Universidade Federal de Minas Gerais

Pesquisa pioneira no Brasil analisa discursos políticos dos frades pregadores da Itália medieval

quarta-feira, 27 de maio de 2015, às 5h23

serm%F5es.jpg Predica di San Bernardino, de Sano di Pietro (Museo del Duomo di Siena)
Giordano de Pisa (c. 1255-1311) e Remigio dei Girolami (1247-1319) eram popstars da Itália medieval. Andavam por diversas comunas e falavam para pequenas multidões em dias de lazer, nas praças públicas. Assim como os respeitados tratados sobre política assinados por figuras como Aristóteles e Cícero, os sermões dos frades, que eram, em sua maioria, franciscanos e dominicanos, concentravam-se em temas como o bem comum e a justiça.

Cerca de 700 desses sermões estão sendo destrinchados por pesquisadores do Laboratório de Estudos Medievais (Leme), vinculado ao Departamento de História da UFMG da Fafich. A análise da retórica dos sermões é feita com foco, sobretudo, nos lexemas (palavras ou partes que servem de base a seu sentido) relacionados à política. Assim, por exemplo, caritas (do latim culto), carità e caritade (do vulgar toscano) aparecem com frequência, sintetizando ideias diferentes como o amor e o elo civil entre pessoas.

Um dos objetivos dessa linha de pesquisa é contribuir para a renovação de metodologias e da forma de encarar a relação entre política e religião na Idade Média. “Nosso interesse é pelo aspecto político da atuação dos pregadores religiosos. As fontes históricas praticamente não mudam, o que há de inovador é a convicção de que não há como separar os discursos religioso e político naquela época”, explica André Luis Pereira Miatello, professor de História Medieval e responsável pelo núcleo de pesquisa do Leme.

A historiografia tradicional, diz Miatello, ainda vive da herança do Iluminismo: para o elogio da razão, foi preciso negar a força da intelectualidade clerical e, por consequência, a importância das falas dos frades. Um caminho eficaz no sentido oposto é resgatar textos dos séculos 13 e 14. Os pesquisadores brasileiros, segundo Miatello, têm como fontes bibliotecas digitais que abrigam cópias dos sermões. “Os discursos dos frades eram anotados por ouvintes taquígrafos, muitos deles profissionais, que faziam registros laterais sobre momentos de vaias e aplausos, tamanho da plateia, entre outros aspectos.”

Os sermões, ainda de acordo com Miatello, eram centrados na retórica, seguindo regras e características discursivas específicas. A capacidade do orador fazia grande diferença. “Havia uma relação diferente com a religiosidade, a assistência não se comportava como ovelhas, acolhendo naturalmente o orador. Os sermões tinham um aspecto de performance que atraía mais ou menos a atenção da assistência”, diz André Miatello, que é doutor em História Social pela USP. Ele acrescenta que muitos pregadores aprenderam retórica em escolas como as de Bolonha e Pádua, onde se formavam também os políticos profissionais.

Restabelecer equilíbrios
Os frades pregavam o respeito às leis e abordavam a organização da vida comunitária, lançavam mão de exemplos positivos e negativos de diversos tipos, sempre com a intenção de estabelecer (ou restabelecer) equilíbrios. O professor da Fafich ressalta que os sermões reuniam pessoas analfabetas, que não tinham acesso aos textos escritos e não frequentavam as assembleias comunais.

“Assim como os tratados políticos da tradição ocidental, os sermões em praça pública eram centrados no bem comum, ou seja, eram discursos eminentemente políticos”, argumenta Miatello. Ele ressalta que há registros de mais de nove mil sermões políticos só em latim, enquanto não passam de cem os tratados conhecidos.

O pesquisador explica que os membros de ordens religiosas ganharam força na estrutura comunal porque, diferentemente de padres e bispos, não representavam a aristocracia – e os papas, por sua vez, se apoiaram nos frades para competir com os bispos. Desvinculados de paróquias, os frades atuavam de forma itinerante, viviam de esmolas – em datas especiais, podiam ser remunerados por cidades mais importantes, como Florença – e se hospedavam em casas instaladas estrategicamente entre as comunas mais populosas.

Apoiada por autores como Quentin Skinner, John Pocock e Enrico Artifoni, a pesquisa do Laboratório de Estudos Medievais, que conta com recursos da Fapemig, mostra como os sermões da Baixa Idade Média lançam mão de filosofia grega e histórias com caráter exemplar, muitas vezes extraídas das vidas dos imperadores romanos.

“Quando classificamos os termos associados a ideias como as da Páscoa e da pobreza de Cristo, percebemos como os discursos direcionavam a atuação política das pessoas. E ainda construíam memória e ensinavam história e filosofia”, completa André Miatello, que anuncia a intenção de estender os estudos às iluminuras que acompanham os textos de muitos sermões.

(Itamar Rigueira Jr.)

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