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As dietas saudáveis estão ficando progressivamente mais caras nos países em desenvolvimento. Essa é a conclusão central do estudo internacional The rising cost of a healthy diet - Changing relative prices of foods in high-income and emerging economies, coordenado por pesquisadores dos Estados Unidos e da Inglaterra, que contou com a colaboração do professor Rafael Moreira Claro, do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem. A pesquisa analisou aspectos como as mudanças ocorridas no custo de alimentos em quatro países (Brasil, México, China e Coreia do Sul) e o barateamento dos alimentos e bebidas processados e ultraprocessados em comparação aos produtos frescos, como frutas e hortaliças. Segundo o professor Rafael Claro, essa tendência ajuda a compreender a substituição progressiva de alimentos frescos pelos industrializados. “No caso do Brasil, o consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados, prontos para consumir, aumentou de pouco mais de 80 quilogramas per capita por ano, no fim da década de 90, para cerca de 110 quilogramas per capita por ano, até 2013”, exemplifica o professor, citando dados de vendas de alimentos e bebidas no varejo apurados pelo Euromonitor Passport Global Market Information Database de 2014. O levantamento, que foi coordenado pelos pesquisadores Steve Wiggins, dos Estados Unidos, e Sharada Keats, da Inglaterra, também envolveu estudiosos da China, da Coreia do Sul e do México. Força do marketing De acordo com o estudo, ainda que alguns alimentos ultraprocessados, como pão e embutidos, figurem há muito tempo na dieta da população brasileira, uma série de outros produtos como salgadinhos chips, biscoitos, barras energéticas e bebidas açucaradas tem encontrado enormes facilidades para entrar na mesa da população, incentivados pela diminuição gradativa de seu preço, aliada ao marketing generalizado sobre seu consumo. A pesquisa revelou, ainda, que alimentos de alta densidade energética (como salgadinhos chips e biscoitos recheados) tendem a ser mais baratos, considerando a relação custo-caloria, que outros produtos, especialmente quando comparados aos alimentos in natura ou minimamente processados, como frutas, hortaliças e carnes frescas. Com base na série histórica no mercado varejista do estado de São Paulo, que compreendeu o período de 1980 a 2009, a pesquisa constatou que os preços dos alimentos essenciais variaram bastante no período, principalmente durante a década de 1980 e na primeira metade da década seguinte, devido, em parte, às dificuldades econômicas. O estudo concluiu também que, mesmo com essa volatilidade, pelo menos uma grande tendência marcou praticamente todo o período: os preços de frutas e hortaliças subiram em comparação ao dos demais alimentos. (Rafael Cerqueira, aluno de jornalismo da UFMG e bolsista da Escola de Enfermagem)
Para o professor, a alta nos preços dos alimentos naturais aliada ao apelo mercadológico dos produtos ultraprocessados cria um cenário propício para o surgimento e consolidação de práticas alimentares pouco salutares. “O marketing de grandes empresas de alimentos desempenha importante influência no interesse dos brasileiros pelo consumo de comidas ultraprocessadas e fast food. É uma realidade difícil de ser evitada no país”, observa Claro.