Fernanda Wardil/UFMG |
Uma visão quase consensual estabelecida na literatura especializada e entre os profissionais da área da saúde indica que o exercício aeróbico teria a finalidade única de proteger o coração contra problemas cardiovasculares, seja por ação direta ou pelo controle dos chamados fatores de risco: obesidade, dislipidemias, sedentarismo, hipertensão e diabetes, entre outros. Por outro lado, esse exercício não seria eficaz para prevenir problemas na coluna e evitar dores lombares. Recomendações correntes dão conta de que isso só seria possível com exercícios de fortalecimento muscular. Tal entendimento foi posto em xeque pelo professor Anderson Aurélio da Silva, da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, autor do Estudo comparativo da ocorrência de dor lombar entre idosos que realizam exercícios aeróbicos e idosos sedentários. Foram entrevistadas 190 pessoas com idade entre 60 e 75 anos, sendo que 85 relataram sofrer dor lombar. Destes, 36 (42,3%) caminhavam regularmente e 49 (57,7%) eram sedentários. “A menor prevalência entre os idosos ativos nos permite inferir que o exercício aeróbico exerce papel coadjuvante na prevenção desse tipo de dor”, afirma o professor. Ele lembra, ainda, que a dor lombar nos indivíduos que caminhavam se manifestava em intervalos maiores e com intensidade menor se comparada com a dor sentida pelos idosos sedentários. Anderson Aurélio salienta que as conclusões da pesquisa poderiam ser distorcidas caso houvesse desequilíbrio entre os grupos no que diz respeito a casos de depressão. Esse distúrbio psicológico, que também pode motivar as dores, acomete principalmente os indivíduos que não praticam atividade física regular. No entanto, foi apurado que não havia diferença no índice de depressão entre os idosos ativos e sedentários que acusaram dores lombares. As entrevistas foram feitas pelos estudantes Gabriela Dell'isola Caldeira Castelini, Diego Pires da Saúde e Lílian Cristina Duarte de Souza. Os idosos foram abordados em pistas de caminhada e em unidades básicas de saúde situados na região Nordeste de Belo Horizonte. Sistema integrado Ele acrescenta que a influência da caminhada na tonificação da musculatura protetora da coluna, por sua vez, é justificada pela existência de um sistema integrado, chamado de tecido miofacial, que interliga os músculos do corpo. “É um tecido fibroso rígido que une todos os músculos, desde a ponta do pé até a cabeça. Na carne de boi, visualizamos facilmente essa película, que conhecemos como a capa da carne”, exemplifica o pesquisador. “Quando um estímulo mecânico chega à perna, por meio, por exemplo, do contato com o solo, ele se propaga por esse tecido e atinge outras regiões do corpo”, completa Aurélio. Dessa forma, a caminhada ativa a musculatura do tronco e dos glúteos, importantes para estabilizar o eixo central do corpo, fortalecendo a musculatura e evitando ou diminuindo as dores. Para Anderson Aurélio, os resultados do levantamento realizado por sua equipe podem ser utilizados na formulação de políticas públicas de incentivo ao hábito da caminhada, levando em conta a finalidade de melhorar a qualidade de vida por meio da prevenção de incômodos lombares. “A questão era: quem pratica somente a caminhada, sem musculação ou Pilates, por exemplo, sente menos dor do que quem não faz nada? Provamos que sim. Só de fazer caminhada, a pessoa protege o coração e também a coluna, desde que a intensidade seja adequada”, afirma o professor. E conclui: “É razoável pensar, então, que a proteção contra dores na coluna será mais efetiva ao se combinar os exercícios aeróbicos e os de fortalecimento”. Tipos de lombalgia No primeiro caso, a dor é forte e aparece subitamente depois de um esforço físico. Na maior parte das vezes, ocorre na população jovem e deve ser tratada com repouso absoluto. A forma crônica geralmente acomete os mais velhos. A dor não é tão intensa, mas é quase permanente. Seu tratamento é baseado em três pilares: analgesia, reforço muscular e atividade aeróbica. (Matheus Espíndola)
“O ser humano paga caro por sua posição bípede. Temos uma coluna de sustentação que sofre influência da gravidade durante todo o tempo, o que pode trazer danos à estrutura. Musculatura e tendões fortalecidos podem retirar ou diminuir a sobrecarga das articulações e dos ossos", explica o professor Anderson Aurélio.
São duas as classificações para a dor lombar: a aguda e a crônica.