhofeiro' na obra de Machado de Assis

sexta-feira, 27 de março de 2015, às 5h49

rio%20antigo.jpg A visão de Dostoiévski sobre os niilistas inspira o título do romance Os demônios, de 1872. Anarquistas e terroristas, os personagens do escritor russo incendeiam uma cidade, destroem casas e matam pessoas. Em crônica publicada na Gazeta de Notícias, em 1885, Machado de Assis leva um revolucionário russo, armado com bombas, a confundir um baile com uma reunião secreta no Rio de Janeiro, e o personagem termina a noite dançando.

O filósofo Vitor Cei, que acaba de defender tese na área de estudos literários, conta essa história para ilustrar a forma como Machado de Assis tratou o niilismo em sua obra: pessimismo e descrença como filosofia de vida foram motivo de galhofa na pena do romancista carioca. Para o autor, Machado “conjuga filosofia e literatura de tal forma que conteúdo filosófico e forma literária tornam-se indissociáveis”.

“Desde o século 19, os críticos acusam Machado, ou sua obra, de niilismo. No entanto, não havia um estudo mais profundo e sistemático sobre o tema”, afirma Vitor Cei. “Ele tinha consciência aguda da complexidade desse problema filosófico do século 19 e o discutiu, mas não era, ele próprio, niilista. Seus personagens que apresentam essa característica nada tinham de exemplares, não inspiravam respeito ou admiração, eram antes desprezíveis e risíveis.”

O pesquisador ressalta que pensar o niilismo em Nietzsche ou em Dostoiévski não é a mesma coisa que analisar a questão em Machado de Assis. Ele lembra que o próprio Nietzsche apontou diferenças entre o niilismo europeu, o russo e o do budismo, por exemplo. “A influência europeia no Brasil não impediu que o niilismo tivesse características próprias por aqui. Eram realidades diferentes, e as histórias de Machado refletiram isso”, afirma Vitor Cei.

Ele revela que Machado de Assis faz referência ao pessimismo presente na Bíblia, sobretudo no livro de Eclesiastes, e que o escritor leu Pascal, filósofo cristão, e Schopenhauer, que para Nietzsche exerceu grande influência sobre os russos. “Machado mostra como o pessimismo de Pascal leva ao niilismo e, claramente, não leva o pessimismo de Schopenhauer a sério”, diz o autor da tese.

Metáforas
Vitor Cei analisou cinco romances de Machado de Assis, que dividiu em dois grupos. Quincas Borba (1891) e Esaú e Jacó (1904), escritos em terceira pessoa, têm em comum a força do contexto, em tempos de modernização do Rio de Janeiro [em foto de 1899, de autoria de Marc-Ferrez/France Diplomatie]. O niilismo aparece na forma do esgotamento ou da negação de valores, relacionados ao fim da sociedade escravista, à passagem para o capitalismo e ao surgimento da divisão de classes, de acordo com o autor.

Nos outros três romances – Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Dom Casmurro (1899) e Memorial de Aires (1908) –, o ­pesquisador encontrou o niilismo nas memórias dos narradores. “No caso de Bento Santiago, de Dom Casmurro, a característica aparece na forma de ressentimento, da necessidade de transferir a culpa para o outro. O Conselheiro Aires, do último romance de Machado, por sua vez, tem poucas relações de amizade e é incapaz de amar, embora seu ascetismo seja bem-humorado”, explica Vitor Cei.

O pesquisador observa também que, em seus romances, Machado não fala explicitamente em niilismo. Ele usa e abusa das metáforas. “A voluptuosidade do nada”, que Cei incorporou ao título de sua tese, está em Memórias póstumas; “o prazer das dores velhas” ajuda a descrever o espírito de Bentinho; “a vida é um ofício cansativo” traduz à perfeição o caráter do Conselheiro Aires. Em Quincas Borba, Machado oferece pérolas como “arquitetura de ruínas” e “o naufrágio da existência”. De Esaú e Jacó, por fim, o autor da tese destaca a passagem “o tempo é um tecido invisível em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma dama, um castelo, um túmulo. Também se pode bordar nada. Nada em cima de invisível é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro”.

Tese: A voluptuosidade do nada: o niilismo na prosa de Machado de Assis
De Vitor Cei
Orientador: Marcus Vinicius de Freitas
Defesa: 26 de fevereiro de 2015
Programa de Pós-graduação em Estudos Literários, da Fale

(Itamar Rigueira Jr./Boletim 1896)

05/set, 13h24 - Coral da OAP se apresenta no Conservatório, nesta quarta

05/set, 13h12 - Grupo de 'drag queens' evoca universo LGBT em show amanhã, na Praça de Serviços

05/set, 12h48 - 'Domingo no campus': décima edição em galeria de fotos

05/set, 9h24 - Faculdade de Medicina promove semana de prevenção ao suicídio

05/set, 9h18 - Pesquisador francês fará conferência sobre processos criativos na próxima semana

05/set, 9h01 - Encontro reunirá pesquisadores da memória e da história da UFMG

05/set, 8h17 - Sessões do CineCentro em setembro têm musical, comédia e ficção científica

05/set, 8h10 - Concerto 'Jovens e apaixonados' reúne obras de Mozart nesta noite, no Conservatório

04/set, 11h40 - Adriana Bogliolo toma posse como vice-diretora da Ciência da Informação

04/set, 8h45 - Nova edição do Boletim é dedicada aos 90 anos da UFMG

04/set, 8h34 - Pesquisador francês aborda diagnóstico de pressão intracraniana por meio de teste audiológico em palestra na Medicina

04/set, 8h30 - Acesso à justiça e direito infantojuvenil reúnem especialistas na UFMG neste mês

04/set, 7h18 - No mês de seu aniversário, Rádio UFMG Educativa tem programação especial

04/set, 7h11 - UFMG seleciona candidatos para cursos semipresenciais em gestão pública

04/set, 7h04 - Ensino e inclusão de pessoas com deficiência no meio educacional serão discutidos em congresso

Classificar por categorias (30 textos mais recentes de cada):
Artigos
Calouradas
Conferência das Humanidades
Destaques
Domingo no Campus
Eleições Reitoria
Encontro da AULP
Entrevistas
Eschwege 50 anos
Estudante
Eventos
Festival de Inverno
Festival de Verão
Gripe Suína
Jornada Africana
Libras
Matrícula
Mostra das Profissões
Mostra das Profissões 2009
Mostra das Profissões e UFMG Jovem
Mostra Virtual das Profissões
Notas à Comunidade
Notícias
O dia no Campus
Participa UFMG
Pesquisa
Pesquisa e Inovação
Residência Artística Internacional
Reuni
Reunião da SBPC
Semana de Saúde Mental
Semana do Conhecimento
Semana do Servidor
Seminário de Diamantina
Sisu
Sisu e Vestibular
Sisu e Vestibular 2016
UFMG 85 Anos
UFMG 90 anos
UFMG, meu lugar
Vestibular
Volta às aulas

Arquivos mensais:
outubro de 2017 (1)
setembro de 2017 (33)
agosto de 2017 (206)
julho de 2017 (127)
junho de 2017 (171)
maio de 2017 (192)
abril de 2017 (133)
março de 2017 (205)
fevereiro de 2017 (142)
janeiro de 2017 (109)
dezembro de 2016 (108)
novembro de 2016 (141)
outubro de 2016 (229)
setembro de 2016 (219)
agosto de 2016 (188)
julho de 2016 (176)
junho de 2016 (213)
maio de 2016 (208)
abril de 2016 (177)
março de 2016 (236)
fevereiro de 2016 (138)
janeiro de 2016 (131)
dezembro de 2015 (148)
novembro de 2015 (214)
outubro de 2015 (256)
setembro de 2015 (195)
agosto de 2015 (209)
julho de 2015 (184)
junho de 2015 (225)
maio de 2015 (248)
abril de 2015 (215)
março de 2015 (224)
fevereiro de 2015 (170)

Expediente