Fotos: Matheus Espíndola/UFMG |
“Nós nos conhecemos na juventude. Hoje é muito interessante trocar ideias e ver como cada um construiu sua vida após a passagem por Diamantina”, reflete Arno Brichta, um dos 11 geólogos que participaram da excursão A extração de diamantes nos arredores de Diamantina: o que mudou em meio século?, atividade inaugural do Simpósio Geologia do Espinhaço, realizado em Diamantina. O evento comemora os 50 anos de fundação do Instituto Eschwege, especializado no ensino e na pesquisa em geologia de campo e vinculado ao Instituto de Geociências (IGC) da UFMG. O geólogo Hermann Kux definiu o encontro como “uma viagem ao passado”. Segundo ele, suas principais lembranças de Diamantina datam de mais de 40 anos, quando ainda nem existia a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) em Diamantina. “Ao voltar depois de tanto tempo, percebi uma série de inovações positivas. É um orgulho ver que hoje há uma universidade aqui, que tem o curso de Geologia e que trabalha junto com o Instituto Eschwege”, diz. Hermann também observa que “juntar por aqui, periodicamente, geólogos e outros profissionais que trabalham na área de geociências é algo extremamente positivo e necessário”. Marcas A pesquisa que Arno empreendeu em seu doutorado buscou desvendar a origem do diamante encontrado na região. “A história dessa pedra é fascinante. Algumas dúvidas foram resolvidas na minha pesquisa, outras persistem até hoje. A ciência é assim: para cada resposta, pelo menos duas perguntas surgem”, comenta Arno, que foi orientado pelo professor Reinhard Pflug, fundador do Instituto. Contribuição “Sem o Instituto Eschwege, seria impossível realizar o meu doutorado. Foi formidável o apoio logístico, com a disponibilidade de equipamentos, e o apoio financeiro, ou seja, o auxílio para as despesas no campo”, relembrou Karfunkel, reconhecendo também a contribuição de Pflug e do professor Friedrich Ewald Renger, o primeiro diretor do Instituto. Pflug também foi reverenciado pelo geólogo Andreas Hoppe, orientado por ele no doutorado e colega de pesquisas de 1979 a 1992. “Todos que conheceram Pflug sabem que sua trajetória profissional foi exemplar, seus métodos eram criativos e geniais”, disse. Hoppe também se recorda das motivações do professor para a fundação do Instituto: “Quando chegou no Brasil, após seu doutoramento na Espanha, Pflug percebeu que a maioria dos estudantes brasileiros não tinha experiência no campo. E ele considerava que, sem trabalho de campo, era impossível aprender Geologia”. Outro discípulo de Pflug, Walde Detlef, explica a razão da escolha da região da Serra do Espinhaço para a realização das pesquisas do Instituto. “O critério para que o professor Pflug elegesse essa área foi seu grande potencial didático. Temos aqui os chamados afloramentos, onde se pode ver as rochas e pedras aflorando – sem vegetação. Em uma região com muita cobertura vegetal, não se pode ver nada no solo”, detalha. O geólogo João da Rocha Hirson, que também conviveu com Pflug, lamenta o fato de o fundador do Instituto ter morrido “tão cedo", prestes a completar 80 anos. “Ele começou o trabalho e seguramente não tinha a pretensão de que atingisse tamanha grandeza. Certamente, se estivesse aqui, estaria sorrindo de orgulho”, finaliza. O Grupo percorreu rota que inclui os distritos de Guinda e Curralinho, Gruta do Salitre, Lagoa de Chica da Silva, Parque Estadual do Biri-Biri, Serra dos Cristais e Pico do Itambé. (Matheus Espíndola)
Para Arno Brichta, os garimpos da região deixaram “marcas profundas na vida de cada um: além de alunos e professores, garimpeiros que encontraram riquezas e também os que nada acharam”. É uma satisfação estar presente e reencontrar tantos ex-colegas e companheiros de jornada”, completa Arno, que trabalhou no Instituto de 1974 a 1977, quando, segundo ele, ingressava na escola a segunda geração de professores.
O geólogo Joachim Karfunkel [foto abaixo], que conduziu a expedição, destacou a infraestrutura do Instituto, ainda em seus primeiros anos de existência, como um dos fatores que favoreceram sua formação acadêmica e profissional.