Fotos de Foca Lisboa/UFMG
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O longo período sem concursos públicos é um dos fatores que contribuem para os conflitos geracionais hoje observados nas universidades federais, avaliou o professor Sidinei Rocha de Oliveira [foto abaixo], da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na abertura oficial da Semana do Servidor, realizada na manhã desta quarta-feira, 14. “A falta de concursos criou um grande degrau entre a geração mais antiga, que está em vias de se aposentar, e a geração mais nova, que ingressou no serviço público nos últimos 10 anos”, detalha. Se esses concursos tivessem ocorrido de forma contínua, argumenta, haveria “uma geração intermediária, que garantiria uma transição menos traumática”. Autor de pesquisa com servidores da própria UFRGS e da Universidade Federal Fluminense (UFF), Sidinei de Oliveira participou da mesa temática Encontro e desencontro de gerações no trabalho nas instituições públicas de ensino, tema central da Semana do Servidores. O pesquisador afirma que as gerações que hoje ocupam os postos de trabalho no serviço público não são caracterizadas apenas pela diferença etária. Classe social, experiências de vida, relações familiares, inovações tecnológicas e conjuntura histórica na qual o servidor cresceu também são fatores geradores de conflitos. A pró-reitora adjunta de Recursos Humanos, Leonor Gonçalves, apresentou dados que explicitam as diversas gerações que formam o corpo de trabalhadores da UFMG. Em 2014, a Universidade contava com 4.398 servidores técnico-administrativos (34% de sua força de trabalho), número que a coloca como a segunda maior universidade pública do país em quantidade de servidores. “Aproximadamente 23% dos técnico-administrativos da UFMG ingressaram na UFMG nos últimos cinco anos. Esses servidores são mais jovens e vêm de uma realidade diferente daquela vivida pelo servidor mais velho, já em vias de se aposentar. Tudo isso explica o conflito de gerações”, explica. As diferenças geracionais no ambiente de trabalho também são abordadas em reportagem da TV UFMG.
“Cada geração vivencia a cultura de uma maneira diferente. O jovem de vinte e poucos anos que hoje ingressa no serviço público já nasceu na democracia e não viu a inflação. Dessa forma, ele acha normal migrar de um emprego para outro, não vendo problemas em tentar novo concurso. Em contrapartida, o servidor antigo vê essa migração de emprego público como falta de comprometimento com o trabalho”, explica.
Conflito e diálogo
Em sua exposição na mesa de abertura, a vice-reitora Sandra Goulart Almeida destacou a atualidade do tema desta edição e lembrou que a palavra "conflito" nem sempre significa embate. “O conflito possibilita que sejam ouvidas opiniões diferentes, favorecendo o diálogo entre as diversas gerações de servidores”, ponderou.
Segundo a servidora Neide Dantas, representante do Sindifes na mesa de abertura, a Universidade deve identificar os impactos do conflito geracional e se adaptar a essa nova realidade. “O conflito surge naturalmente e a universidade precisa garantir concursos púbicos mais frequentes para que esse ‘gap’ entre as gerações seja menor. Além disso, o salário não pode ser o único modo de reter o trabalhador”, conclui.