“As plantas oferecem as soluções para todas as necessidades dos seres humanos”, ensina Dona Piedade, mestre raizeira que vive na Serra do Cipó, no município de Santana do Riacho. “Por isso, nunca se deve destruir e jogar fora qualquer planta, nenhum dinheiro vale isso e nenhuma planta é lixo”, completa. Para Dona Piedade, que participou, nesta terça-feira, da oficina Fitoterapia e patrimônio imaterial – registros da etnobotânica terapêutica brasileira, as pessoas devem valorizar o potencial de cura das plantas. “A mangaba é uma planta que muitas vezes se descarta. Mas o seu leite, dissolvido na água e coado, pode curar várias doenças”, exemplifica. Na segunda-feira, o mestre Seu João, de Santa Luzia, falou, entre outros assuntos, sobre como os componentes naturais (insetos e vegetação, entre outros) estão articulados e cumprem importante papel em um ambiente harmonioso. Na tarde de hoje, a mestra benzedeira Dona Helena, também de Santa Luzia, abordou o dom da "benzeção", sua relação com as plantas e seu poder associado a tratamentos de saúde. Para o coordenador da oficina, o antropólogo Thiago Araújo, um dos desafios da ciência é articular o conceito de patrimônio imaterial com o uso medicinal das plantas. "Os mestres da sabedoria popular têm um saber integrado, transmitido há várias gerações, mas sem registro, ao passo que a fitoterapia é uma ciência reconhecida", destacou. À luz da lamparina Além do resgate de memórias afetivas, a oficina, realizada na tarde de hoje, promoveu danças e cantigas de roda, ao som de sanfona, chocalho e percussão. Uma das participantes, dona Maria da Conceição [foto] caracterizou a atividade como "uma terapia”. “Entrei recentemente, porque andava doente e aborrecida, e achei maravilhoso. Não existe coisa melhor do que rir, cantar, brincar e compartilhar o carinho com as outras meninas”, declara. Formado por 24 mulheres do bairro Alto Vera Cruz, com idade entre 53 e 94 anos, o grupo Meninas de Sinhá foi idealizado por Valdete da Silva Cordeiro, com o objetivo de melhorar a autoestima de suas vizinhas. Saiba mais sobre as duas oficinas em vídeos produzidos pela TV UFMG, disponíveis na galeria do Festival de Verão.
“O povoado onde vivi minha infância era iluminado apenas pela lua. Em casa, acendíamos lamparinas; tinha uma em cada canto”, recordou-se dona Rosária Madalena [foto], uma das pioneiras do grupo Meninas de Sinhá, que desde a década de 80 realiza vivências culturais que ajudam a transformar o cotidiano da comunidade. Ela falava enquanto retirava uma lamparina de dentro de um balaio, durante a dinâmica proposta na oficina Balaio de Sinhá. “Após a oração, íamos dormir, tranquilos. Nem precisava trancar a casa, pois não havia perigo algum de violência", continuou, emocionada.