Universidade Federal de Minas Gerais

Fotos: Foca Lisboa / UFMG
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Deputado federal Patrus Ananias dividiu a mesa de abertura do evento com Renato Sérgio Maluf, da UFRRJ: segurança alimentar e debate sobre a conjuntura do país

Em cerimônia de abertura, Patrus Ananias recomenda estudo, engajamento e resistência para enfrentar as ameaças sofridas pelo Brasil

segunda-feira, 17 de outubro de 2016, às 18h08

“Talvez estejamos entrando em período difícil e relativamente longo de opressão no Brasil. Não nos resta outro caminho senão nos colocarmos mais uma vez de pé.” Com essa convocação ao engajamento e à participação na vida pública do país, o deputado federal Patrus Ananias encerrou sua comunicação na mesa-redonda Cultivar vidas: ciência e sociedade, que deu início, na manhã desta segunda-feira, 17, às atividades da 25ª Semana do Conhecimento UFMG.

Patrus dividiu a mesa com Renato Sérgio Maluf, professor titular do Departamento de Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que em sua palestra abordou a construção do campo de conhecimento em saúde alimentar e nutricional no Brasil. O encontro foi mediado pelo reitor Jaime Ramírez.

_MG_6312.jpg A professora Benigna Maria de Oliveira, pró-reitora de Extensão – instância da UFMG responsável pela organização desta edição do evento – destacou que a Semana, ao integrar as comemorações dos 90 anos da UFMG, colabora para a reflexão sobre o perfil de instituição almejado neste século. “Estamos numa semana que aponta para o futuro. É um evento que fortalece nosso entendimento sobre o tipo de universidade que queremos ser: uma universidade pública, de qualidade”, afirmou.

"O protagonismo no evento é daqueles que apresentarão seus trabalhos, pessoas que constroem essa universidade e que não querem perder as conquistas alcançadas”, disse. Segundo Benigna, há mais de cem atividades cadastradas, entre palestras, debates, cursos, oficinas e atividades culturais. A programação da 25ª Semana do Conhecimento segue até sexta-feira, 21.

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Jaime Ramírez coordenou a mesa de abertura e o diálogo entre os dois palestrantes. “Estamos muito contentes com a riqueza das atividades desta 25ª Semana do Conhecimento. Teremos uma semana de intensa atividade, uma programação muito rica”, declarou.

Contra a PEC 241
Antes das palestras de Patrus Ananias e Renato Maluf, uma aluna de doutorado da Universidade subiu ao palco [em foto abaixo] e pediu a palavra para discutir questões caras ao corpo discente da universidade, como a assistência estudantil – tocando em temas como a carência por bolsas e o preço da alimentação nos restaurantes universitários – e a necessidade de maior mobilização acadêmica contra a PEC 241, que tramita atualmente no Congresso com o objetivo de criar um teto para os gastos públicos do país nas próximas duas décadas. No meio da plateia, outros alunos expunham cartazes em protesto contra a PEC.

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Após a manifestação, Patrus iniciou sua exposição discutindo a perspectiva de direito à vida inerente às questões relativas à alimentação. “O direito à vida não é uma abstração, como o pensamento liberal muitas vezes preconiza. O direito à vida pressupõe o atendimento às necessidades materiais básicas das pessoas e, a partir daí, a outras necessidades”, disse. “Ele pressupõe alimentação, os cuidados – inclusive preventivos – relativos à saúde, à moradia digna, à água potável, ao acesso aos bens da educação, ao conhecimento à cultura. Enfim, tudo aquilo que possibilita o desabrochar pleno da vida humana em suas dimensões pessoal e coletiva, comunitária", acrescentou.

Patrus recorreu a exemplos da literatura para sugerir ter sido a fome, no decorrer do século 20, um dos maiores problemas nacionais. “O Brasil se mobilizou: foi crescendo uma consciência nacional de que a fome, a insegurança alimentar, a desnutrição são situações incompatíveis com um país com o tamanho e com os recursos do Brasil”, disse. O ex-ministro citou, por exemplo, obras como Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, Vidas secas, de Graciliano Ramos, Os sertões, de Euclides da Cunha e Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.

Fome Zero
O deputado federal não se furtou a lembrar o trabalho de combate à fome realizado pelos últimos governos federais a partir do Programa Fome Zero, criado em 2003 – iniciativa que, segundo Patrus, nasceu inspirada na experiência de Belo Horizonte, em razão de medidas tomadas durante sua gestão à frente da Prefeitura da cidade, entre 1993 e 1996. “Nós escrevemos um capítulo importante na história do direito à alimentação e à segurança alimentar e nutricional”, garantiu o político.

Patrus encerrou sua comunicação comentando o atual cenário de desolação vivido por grande parte da comunidade acadêmica do país, em razão das medidas que vêm sendo tomadas pelo governo que assumiu o poder após o impeachment. Como exemplo, ele citou a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário, um entre vários “sinais aterradores do que estamos prestes a viver em relação às políticas sociais de inclusão e justiça social”, disse.

Em seguida, referiu-se à PEC 241, em tramitação no Congresso Nacional. “Quando li o texto dessa PEC, fiquei apavorado. Estamos sendo atropelados. Ela desmonta as políticas sociais, desmonta o Estado brasileiro, congela por 20 anos as políticas de pesquisa, de desenvolvimento tecnológico e científico, os investimentos nas universidades. Ela simplesmente compromete a soberania nacional.

Por fim, ele propôs estudo, engajamento e participação como elementos da resistência ao que considera ameaças às conquistas alcançadas pelo país nos últimos anos. “O que devemos fazer contra tudo isso? Devemos estudar. Temos de ampliar os espaços do nosso conhecimento. Nós, brasileiros, estamos pensando muito baixo – inclusive nós, da esquerda, que queremos mudar o Brasil e construir aqui o que Darcy Ribeiro chamava de ‘a civilização amorosa dos trópicos’. Nós, que queremos fazer desta uma pátria soberana, economicamente forte, socialmente justa, saudável do ponto de vista ambiental, comprometida com as gerações presentes e com as futuras, precisamos alargar também as fronteiras das nossas reflexões", concluiu, aplaudido de pé.

_MG_6353.jpg (In)segurança alimentar
Em sua palestra, Renato Maluf discutiu a construção do campo social e científico da segurança alimentar e as perspectivas que se apresentam para a área a partir da recente reconfiguração da cena política brasileira. “Em certos aspectos, estamos retornando aos difíceis anos 90. Em outros aspectos, o cenário que se apresenta é ainda pior – para nós, da universidade, sobretudo. A segurança alimentar é hoje um conceito com seus significados sob disputa”, alertou.

Para Renato Sérgio Maluf, o processo de impeachment desencadeado nos últimos meses foi um golpe parlamentar, com forte impacto para o campo das ciências – simbolizado, sobretudo, pela junção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com o Ministério das Comunicações, iniciativa amplamente criticada pela comunidade científica brasileira.

O pesquisador ilustrou o cenário crítico e restritivo advindo desse contexto com um caso que chamou a atenção da comunidade científica nos últimos dias: a saída da coordenadora da área de saúde do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Fabíola Sulpino Vieira. A economista havia se valido de dados do próprio órgão para elaborar análise sobre os impactos negativos da PEC 241. Como consequência de pressões internas que teria sofrido em razão da publicação, ela pediu exoneração do cargo, no que seria um exemplo do risco a que estaria exposta a autonomia da produção intelectual e científica brasileira.

À luz desse exemplo, Maluf afirmou que o país vive momentos de desconstrução e ressignificação. “Não é preciso acabar de fato com um programa, como o de segurança alimentar, para desmobilizá-lo. Basta dizer que a segurança alimentar é um problema de uma área diversa, como a da biologia, por exemplo, para desvirtuá-lo”, disse. “A disputa pelos significados vai se acentuar. E é aí que a pesquisa acadêmica entra. Concordo com o Patrus: em tempos obscuros, é preciso estudar e pesquisar, mas também precisamos fazer a pesquisa repercutir no debate público. O Brasil, infelizmente, tem pouca tradição de debate público”, disse. “Será uma longa noite, mas a resistência também é uma maneira de viver. Estamos, sim, em perigo", afirmou.

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A pró-reitora de Extensão, Benigna Maria de Oliveira, o reitor Jaime Ramírez, a vice-reitora Sandra Goulart Almeida, a pró-reitora adjunta de Extensão, Cláudia Mayorga

A cerimônia de abertura foi encerrada com apresentação do músico Gilberto Mauro. Assista ao vídeo da TV UFMG.

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