Nesta quarta-feira, 24, conferencistas brasileiros e estrangeiros vão discutir experiências de políticas de desenvolvimento regional na América Latina e seu financiamento. Fruto de parceria entre o Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, a Regional Studies Association e o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), o evento ocorre na sede do BDMG (Rua da Bahia, 1.600, Lourdes), das 9h às 17h. Durante o evento, será lançada a divisão latino-americana da Regional Studies Association (RSA), organização que concentra pesquisadores e formuladores de políticas públicas para a elaboração de estudos regionais e urbanos. A programação do seminário está disponível neste site. Coordenador do seminário, o professor Pedro Amaral, da Faculdade de Ciências Econômicas, será o primeiro presidente da Divisão Latino-americana da Regional Studies Association. Nesta entrevista ao Portal UFMG, Amaral compara as dinâmicas de desenvolvimento da América Latina e da Europa e elege a integração de políticas e o combate à desigualdade como condições fundamentais para o desenvolvimento da região. Por que um evento para discutir o desenvolvimento regional da América Latina? No caso da América Latina, quais são essas especificidades? Como a América Latina deve lidar com essas especificidades? Como essa integração deve se dar? Se o desenvolvimento latino-americano passa pela redução das desigualdades, que tipos de ações devem ser tomadas? Que importância o Brasil desempenha – ou poderia desempenhar na integração da América Latina? Em que aspecto a construção de uma identidade pode ajudar no desenvolvimento da América Latina? (Luana Macieira)
A ideia surgiu quando percebemos a necessidade de criar uma divisão latino-americana para a Regional Studies Association, uma vez que a associação, sediada na Inglaterra, tem a Europa como principal foco de suas pesquisas. Quando a organização manifestou seu interesse em se expandir para a América Latina e Ásia, decidimos realizar o evento para lançar sua divisão latino-americana e aproveitar a oportunidade para reunir aqui especialistas e pesquisadores do tema. É necessário estudarmos as economias em desenvolvimento porque elas têm problemas regionais diferentes daqueles vistos na Europa.
A Europa se desenvolveu de uma forma mais lenta e gradual. Por exemplo, ela passou claramente pelas fases agrícola, industrial e de serviços, etapa por etapa. A constituição dos Estados nacionais na América Latina e sua inserção econômica à economia mundial ocorreu de maneira muito mais lenta e desigual, o que explica as grandes desigualdades e diferenças intra e inter-regionais. Hoje convivemos, ao mesmo tempo, com problemas do passado e problemas atuais, e isso é algo específico de nossa região e de outras regiões em desenvolvimento.
Devemos nos desenvolver de forma integrada, nos espelhando na Europa. Uma América Latina mais integrada geraria fluxos internos que dariam mais força à região, deixando-a menos exposta às flutuações do mercado internacional. Celso Furtado, grande economista brasileiro, mostrou que a experiência latino-americana é diferente da europeia e dos Estados Unidos. A forma como se dá o desenvolvimento aqui e as necessidades que os latino-americanos têm são diferentes das do resto do mundo. O desenvolvimento regional da América Latina deve focar na redução das desigualdades.
O desenvolvimento deve ser econômico, político, social e cultural. A ideia é pensá-lo em uma perspectiva multidimensional. Podemos chegar a essa integração por meio de acordos econômicos, mas também precisamos criar modos de integrar pessoas e instituições. Precisamos resgatar a identidade para a América Latina e refletir sobre uma questão posta pelo antropólogo mineiro Darcy Ribeiro: “A América Latina existe?”
Devemos pensar políticas focadas nas necessidades específicas do desenvolvimento latino-americano. Uma experiência recente que deu muito certo foram os programas de transferência e distribuição de renda, que ocorreram com mais intensidade no Brasil nos últimos 12 anos. Esse tipo de medida também está sendo aplicado em outros países da América Latina, como no México, com o Programa Oportunidades, cujos resultados têm sido bastante satisfatórios.
O Brasil é o principal mercado na América Latina, junto com o México e a Argentina. Como têm papel crucial no desenvolvimento econômico da região, são países que podem servir de parâmetros para medidas que deram certo ou não. A Argentina possui um sistema de ensino público muito avançado, que pode inspirar outros países latino-americanos. Como maior economia da região, o Brasil pode contribuir na construção de uma infraestrutura que possibilite a integração física da América Latina.
É importante que a América Latina se torne menos dependente do resto do mundo. Uma identidade própria e, consequentemente, uma maior integração entre os países latino-americanos nos colocaria em uma posição privilegiada. No entanto, é importante deixar claro que não podemos nos isolar: precisamos nos integrar como grupo – o Mercosul é uma boa alternativa, mas que precisa avançar – e, concomitantemente, integrar esse grupo ao restante da economia mundial.