Universidade Federal de Minas Gerais

Foca Lisboa / UFMG
_MG_1403.jpg
Elisa: vivências da infância são determinantes para a compreensão do ato suicida

Em livro, doutoranda da UFMG sugere que intenção suicida é resultado de trauma vivido em relação ao objeto materno ao tempo dos primeiros cuidados

segunda-feira, 27 de junho de 2016, às 11h06

O que motiva o suicida? Que dispositivo de sua psicologia leva o sujeito a cometer autoextermínio? No livro recém-lançado As horas que separam duas mortes: da melancolia ao impulso suicida, Elisa de Santa Cecília Massa, doutoranda em Psicologia da Fafich, sugere uma resposta original para essas questões.

A pesquisadora recorre ao texto Luto e melancolia, de Freud, para argumentar que a agressividade que o eu desperta sobre si se explica pelo fato de haver nele um objeto referencial introjetado, a quem tal ato se destinaria originalmente: o objeto materno, na hipótese da autora, o primeiro objeto de amor do sujeito – responsável mesmo, em princípio, pelo advento da vontade de viver. "A pesquisa me levou a suspeitar que as vivências da infância são determinantes para a compreensão do ato suicida", diz a pesquisadora.

Para Elisa, uma falha na primeira interação com o objeto materno, ocorrida no início da relação entre o cuidador e o bebê, atuaria no processo de esvaziamento da pulsão de vida e no engendramento da pulsão de morte. "Embora nosso imaginário seja povoado por fantasias sobre a própria morte, esta só pode ser vivenciada pela morte do outro, já que não é possível fazer coexistir a experiência e a própria morte", explica. Assim, matar a si seria, no âmbito psicológico, o ato de eliminar de si a presença do outro – no caso, a mãe. "O suicídio é um ato endereçado ao objeto, não ao eu", demarca.

_MG_1411.jpg Elisa [em foto de Foca Lisboa / UFMG] explica que, naturalmente, tais processos não se dão necessariamente na consciência do sujeito. "Isso aparece na clínica psicanalítica, quando o paciente começa a nos contar sobre suas relações com o chefe, com o pai, com os irmãos, com os amigos, com o cônjuge ou mesmo com a própria mãe. É possível perceber que, em todas essas relações, algumas coisas começam a se repetir", diz, sugerindo que essas repetições são indicativas de questões próprias do sujeito – relativas, por exemplo, a esse trauma original.

Retorno ao útero
No livro, Elisa também discute o autoextermínio como espécie de retorno ao útero – o túmulo como metáfora. Ou seja, uma forma trágica de o sujeito tentar se reconciliar com a razão inaugural de sua melancolia. A professora Cassandra Pereira França, do Departamento de Psicologia da Fafich, resume o dilema na orelha da obra: "Arcaremos com o peso das inscrições deixadas pelo outro primordial e com a angústia de esperar a morte nos surpreender, ou a golpearemos primeiro, precipitando o retorno ao centro da mãe/terra?". A professora orientou a dissertação de mestrado de Elisa, que deu origem ao livro.

"Escrevi a dissertação tendo como alvo a clínica psicanalítica", conta a pesquisadora. Mestre e doutoranda em estudos psicanalíticos pela UFMG, Elisa é diretora de Orientação Socioeducativa da Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais, que estabelece a metodologia para o atendimento de adolescentes internados em razão do cometimento de ato infracional. "Seja na pesquisa que resultou no livro, seja em meu trabalho, estou interessada nas formas como cada sujeito responde à manifestação do trágico em sua vida. Em alguns casos, os adolescentes que cometem atos graves também estão construindo respostas para essa manifestação", afirma.

Na clínica psicanalítica de casos de potenciais suicidas, Elisa critica as abordagens "motivacionais", baseadas no aconselhamento, e sugere a "real escuta" como o melhor instrumento de atenção. "É importante ouvir o que é próprio do sujeito e não se defender da sua fala. Para o analista, é difícil ouvir aquilo que os sujeitos melancólicos têm para dizer. Contudo, muitas vezes são eles que vão indicar uma saída para suas questões", diz. "É crucial a individualização de cada caso. Por isso, mais que pensar uma teoria do suicídio, desenvolvi um trabalho que busca demonstrar a importância de se escutar o que é próprio de cada sujeito."

No livro, além da reflexão estritamente teórica, Elisa se vale do filme As horas, de 2002, para discutir a pulsão da morte com base em uma intrigante relação estabelecida entre mãe e filho.

Livro: As horas que separam duas mortes: da melancolia ao impulso suicida
Autora: Elisa de Santa Cecília Massa
Editora CRV
146 páginas / R$ 38,90

(Ewerton Martins Ribeiro / Boletim 1945)

05/set, 13h24 - Coral da OAP se apresenta no Conservatório, nesta quarta

05/set, 13h12 - Grupo de 'drag queens' evoca universo LGBT em show amanhã, na Praça de Serviços

05/set, 12h48 - 'Domingo no campus': décima edição em galeria de fotos

05/set, 9h24 - Faculdade de Medicina promove semana de prevenção ao suicídio

05/set, 9h18 - Pesquisador francês fará conferência sobre processos criativos na próxima semana

05/set, 9h01 - Encontro reunirá pesquisadores da memória e da história da UFMG

05/set, 8h17 - Sessões do CineCentro em setembro têm musical, comédia e ficção científica

05/set, 8h10 - Concerto 'Jovens e apaixonados' reúne obras de Mozart nesta noite, no Conservatório

04/set, 11h40 - Adriana Bogliolo toma posse como vice-diretora da Ciência da Informação

04/set, 8h45 - Nova edição do Boletim é dedicada aos 90 anos da UFMG

04/set, 8h34 - Pesquisador francês aborda diagnóstico de pressão intracraniana por meio de teste audiológico em palestra na Medicina

04/set, 8h30 - Acesso à justiça e direito infantojuvenil reúnem especialistas na UFMG neste mês

04/set, 7h18 - No mês de seu aniversário, Rádio UFMG Educativa tem programação especial

04/set, 7h11 - UFMG seleciona candidatos para cursos semipresenciais em gestão pública

04/set, 7h04 - Ensino e inclusão de pessoas com deficiência no meio educacional serão discutidos em congresso

Classificar por categorias (30 textos mais recentes de cada):
Artigos
Calouradas
Conferência das Humanidades
Destaques
Domingo no Campus
Eleições Reitoria
Encontro da AULP
Entrevistas
Eschwege 50 anos
Estudante
Eventos
Festival de Inverno
Festival de Verão
Gripe Suína
Jornada Africana
Libras
Matrícula
Mostra das Profissões
Mostra das Profissões 2009
Mostra das Profissões e UFMG Jovem
Mostra Virtual das Profissões
Notas à Comunidade
Notícias
O dia no Campus
Participa UFMG
Pesquisa
Pesquisa e Inovação
Residência Artística Internacional
Reuni
Reunião da SBPC
Semana de Saúde Mental
Semana do Conhecimento
Semana do Servidor
Seminário de Diamantina
Sisu
Sisu e Vestibular
Sisu e Vestibular 2016
UFMG 85 Anos
UFMG 90 anos
UFMG, meu lugar
Vestibular
Volta às aulas

Arquivos mensais:
outubro de 2017 (1)
setembro de 2017 (33)
agosto de 2017 (206)
julho de 2017 (127)
junho de 2017 (171)
maio de 2017 (192)
abril de 2017 (133)
março de 2017 (205)
fevereiro de 2017 (142)
janeiro de 2017 (109)
dezembro de 2016 (108)
novembro de 2016 (141)
outubro de 2016 (229)
setembro de 2016 (219)
agosto de 2016 (188)
julho de 2016 (176)
junho de 2016 (213)
maio de 2016 (208)
abril de 2016 (177)
março de 2016 (236)
fevereiro de 2016 (138)
janeiro de 2016 (131)
dezembro de 2015 (148)
novembro de 2015 (214)
outubro de 2015 (256)
setembro de 2015 (195)
agosto de 2015 (209)
julho de 2015 (184)
junho de 2015 (225)
maio de 2015 (248)
abril de 2015 (215)
março de 2015 (224)
fevereiro de 2015 (170)

Expediente