Marcílio Lana / UFMG |
Da mais jovem para uma das mais antigas universidades federais brasileiras. Foi dada a largada, nesta sexta-feira (8), para a 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que em 2017 será sediada na UFMG. Durante o encerramento das atividades científicas da 68ª reunião, que reuniu mais de seis mil pesquisadores em Porto Seguro (BA), a presidenta da SBPC, Helena Nader, disse que será um orgulho realizar a reunião em meio às comemorações dos 90 anos da UFMG, que foi fundada em 1927. Helena Nader também destacou a relevância de que uma das mais jovens universidades federais brasileiras, a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), tenha-se animado a sediar a mais longeva e mais importante reunião científica da América Latina. “Esta universidade jovem nos recebeu, e nós vamos levar daqui muita saudade e muito conhecimento”, afirmou. Nader relembrou que cada reunião da SBPC — que desde 1948 é realizada a cada ano em um estado — assume uma faceta diferente, que valoriza e aproveita o potencial da instituição. Por isso, ela fez questão de agradecer particularmente aos organizadores da SBPC Indígena, que “proporcionaram um espaço de reflexão sobre a realidade dos indígenas”. O vice-reitor da UFSB, Carlos Caroso, explicou que as discussões realizadas durante a SBPC indígena foram definidas em conjunto com as populações indígenas locais. Segundo o reitor da UFSB, Naomar Filho, a reunião em Porto Seguro foi planejada e executada em tempo recorde, evidenciando que universidades pequenas também têm condições de contribuir para o desenvolvimento da ciência. Uma SBPC, muitas Minas Em 2017, de 16 e 22 de julho, será a quinta vez que a UFMG sediará a reunião anual da SBPC – as outras foram em 1965, 1975, 1985 e 1997. Ao agradecer a “confiança, honra e privilégio de poder novamente sediar a SBPC na UFMG”, o reitor Jaime Ramírez fez referência a Guimarães Rosa, um dos mais ilustres ex-alunos da instituição, para explicar o que deve orientar a definição do tema da 69ª reunião: “Minas Gerais são várias, são muitas, são diversas, e ter a responsabilidade de estar à frente de uma universidade que leva o nome do estado nos dá a responsabilidade de trazer para a SBPC a diversidade do estado”. O reitor também afirmou que os temas de conferências, mesas-redondas e oficinas deverão ser propostos, considerando “o momento em que vivemos, muito marcante da nossa história, com muitos desafios, algumas incertezas, mas com uma certeza: a SBPC, em sua 69ª edição, e a UFMG, nos seus 90 anos, serão cada vez mais fortes. Nossas instituições são a soma de cada um de nós, mas são muito mais do que todos nós. Permanecerão com o nosso trabalho e continuarão para um Brasil cada vez mais justo, equânime e solidário, sobretudo para uma ciência mais forte em prol do desenvolvimento do nosso país”, finalizou. Em defesa do estado democrático O pedido para que a SBPC assinasse uma moção de repúdio ao governo interino do presidente Michel Temer não foi acatado. Em vez disso, os associados aprovaram manifesto em defesa do estado de direito e pelo fortalecimento da democracia no país. O manifesto defende que os processos políticos e eventuais mudanças políticas devem ocorrer sempre em conformidade com o que estabelece a Constituição Federal. A entidade conclama a sociedade a “arregaçar as mangas em defesa da democracia e a cultivar a tolerância e o respeito à divergência de opiniões. Desta vez, precisamos garantir a manutenção do estado de direito, a continuidade e o aprimoramento das políticas públicas nas áreas de ciência e tecnologia, educação, saúde, meio ambiente e cultura, bem como o respeito à diversidade e aos direitos sociais dos brasileiros. É importante que busquemos coletivamente transformar a crise atual em instrumento de fortalecimento da democracia, propugnando pelo entendimento nacional e pela paz social”. A assembleia geral da SBPC também aprovou moções contra a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com o Ministério das Comunicações e pela manutenção da Secretaria de Informação. Decidiu ainda pela criação de um grupo de trabalho sobre o estado laico e uma moção de repúdio ao projeto Escola sem Partido, proposta que tramita no Congresso Nacional e em algumas assembleias estaduais e câmaras municipais para proibir a manifestação política de professores em sala de aula. A SBPC defende ainda a manutenção do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), com o mesmo número de bolsas do ano passado. E, por fim, manifestou-se contra a cobrança de mensalidades em cursos de pós-graduação das universidades públicas. (Tacyana Arce/Agência da Rede Mineira de Comunicação Científica)
O reitor da UFMG, Jaime Ramírez, disse que estava em Porto Seguro para dimensionar o tamanho do desafio da UFMG e para aprender com uma universidade que acolheu a SBPC “com carinho e oferecendo uma riqueza de atividades, de conteúdo, com diversidade de temas e especial atenção à cultura. Aceitar realizar a SBPC após sucesso tão grande só aumenta a nossa responsabilidade”, afirmou.
O tema da 69ª edição da SBPC ainda não está definido. Em entrevista à rádio UFMG Educativa, Helena Nader explicou que o tema deve guardar relação com as principais características da UFMG, “uma instituição que é das maiores do Brasil e América Latina, que tem contribuído para a formação de recursos humanos e para a inovação no país, que tem uma fundação de apoio que é exemplo”.
Helena Nader continua presidenta da SBPC por mais um ano, concluindo o segundo mandato consecutivo. A confirmação da continuidade da pesquisadora à frente da entidade deu-se na noite de quinta-feira, durante reunião ordinária dos sócios da SBPC. No dia anterior, Nader havia colocado o cargo à disposição depois de se sentir ofendida durante o ato Fica, MCTI, pela manutenção do ministério exclusivo para a área. Relembre o caso.