Acervo da pesquisa |
A expressão catch up, do inglês, é muito usada por economistas quando o assunto é o grau de desenvolvimento dos países. É comum se falar do esforço daqueles que estão atrás da fronteira tecnológica para alcançar (catch up) o nível dos países desenvolvidos. E esse esforço está estreitamente relacionado a amplo estudo internacional, que acaba de ser divulgado em livro, sobre a importância da interação de universidades e empresas para a construção dos chamados sistemas nacionais de inovação. A pesquisa, levada a cabo por consórcio que tem participação da UFMG, mostrou o papel fundamental das universidades na rede de relações entre diversos agentes que tem como resultado a inovação e impulsiona os países na direção do desenvolvimento. O trabalho, que cruza dados de 12 nações da Ásia, África e América Latina, com níveis distintos de desenvolvimento, tem seus resultados descritos no livro Developing national systems of innovation – University-industry interactions in the global South, organizado por Eduardo Albuquerque, professor da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG e pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), Wilson Suzigan, professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, Glenda Kruss, do Conselho de Pesquisa em Ciências Humanas da África do Sul, e Keun Lee, da Universidade Nacional de Seul, na Coreia do Sul. “Não é possível pensar em catch up sem dar atenção às universidades, sempre nos contextos local e internacional, considerando sua interação com a indústria e a cooperação entre as próprias instituições”, afirma o professor Gustavo Britto, da Face, que participa da pesquisa e coassina um dos capítulos do livro. O trabalho é financiado pelo International Development Research Center (IDRC), com sede no Canadá, e a participação da UFMG também foi viabilizada pelo projeto Ingineus, fruto de acordo da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) com a Comissão Europeia. Os capítulos da obra refletem as diferentes formas de interação. Na África, muito heterogênea, observa-se ampla variedade de relações. Na Ásia, por sua vez, a cultura de cooperação internacional está mais arraigada. “Coreia do Sul, China e Índia foram muito bem-sucedidos no esforço de emparelhamento com os países desenvolvidos. Na Coreia, o intercâmbio é muito comum, empresas financiam pesquisas, e iniciativas como parques tecnológicos estão consolidadas”, afirma Gustavo Britto, chefe do Departamento de Economia da Face. Britto acrescenta que o país se beneficiou de ações, como o esforço coordenado pela universalização do ensino, que contribuíram para o desempenho de papel crucial pelas universidades. Essa é uma diferença importante com relação aos países latino-americanos, onde os níveis básico e superior de ensino ainda carecem de vinculação mais forte. “No Brasil, as ligações entre universidades e empresas dependem muito das relações pessoais. Por essa e outras razões, estamos apenas começando a estruturar essa parte do nosso sistema nacional de inovação”, diz o professor. Patentes e artigos Parte do projeto de pós-doutorado do professor Eduardo Albuquerque, no King’s College, em Londres, é dedicado a destrinchar as redes corporativas e sua atuação no processo de interação que incrementa os sistemas nacionais de inovação. No Brasil, a professora Márcia Rapini, da Face, trabalha na ampliação das bases de dados locais, e, em outra vertente, o projeto busca definir a relação do esforço pela inovação com a complexidade do sistema produtivo dos países. “A pesquisa mostra com clareza que a inovação é o resultado de uma rede de interações institucionais e pessoais que, por sua vez, emerge de formas diferentes nos diversos países”, afirma Gustavo Britto. (Itamar Rigueira Jr./Boletim 1899)
O trabalho, que conta com pesquisadores de áreas diversas, lança mão de dados sobre patentes e artigos científicos, combinados a informações fornecidas por empresas. Gustavo Britto enfatiza as vantagens de conhecer a vinculação entre empresas para se ter ideia mais clara das relações de grandes grupos com instituições de pesquisa.