Universidade Federal de Minas Gerais

Carisma e personalidade valem menos para um presidente que a capacidade de explorar oportunidades, afirma o professor George Edwards III

quarta-feira, 28 de setembro de 2016, às 11h45

Fotos de Foca Lisboa / UFMG

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O cientista político George Edwards III [foto], da Texas A&M University (EUA), tem concentrado suas pesquisas na questão da liderança presidencial nos Estados Unidos. E sua teoria é de que atributos como carisma e personalidade forte não bastam para levar um presidente ao sucesso, seja diante da opinião pública, seja nas relações com o Congresso.

Na semana passada, quando esteve na UFMG a convite do Centro de Estudos Legislativos, vinculado ao Departamento de Ciência Política [leia sobre a conferência em que ele abordou as eleições presidenciais deste ano, nos Estados Unidos], Edwards concedeu entrevista ao Portal UFMG. Explicou sua tese apoiado em exemplos de diversos mandatários americanos, de Barack Obama a Franklin Roosevelt. “O segredo de uma liderança bem-sucedida é reconhecer e explorar oportunidades”, afirmou.

Qual o valor de carisma e personalidade forte para o sucesso de um presidente?
É comum a crença em que um presidente, como um grande líder, pode transformar coisas e abrir caminho para a mudança, de viés conservador ou liberal. Essa visão está errada. Às vezes, os presidentes abusam da expectativa e fracassam, e o que se segue é um desastre político, seja em eleições ou em negociações com o Congresso. Muitas vezes eles pensam: “o público ainda não ouviu sobre isso e agora vou vender para ele, vou convencê-lo disso”. Nunca acontece dessa forma. Bill Clinton e Barack Obama não conseguiram com relação ao sistema de saúde; George W. Bush não conseguiu com a previdência social. Há vários exemplos.

É preciso saber moldar uma estratégia para agir em determinadas circunstâncias. É preciso ter a capacidade analítica e, em seguida, assumir o compromisso de seguir em frente e explorar as oportunidades. Esse tipo de característica é mais importante para um presidente do que a eloquência, a personalidade forte ou o carisma, que não significam nada, não mudam nada, não convencem ninguém. Se Donald Trump tem uma personalidade forte e se torna presidente, ele não será capaz de usar essa personalidade para convencer as pessoas que não votaram nele a gostarem do que ele faz. Ele acredita que será capaz de fazê-lo, tenho certeza, mas não será; não mais do que Barack Obama foi.

Fale mais, por favor, sobre os casos de Obama e Clinton.
A conquista-símbolo do governo Obama é a reforma do sistema de saúde; é uma questão de peso, uma grande política. Ela foi aprovada em março de 2010, mas, até hoje, a maioria do público não a apoia. Ele nunca foi capaz de conquistar esse apoio. Obama conseguiu aprovar a reforma porque havia democratas no Congresso que sempre quiseram isso e que votaram a favor. Mas foi uma medida tão impopular que os republicanos, durante as eleições legislativas, disseram para a população: "Esse cara está implementando políticas que vocês não querem, essa é uma política ruim". Eles tiraram democratas das duas casas do Legislativo e conquistaram maioria no Senado. Por isso, Obama não pode propor e fazer passar outra reforma desse porte novamente, seja sobre imigração, mudança climática ou qualquer outra.

O mesmo aconteceu com Bill Clinton. O pilar de sua gestão, quando se tornou presidente em 1993, era a reforma da assistência médica. Ele propôs uma reforma, organizada por Hillary Clinton, que não passou em nenhuma das casas do Congresso, ainda que seu partido tivesse maioria. Os republicanos usaram isso nas eleições legislativas em 1994 e ganharam as duas casas, o que não acontecia desde as eleições de 1952. Foi um desastre. Como diz o próprio Bill Clinton, "eu nunca fui capaz de passar nada grande". E não foi capaz porque os republicanos mantinham controle sobre o Congresso durante seu governo, após os primeiros anos.


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Qual é o papel da relação do presidente com o Congresso no dia a dia para o sucesso de uma gestão?
Em primeiro lugar, o presidente trabalha por meio de assessores. Ele não passa muito tempo com membros do Congresso. E, geralmente, o tempo que ele passa com parlamentares é dedicado ao seu próprio partido, sobretudo aos líderes, ou seja, pessoas que já estão inclinadas a apoiá-lo. O partido de oposição não quer nenhuma relação com o presidente. Eles nem ao menos aparecem para tomar um drinque, participar de uma recepção na Casa Branca. Quando há reuniões com o partido de oposição, elas tendem a não ser muito produtivas. Esses políticos não desejam entrar em acordo com o presidente – e diriam que o presidente não quer negociar com eles. Então, em termos da interação real, as relações do presidente com o Congresso são modestas. Se o partido de situação tem maioria, essa maioria trabalha com a Casa Branca para formular uma lei, mas se o partido de oposição é majoritário, ele não vai colaborar muito com o governo.

A propósito, qual é a relação de Obama com o Parlamento?
Atualmente, os republicanos, da oposição, têm maioria em ambas as casas e não dão a mínima para o que Obama pensa, ao mesmo tempo que sabem que ele não vai apoiar suas propostas. Se passarem pelo Congresso, o presidente as veta. Mas eles não estão pensando: "O que ele acha disso? Nós deveríamos ajustar essa proposta de alguma forma?". Estão apenas fazendo o que querem fazer. O presidente tem entrada junto ao partido minoritário, apenas. Seus assistentes o mantêm informado, mas isso não tem nenhum impacto, pois, em última análise, a maioria do Congresso pode fazer o que quer. Os membros da oposição tomam posições contrárias ao presidente para agradar ao seu eleitorado. Esta é a natureza das relações hoje, quando o partido do presidente não é majoritário. Quando a situação é maioria, ela tende a trabalhar com a Casa Branca para elaborar leis, em parte porque quer agradar ao presidente, produzindo resultados para a população, mas também porque não quer ser vetada. Em suma, o partido de situação colabora com a Casa Branca e o partido de oposição não, tal é o nível de polarização atual. Um ataque terrorista poderia unir os dois lados em curto prazo, mas basicamente eles não trabalham bem juntos.

Que lideranças oferecem material mais rico para sua pesquisa?
Gosto de lidar com casos que desafiam minha teoria. Como já disse, minha tese é de que os presidentes não podem mudar a opinião pública. Estudei todos os presidentes recentes sobre os quais temos material, mas comecei com Bill Clinton e Ronald Reagan, porque eles foram grandes presidentes. Ronald Reagan é reconhecido como ótimo comunicador, Bill Clinton, por dar boas explicações. Se eu tivesse escolhido Jimmy Carter e Gerald Ford, não haveria maior impacto, porque eles não convenciam ninguém mesmo. Assim, escolhi Reagan, um grande comunicador, para investigar se a opinião pública mudava sob sua influência. A resposta é não.

E o mesmo funciona para o Congresso?
Sim. Os presidentes podem convencer membros do Legislativo a fazer algo que não estariam dispostos a fazer? Tomo Lyndon Johnson, famoso por ser um grande legislador, e pergunto: ele teve melhor desempenho que John Kennedy, um presidente mais reservado, não tão próximo do Congresso? Johnson esteve no Congresso por muitos e muitos anos. Quando Kennedy estava no Congresso, ele passava o tempo fazendo discursos com o objetivo de se tornar presidente. Ou seja, Johnson era uma pessoa do parlamento, e Kennedy nunca foi, de modo que é adequado comparar os dois. Ambos eram democratas, viveram no mesmo período. A questão é: Johnson lidou melhor com os congressistas que Kennedy? Outra vez, a resposta é não. Eu escolho Johnson porque ele desafia mais minha teoria. Ele é quem supostamente causaria maior impacto como personalidade, como legislador habilidoso e persuasivo. Mas isso não acontece.

O senhor já mostrou, contudo, que Lyndon Johnson soube reconhecer oportunidades...
Ele fez coisas brilhantes, muitas mudanças aconteceram. A questão não é que aconteceram mudanças, mas por quê. No caso de Johnson, ele entendeu que as condições eram favoráveis, contava com amplas maiorias liberais que queriam fazer o que ele estava propondo. Ele sabia que aquelas condições não estariam lá para sempre, então impulsionou tantos projetos quanto pode e foi implacável. Esta foi sua habilidade verdadeira, seu trunfo: reconhecer a oportunidade e aproveitá-la. E não o que ficou conhecido como "tratamento Johnson", olhar próximo ao rosto da pessoa, pegá-la pelo colarinho e dizer: "você tem que fazer o que eu quero". Temos gravações de Johnson em que ele não está fazendo isso, temos relatos de pessoas com quem ele trabalhava, e elas tampouco falam sobre isso. Elas dizem que não era desse modo que as coisas funcionavam. Temos muitas evidências, e agora fazemos também modelos matemáticos. Tudo aponta para a mesma direção. Enfim, esse é o tipo de pessoa que gosto de escolher. Como eu falei, se eu te disser que Jimmy Carter não era bom em lidar com o Congresso, você pode não se impressionar, mas se eu disser que Lyndon Johnson não fazia melhor, talvez você se impressione.

Voltando à questão da compreensão equivocada de um presidente sobre suas próprias qualidades e recuando ainda mais no tempo: o que é possível dizer sobre Franklin Delano Roosevelt e o New Deal?
O caso de Roosevelt é bem interessante. Se você pergunta às pessoas quem foi o maior líder político no século 20, nos Estados Unidos, a maioria responde que foi Franklin Roosevelt. Ele foi presidente por um longo período, inclusive durante duas grandes crises, a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial. Roosevelt teve expressiva vitória eleitoral em 1936, sua segunda eleição, estava no auge de seu poder, com muita popularidade. No ínício de 1937, ele enviou uma lei ao Congresso para reorganizar a Suprema Corte, chamada "court-packing plan". Seu objetivo era adicionar mais membros à Suprema Corte, para que o tribunal votasse a favor do New Deal [programa de reforma e recuperação da economia americana]. É claro que ele contava com imensas maiorias democratas no Congresso, mas a legislação nunca foi submetida a votação em nenhuma das casas. Ela afastou muitas pessoas e motivou os democratas conservadores do Sul a trabalhar com os republicanos, acabando com o New Deal. Apesar de Roosevelt estar no auge de seus poderes, ter vencido as eleições e contar com maioria no Congresso, ele não foi capaz de passar a legislação. Se eu tento algo e não consigo, tudo bem, é uma pena, talvez eu tente outra vez. Mas ele não só falhou, como teve um desastre político, e é disso que estou falando. Quando um presidente avalia mal suas habilidades para governar, as consequências podem ser dramáticas.

(Itamar Rigueira Jr. e Beatriz Cordeiro Lopes)

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