Mais de três quartos das pessoas que se envolvem em acidentes de trânsito em Belo Horizonte são do sexo masculino – sejam como vítimas ou agressores. É o que revela dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação de Promoção da Saúde e Prevenção da Violência da Faculdade de Medicina da UFMG. No estudo, apresentado no fim do ano passado, são analisados 668 acidentes registrados pela Equipe de Vistoria de Acidentes de Trânsito (Evat) da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans). A Evat tem o objetivo de identificar as causas dos acidentes, por meio de uma leitura de fatores ambientais como as condições da sinalização e do clima dos locais. O grupo analisa 2% dos acidentes com vítimas em Belo Horizonte. “Mesmo parecendo um índice pequeno, esse levantamento faz diferença, porque isso normalmente não é feito no Brasil”, explica o autor da dissertação, Ronaro de Andrade Ferreira, que trabalha na Gerência de Educação da BH Trans. Ferreira conta que, no país, as estatísticas mostram o número de acidentes e suas consequências, como características das pessoas internadas ou lesões mais frequentes, mas são poucas as pesquisas sobre as causas. “Obtivemos grande parte dos dados por meio dos boletins de ocorrência, mas, quando o motorista ou o pedestre o preenchem, não conseguem fazer uma leitura real do motivo do acidente”, afirma o pesquisador. Dos dados analisados, 551 dos acidentes envolviam motocicletas, e 173 eram atropelamentos. Em 82,4% deles, os condutores eram homens e, em 20% das situações, o acidente ocorreu por falta de atenção do motorista. “O condutor está no trânsito, mas a cabeça dele, muitas vezes, está em outro lugar. Ele precisa se convencer de que o trânsito deve ser seu foco principal naquele momento”, opina Ronaro. Via e clima Acidentes por condições das vias e do clima também foram avaliados. Contrariando o senso comum de que mais casos ocorrem quando chove, por conta da diminuição do atrito pela superfície molhada e da visibilidade comprometida, a pesquisa concluiu que, em 94,2% das situações, o pavimento estava seco, e somente em 1,8% o pavimento estava “ruim” ou irregular. Ronaro Ferreira reforça que identificar as razões dos acidentes é fundamental para evitar casos. “A construção de um banco de dados com essas informações pode ser de grande valor para a compreensão do problema e definição de estratégias de enfrentamento”, conclui.
Travessia de pedestres em local impróprio, pouca distância entre os veículos e desrespeito à velocidade máxima permitida foram algumas das causas de acidentes identificadas no estudo. E raramente, observa Ronaro Ferreira, um único elemento leva ao acidente. “As causas normalmente aparecem juntas. Há casos em que um envolvido avança o semáforo, e, ao mesmo tempo, o outro estava alcoolizado”, exemplifica o autor.