“Brasil e Índia ainda não se descobriram”. A afirmação do professor Ricardo Machado Ruiz, da Faculdade de Ciências Econômicas, resume o estágio ainda incipiente das relações entre os países, tema do 2º Encontro de Estudos Indianos, aberto na manhã de hoje, na Reitoria, pela vice-reitora Sandra Goulart Almeida. O evento prossegue até sexta-feira, 26. Especialista em política industrial, Ruiz defendeu, em mesa-redonda, que as relações do Brasil com a Índia e com outros países do Brics (bloco também formado por Rússia, China e África do Sul), sejam fortalecidas nos âmbitos acadêmico, empresarial e tecnológico. Sobre a interação com a Índia, o professor afirmou que ela ainda se restringe ao circuito “porto-porto”. “Os indianos não têm conhecimento sobre o modo de pensar e agir do brasileiro. A capacitação tecnológica é incompleta, pois não abrange a linguagem e a comunicação. Da mesma forma, é quase impossível encontrar um brasileiro que conheça a Índia”, argumentou o professor. Ele classificou de “iniciativa fundamental” o surgimento do Centro de Estudos Indianos, vinculado à Diretoria de Relações Internacionais (DRI) da UFMG. Ressaltou, porém, que "ela nasceu atrasada, pois já era necessária há cerca de 20 anos”. Contraste Gilberto Libânio apresentou estatísticas do programa Ciência Sem Fronteiras, que indicam a baixa procura dos estudantes brasileiros pela China como destino (apenas 244 intercambistas de um total de 78 mil), e falou sobre as prerrogativas do Ceao no que se refere ao aumento do interesse pela China: “O Centro tem o objetivo de estimular convênios, pesquisas e intercâmbios. Temos promovido seminários, cursos, mostras de cinema e incremento do acervo bibliográfico relacionado àquele país”. Outro participante da mesa, o coordenador do Centro de Estudos Latino-americanos (Cela), Rômulo Monte Alto, afirmou que o idioma representa uma barreira na articulação do Brasil com os demais países do continente. “Embora tenha aumentado, a partir do ano 2000, a demanda no Brasil por cursos de língua espanhola, o idioma português ainda mobiliza muito pouco os nossos vizinhos na América do Sul. As cidades de La Plata e Rosário, na Argentina, estão entre as poucas que possuem universidades com especialização em Português”, disse. Até amanhã, estudiosos da UFMG e de outras instituições apresentarão diferentes abordagens sobre temas que envolvem as interações Brasil-Índia. Ainda na tarde hoje, às 16h30, Cristiana Lara vai discorrer sobre a experiência indiana de desenvolvimento de tecnologia solar em comunidades carentes e como ela pode ser replicada no Brasil. Na sexta-feira, a partir das 10h30, o ambientalista Maurício Andrés tratará das semelhanças entre Brasil e Índia na gestão das águas. O encontro será encerrado às 12h, com uma apresentação de canto Dhrupad, forma sobrevivente mais antiga da música clássica indiana, originada no canto dos hinos védicos e mantras.
O coordenador do Centro de Estudos sobre a Ásia Oriental (Ceao), Gilberto Libânio, destacou, em sua exposição, o contraste observado entre as relações comerciais e acadêmicas estabelecidas entre Brasil e China. “A aproximação acadêmica não acompanhou os crescentes vínculos econômicos e comerciais. Isso se deve à discrepância cultural existente entre o Ocidente e o Oriente e à distância geográfica”, explicou.