Durante a mesa-redonda Desenvolvimento social e inovações, a última da programação da Conferência internacional sul-americana: territorialidades e humanidades, o pesquisador Fernando Ortega, da Associación Peruana de Prospectivas e Estudios del Futuro (Aproef), afirmou que, desde 2011, a sociedade mundial vivencia o período caracterizado pela convergência tecnológica e uso de tecnologia inteligente, o que ele chamou de “quarta revolução industrial”. “Hoje, muitas forças convergem como protagonistas no cenário de desenvolvimento da sociedade – diferentemente de épocas anteriores, em que esse processo era impulsionado por apenas um fator principal, entre fogo, cerâmica, bronze, ferro, eletricidade e informática”, disse ele, no início desta tarde, no auditório da Faculdade de Ciências Econômicas. Ortega destacou que é possível estabelecer alguns “pontos de inflexão” para explicar a evolução da humanidade. O mais remoto marco reconhecido pela literatura, segundo o pesquisador, se deu por volta do ano 650 a.C., quando emergiram as grandes religiões e os primeiros filósofos pré-socráticos. “Desde então, a curva de evolução é quase vertical”, disse. Outro importante ponto de inflexão se deu já na segunda metade da década de 1990, quando foi anunciada a possibilidade de clonagem dos seres humanos e animais, simbolizada pela ovelha Dolly. “Foi a primeira vez que a sociedade civil, cientistas sociais e humanistas detiveram o avanço da tecnologia. Sem esse freio, hoje veríamos crianças clonadas andando pelas ruas”, afirmou. A robotização das relações no planeta, como afirma Fernando Ortega, tende a se consolidar nas próximas décadas. “O momento em que as máquinas são capazes de antecipar e recomendar coisas será sucedido pela etapa em que os robôs tomarão, eles próprios, as decisões”, previu o pesquisador. Segundo Ortega, pesquisas do Aproef projetam para o ano de 2030 inovações como a produção de carne em laboratório. Em 2050, conforme indicam os estudos, a sociedade discutirá a possibilidade de matrimônio entre humanos e robôs. Economia compartilhada Para Inguelore, o conceito de economia compartilhada deveria ser incorporado de forma mais abrangente. “Em São Paulo, já existem soluções arquitetônicas como prédios de apartamentos com 14 metros quadrados, onde os moradores compartilham ferramentas, lavanderia, escritório e academia. Na Europa, a maioria dos jovens não deseja ter o próprio carro, porque há sistemas de compartilhamento de automóveis”, exemplificou. O secretário-geral do Conselho Internacional de Filosofia e Ciências Humanas (CIPSH), Luiz Oosterbeek, falou sobre as motivações da sociedade para a inovação. “Inovamos para nos adaptar a alguma mudança ao nosso redor, seja cultural, espacial ou de outra natureza. Buscamos a acomodação por meio da flexibilidade comportamental, da migração, da mudança de estratégias ou da inovação”, disse, salientando que, “para a maioria dos seres, é preferível que não haja estímulo para mudar”. A ativista Maristela Fonseca [foto] descreveu as atividades desenvolvidas desde 2002 no âmbito do Instituto Kairós, ONG sediada no distrito de São Sebastião das Águas Claras, no município de Nova Lima. “Com o objetivo de gerar tecnologias sociais orientadas para o desenvolvimento humano, atuamos por meio do fortalecimento de redes sociais e educativas, da autonomia produtiva, do protagonismo cultural das comunidades, da valorização dos recursos naturais e da biodiversidade”, explicou. A exposição da professora Virgínia Ciminelli, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da UFMG, teve como tema a relação entre recursos minerais, inovação e desenvolvimento social. “Nenhum desenvolvimento se sustenta apenas com aproveitamento dos recursos naturais, mas com investimento em educação, ciência, tecnologia e planejamento”, defendeu.
A professora Inguelore Scheunemann [foto], da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), dissertou sobre a urgência da adoção de mudanças comportamentais em todo o mundo, principalmente no que diz respeito à redução do desperdício. “Usando apenas 8% de seu território, o Brasil produz o suficiente para alimentar 1 bilhão de pessoas. É necessário produzir mais?”, questionou.