Na abertura do Ciclo de Palestras do Festival de Verão 2016, na manhã desta segunda-feira, 1º, a professora Marcella Guimarães Assis, do Departamento de Terapia Ocupacional da UFMG, falou sobre o conceito de envelhecimento em relação às ideias de tempo e memória. Em sua palestra, Marcella Guimarães logo buscou desconstruir a ideia de que o envelhecimento humano diz respeito a um específico período de nossas vidas. Também diretora de Políticas de Extensão da UFMG, ela lembrou que o envelhecimento é um processo contínuo da vida, que se inicia com a concepção e que termina com a morte. O público era composto principalmente de profissionais da área da saúde, mas havia grande número de participantes das áreas de ciências humanas e exatas, que lotaram o auditório do Conservatório nesta manhã. Dada a heterogeneidade do público, a professora se preocupou em conceituar os termos abordados, como o próprio termo envelhecimento. “O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, que determinam perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e incidência de processos patológicos”, disse. Com essa preocupação didática, que deve ser uma constante em todas as demais palestras do Festival de Verão, Marcella tratou de diferenciar a ideia de senilidade – que no âmbito do envelhecimento diz respeito às modificações que se dão em razão de afecções – da ideia de senescência, associada às alterações normais pelas quais passamos, próprias mesmo ao envelhecimento. “Nesse sentido, não há uma só velhice: há velhices. A gente não pode falar do período que vai dos 60 aos 120 anos de maneira uniforme”, disse. No entendimento da especialista, o envelhecimento depende de inúmeros fatores, sendo a idade apenas um deles. Marcella Guimarães lembrou que velhice tem um caráter subjetivo: depende de como cada pessoa encara a vida, se ela vive só ou acompanhada, se está melhor ou pior de saúde. Essencial para a sobrevivência “A velhice é o tempo da memória, e a lembrança, a forma de evocá-la. A memória é o tempo do trabalho”, disse a pesquisadora. “Por isso, é importante dar voz às pessoas idosas. O que fica do passado é o que significa [o presente]”, disse. “Ao lembrar, ao evocar a memória, tenho a capacidade de projetar meu presente para o futuro por meio da minha imaginação”, concluiu. Também no primeiro dia do Ciclo de Palestras do Festival de Verão, o professor Sebastião de Pádua, do Departamento de Física, discorreu sobre O tempo na visão da física. Outras quatro palestras estão programadas para amanhã e quarta-feira, duas por dia, em sequência, das 10h às 12h. As apresentações, com entrada franca, estão sendo realizadas no miniauditório do Conservatório UFMG, sempre relacionadas a Tempo e memória. O Conservatório UFMG fica na Avenida Afonso Pena, 1.534, Centro. Não é necessário fazer inscrição prévia: a participação é livre, sujeita à lotação do espaço.
Um dos principais fatores para explicar o envelhecimento e como ele ocorre é a memória, que, no entendimento de Marcella Guimarães, é a capacidade de registrar, armazenar e evocar informações. “É um processo essencial para a sobrevivência humana. É ela quem conecta o passado, o presente e o futuro”, disse a professora, que também frisou que a lembrança, operação cognitiva tão cara aos idosos, não é simples rememoração. “Costuma-se dizer que a pessoa idosa vive no passado. Isso é um erro. Todos nós vivemos no presente. Ao rememorar, a pessoa cria, recria: restitui significado”, explicou.