Universidade Federal de Minas Gerais

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'Juntar o erudito e o popular é nossa grande tarefa,’ afirma Antonio Nóbrega

terça-feira, 21 de julho de 2015, às 5h55

Violinista desde criança, o pernambucano Antonio Nóbrega conheceu o mundo da cultura popular pelas mãos de ninguém menos que Ariano Suassuna, há mais de 40 anos. Desde então, vive mergulhado no universo de artistas de rua e brincantes de influências diversas, que leva para os palcos na forma de música, danças e cantos.

Um dos convidados do Festival de Inverno deste ano – vai ministrar aula-espetáculo, nesta terça, 21, e oficina, na quarta, 22 –, Nóbrega diz, nesta entrevista, que tem sido seduzido pelo ambiente acadêmico, onde se sente bem recebido, e que espera ser uma ponte entre a cultura popular e a universidade. “Tenho certa obrigação de comunicar às pessoas esse universo que acho muito rico e que é a base do trabalho que faço.”

O que você vai oferecer em sua participação no Festival de Inverno?
Na oficina, que é muito curta, eu pretendo familiarizar as pessoas com a maneira de fazer canção e poesia com base nas matrizes populares. Pelo menos, dar uma noçãozinha do que ocorre com essa poesia e, quem sabe, despertar nas pessoas, em poetas principalmente, o interesse em aprofundar-se na perspectiva da cultura popular brasileira.

Na aula-espetáculo, vou cantar, dançar e tocar, mas conciliando com algumas falas. Tenho organizado um conjunto de aulas-espetáculos porque encontro nas pessoas grande interesse em conhecer a fonte de inspiração, o material do qual crio meus trabalhos. Resolvi abrigar esse material em três aulas-espetáculos distintas. Uma de caráter geral, que se chama Mátria, outra chamada Compasso sincopado, dedicada à dança, e a terceira dedicada sobretudo ao universo da poesia e naturalmente à música que acompanha essa poesia.

O Brasil talvez esteja carecendo de mais informações sobre um determinado universo cultural, que se a gente não correr um pouquinho, para acompanhar a marcha do mundo, vai terminar por desconhecer completamente. De maneira que acho que tenho certa obrigação de comunicar às pessoas esse universo que eu acho muito rico, muito interessante, e que é a base do trabalho que eu faço.

Como você tem dialogado com o ambiente acadêmico?
Estou praticamente começando com essas aulas-espetáculos. Tive uma ligação com a universidade, na década de 80, quando fui professor na Unicamp, mas lá o trabalho foi diretamente relacionado à dança. De alguma maneira, tenho sempre me ligado ao ambiente acadêmico. Participei recentemente na Inglaterra do encontro de uma associação que congrega brasilianistas e intelectuais brasileiros para apresentação de pequenas palestras sobre temas variados. Falei sobre a dança e sua ligação com a síncope. Tenho namorado o ambiente acadêmico, e esse namoro tem sido bastante sedutor para mim, estou tentando retomar minha presença no âmbito universitário. Levo um pouco do que existe fora da universidade para dentro dela, e isso parece estar sendo bem recebido.

Minha pesquisa não tem aquele espírito formal, primeiro porque não tive formação acadêmica. Fiz um pouco de Direito, Letras e Música, mas não cheguei a adquirir o instrumental que me habilitaria a ser um pesquisador acadêmico. Mas é claro que, me envolvendo com o universo popular, com os brincantes, com os artistas, fui adquirindo um modus de pesquisar e estudar o universo popular que talvez me coloque também, de uma maneira ou de outra, nessa família de pesquisadores. Não sou stricto sensu. Tenho uma formação sobretudo rueira, do convívio com o mundo popular.

Como é que você acha que traz novos ares para acadêmicos que querem tomar contato com a cultura popular?
Espero que meu trabalho seja uma ponte entre o mundo popular e a academia. Tenho avançado nos meus estudos, encontrado conteúdos, valores, procedimentos que podem ser reinterpretados ou contemporaneizados, absorvidos pelo espírito da nossa época. Oxalá eu possa ajudar que esse universo ultrapasse os muros da universidade.

Como vê as diferenças entre erudito e popular? Há pouco tempo, você se apresentou em BH com a Orquestra Ouro Preto...
Na verdade, eu tenho uma birrazinha com esses conceitos de cultura popular e erudita. Eles não me satisfazem plenamente. Acho que temos uma linha de tempo cultural de base popular – onde estão danças, formas poéticas, ritmos e cantos – construída ao longo de cinco séculos de caldeirão. Por outro lado, temos um universo simbólico muito rico, que está dentro da linha cultural europeia, ocidental. É onde estão a orquestra sinfônica, o quarteto de cordas, o romance. O Brasil abraçou essas duas linhas, e se a gente quer pensar num país pleno, fruto de sua natureza ambígua, esses dois universos têm que buscar um conluio, uma fricção criativa, como dizem alguns sociólogos. Nesse sentido, ainda devemos ao Brasil uma atitude mais efetiva de congraçar esses dois mundos. O concerto com a Orquestra Ouro Preto é uma ponte, mas não tem a ver diretamente com os conceitos de erudito e popular. São duas fontes de matrizes culturais que se sincretizam. É como em Grande sertão: veredas, em que Guimarães Rosa junta o mundo popular com as ferramentas que ele tinha de sua presença no mundo cultural ocidental. Ainda temos muito a conquistar. O Brasil só é Brasil mesmo na medida em que junta esses dois mundos. Se for um país apenas dos moçambiques, congadas e maracatus, não é um país por inteiro. Ele também é orquestra sinfônica, é quarteto de cordas. É difícil juntar tudo isso, numa coisa que seja uma terceira representação simbólica. Mas essa é a nossa grande tarefa.

Como a ideia de brincadeira, da forma que você lida com ela, num sentido amplo, pode ser usada na educação?
Quando falamos de brincadeiras, falamos de representações lúdicas. Um dos valores dessa linha de tempo cultural popular foi a construção de um ecossistema simbólico que eu poderia chamar de lúdico, porque ele é efervescente de formas. Por exemplo, vou apresentar na aula-espetáculo e na oficina as formas e gêneros poéticos que foram construídos na história cultural popular brasileira. Da quadrinha (uma estrofe simples, formada por versos de sete sílabas, rimando o segundo com o quarto) ao galope à beira-mar (estrofe de onze sílabas e dez linhas como metro e rima próprias, bem mais complexa); dentro desse arco foram construídas várias formas de poesia. Minha ideia é que essas formas podem ser usadas na educação num dinamismo em que se brinque com a língua, em que os jovens consigam juntar duas coisas muito importantes: emoção e ordenamento. Muitas vezes carecemos de ferramentas para organizar sentimentos, sistematizar. Quem sabe o exercício da quadrinha na educação não ofereça elementos na educação que facilitem esse trabalho. Aposto na ideia de que as formas lúdicas têm um papel civilizacional, no sentido de facilitar a percepção de onde existe a ordem e onde não existe. Nesse sentido é que eu vejo a brincadeira como uma coisa rica, que tem sua função.

Você acaba de realizar uma campanha bem-sucedida pela manutenção da sede do Instituto Brincante, em São Paulo. O que ensinou esse esforço?
Percebemos que existe interesse de segmentos da sociedade brasileira em proteger entidades que se dedicam à cultura. E nos sentimos revigorados para continuar com esse trabalho. Foi uma campanha vitoriosa, dá vida longa ao Brincante. Um elemento muito interessante dessa campanha foi a reflexão sobre a questão do espaço cultural nas cidades. A gente conseguiu resgatar essa discussão, sobre qual o papel de espaços culturais no espaço urbano, quais são as consequências da excessiva especulação imobiliária. A adesão das pessoas foi muito significativa para nós. E, quem sabe, vai repercutir em outras instâncias da cultura brasileira.

(Itamar Rigueira Jr. / versão integral de entrevista publicada no Boletim UFMG, edição 1912)

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