A discussão sobre o letramento na educação superior é relativamente nova no Brasil. Há ainda poucas pesquisas sobre as práticas de escrita e leitura no ambiente acadêmico, e os especialistas dedicados ao assunto sentem necessidade de trocar experiências e metodologias com outros pesquisadores de dentro e fora do Brasil. Por isso, a UFMG promove nesta semana (2 a 4 de setembro) o 1º Colóquio sobre letramentos acadêmicos: leitura e escrita em contextos educacionais (1st Colloquium on Academic Literacies: writing and reading in educational contexts), que vai reunir pesquisadores do Brasil, da Argentina, dos Estados Unidos e do Reino Unido. O colóquio será todo em inglês, sem tradução simultânea, com o objetivo de garantir fluência no contato entre os participantes. Com sede na FaE, o evento terá como tema não apenas as práticas de escrita presentes no cotidiano acadêmico, mas também os modelos e as expectativas institucionais sobre a produção acadêmica, em abordagens diversificadas. Os sete painéis, que vão privilegiar o debate, incluindo a participação dos ouvintes, vão tratar das relações do letramento acadêmico com linguagem e educação, letramento crítico, práticas sociais e apoio à escrita dos estudantes, entre outros aspectos. As inscrições podem ser feitas no site do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale). Outras informações estão disponíveis na página do evento no Facebook. “Reunimos pesquisadores que têm feito investimento significativo no tema e que podem nos ajudar na compreensão do fenômeno e na definição de uma agenda de pesquisa”, afirma o professor Gilcinei Carvalho, da FaE, um dos organizadores do evento. De acordo com ele, está ficando para trás a tendência de se encarar o letramento acadêmico como um problema exclusivo do aluno, que poderia ser corrigido apenas com disciplinas e cursos paralelos. É preciso reconhecer a participação dos professores na instituição de práticas acadêmicas que envolvem a leitura e a redação de projetos, artigos e pareceres. “O dia a dia do professor tem uma dinâmica diferente de décadas atrás. O mundo acadêmico está globalizado, as fronteiras estão mais diluídas”, diz Carvalho, mencionando a importância da atenção a aspectos como a questão da autoria/coautoria, língua estrangeira, regras específicas de cada periódico, práticas de divulgação científica, entre outros. Gilcinei Carvalho acrescenta que a discussão sobre os letramentos acadêmicos tem natureza interdisciplinar, não estando restrita, por exemplo, aos pesquisadores de linguagens. Além disso, não há modelos que devem ser seguidos sempre. “É ingênuo pensar que um texto funciona em relação a ele mesmo; é preciso que produção e interpretação estejam contextualizadas de acordo com regras de circulação e questões políticas e ideológicas.” Potencialidades e limites No painel de abertura, o professor David Bloome, da Universidade de Ohio (EUA), e a professora Anne Robinson-Pant, da Universidade East Anglia (Reino Unido), vão abordar a linguagem acadêmica como resultado de práticas sociais de uso, sob perspectiva etnográfica. Em outro painel, as experiências inglesa, americana e brasileira serão relatadas sob o ponto de vista de suas potencialidades e seus limites. As discussões vão considerar ainda as influências das trajetórias prévias dos alunos, políticas de publicação e o letramento acadêmico na sua relação estreita com a produção de conhecimento. Além de pesquisadores e grupos da FaE e da Fale, participam da organização do colóquio as pró-reitorias de Pesquisa e Pós-graduação, a Diretoria de Relações Internacionais (DRI) e o professor Brian Street, emérito do King’s College London, uma das mais importantes referências nos estudos sobre letramento acadêmico e interlocutor frequente dos pesquisadores da UFMG (leia reportagem recente no Boletim UFMG). Conheça a programação do colóquio.
O 1º Colóquio sobre letramentos acadêmicos terá representantes de instituições de São Paulo, Brasília e do sul do país, além de Belo Horizonte. Também haverá pesquisadores de cinco universidades estrangeiras. “Estamos curiosos para conhecer encaminhamentos diferentes dentro de um mesmo país, contemplando a variedade regional e institucional”, afirma Gilcinei Carvalho, informando também que este deverá ser o primeiro de uma série de encontros.