Matheus Espíndola / UFMG |
Ao longo dos últimos 80 anos, muitos planos de desenvolvimento econômico foram elaborados no Brasil – e a maioria deles carrega a sina de não resistir ao governo sucessor. Foi o que demonstrou o professor Thompson Andrade, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em sua participação na mesa-redonda Planejamento e desenvolvimento econômico brasileiro, realizada nesta sexta-feira (2), último dia do Seminário sobre Economia Mineira. “A primeira investida data de janeiro de 1939, e foi empreendida por Getúlio Vargas. Foi nessa ocasião que surgiu o conceito de 'restos a pagar', presente no discurso econômico ainda nos dias atuais, alusivo ao hábito de postergar a quitação de algumas dívidas quando não há dinheiro suficiente”, destacou. Como contou Thompson, o governo seguinte, do general Eurico Gaspar Dutra, não deu seguimento ao plano iniciado por Vargas. Em vez disso, elaborou o plano que ficou conhecido como Salte – sigla para saúde, alimentação, transporte e energia. “O plano Salte só foi aprovado dois anos após sua idealização. E o compromisso foi rompido, mais uma vez, na gestão posterior”, informou o economista. A concepção de metas de longo prazo só ganhou corpo anos depois, durante o regime militar. O Plano Decenal, formatado no mandato de Castello Branco, pretendia combater a inflação e impulsionar o crescimento econômico. “Foi esse plano que previu a criação do FGTS, poupança compulsória que gerou divisas para alavancar o desenvolvimento urbano e de saneamento no Brasil”, relatou Thompson. Segundo o professor da Uerj, essa fase representou o “auge” do planejamento como ferramenta de gestão. “Tecnicamente, foi muito mais aprimorado do que as edições anteriores. Mas a iniciativa também foi abandonada pelo governo de Costa e Silva, após a morte de Castello Branco”, explicou. Em relação às experiências mais recentes, o professor destacou o fato de que o plano do governo Lula era demasiadamente complexo, por reunir 4,3 mil ações, característica que tornava "complicada" a sua coordenação. Já o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que marcou as gestões de Lula e Dilma Rousseff, foi definido por Thompson como “uma lista de projetos, que não caracterizaram propriamente um planejamento”. Justiça social Campolina destacou também que as experiências de planejamento acumuladas devem ser criticamente avaliadas pelos gestores brasileiros para possibilitar a renovação do projeto de desenvolvimento econômico e social. “Temos amplo instrumental teórico e metodológico para promover as mudanças necessárias. Mas o plano e a lata de lixo são objetos próximos se não houver vontade política”, acrescentou. O professor Hamilton Tolosa, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), chamou atenção para heterogeneidade da economia brasileira, aspecto que comumente é abafado pelo discurso que prega índices e taxas generalizantes. “Simplificações grosseiras são perigosas armadilhas para os esforços de retomada do planejamento”, alertou. (Matheus Espíndola)
Para o professor Clélio Campolina, reitor da UFMG no mandato 2010-2014, a concepção moderna de planejamento deve extrapolar o viés do crescimento econômico. “O mundo inteiro reconheceu que o paradigma de planejamento vigente nos últimos 200 anos foi superado, simplesmente porque não gera soluções globais para a humanidade. O padrão de crescimento sem justiça social não serve mais”, asseverou.