Artigo publicado no último dia 30, no periódico Plos One, calcula os prejuízos para a economia brasileira decorrentes do declínio das populações de insetos polinizadores, dos quais dependem 68% das 53 principais culturas alimentares no país. Ao traduzir em perdas econômicas, a intenção é chamar a atenção para o cenário "devastador e cumulativo" da intervenção humana sobre o meio ambiente, afirma o professor Geraldo Wilson Fernandes, do Departamento de Biologia Geral, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Fernandes é um dos autores do artigo Effects of a possible pollinator crisis on food crop production in Brazil, produzido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre do ICB, em parceria com pesquisadores das universidades Federal de Lavras e Nacional Autónoma do México. “Utilizamos números com o intuito de alertar, já que a informação de que o meio ambiente vem sendo severamente afetado não parece estar sendo levada a sério”, enfatiza Fernandes, Segundo ele, a perda de insetos está relacionada às mudanças globais que ameaçam a continuidade da existência de várias espécies de seres vivos. “Já se constatou a tendência, especialmente em países de clima temperado, de desaparecimento de abelhas, o que se reverte em grandes prejuízos para a economia”, comenta. O artigo demonstra que a destruição de vegetações nativas – que têm sido substituídas por monoculturas – somada ao uso indiscriminado de inseticidas e herbicidas resulta em um cenário preocupante. Números “A fim de priorizar os esforços de conservação de polinizadores, avaliamos em que medida a produção de alimentos depende dos polinizadores animais no Brasil – um dos líderes mundiais da agricultura – comparando a área cultivada, o volume produzido e o valor de rendimento das principais culturas alimentares dependentes de polinizadores”, escrevem os autores no resumo do artigo. O trabalho também informa que o declínio recente desses agentes na Europa e na América do Norte despertou a atenção para uma possível crise mundial polinizadora. A perda de serviços de polinização para 29 das principais culturas alimentares reduziria a produção em 16,55 milhões a 51 milhões de toneladas, correspondendo a perdas econômicas de 4,86 bilhões a 14,56 bilhões de dólares por ano, com a consequente queda da contribuição agrícola para o PIB brasileiro de 6,46% a 19,36%. “Os principais efeitos de uma crise polinizadora no Brasil seriam sentidos pelas classes mais pobres e rurais, devido à renda menor e à dependência direta ou exclusiva desse serviço ecossistêmico”, adverte o trabalho. Geraldo Wilson Fernandes comenta que os prejuízos para o meio ambiente vão muito além das culturas importantes para a agricultura, pois o uso indiscriminado de inseticidas e herbicidas e a substituição de florestas por monocultura vão levar a “uma grande perda de outras espécies. É um efeito em cascata, ou melhor, um verdadeiro tsunami”, reitera. Além de adotar a prática de manter fragmentos de florestas, o professor da UFMG defende maior investimento em pesquisas, buscando na ciência possíveis soluções. “Os diversos setores da sociedade precisam ser capazes de sentar e discutir estratégias inteligentes para o uso sustentável dos recursos naturais”, afirma. Artigo: Effects of a possible pollinator crisis on food crop production in Brazil (Ana Rita Araújo)
No trabalho, os pesquisadores traçaram dois cenários, considerando o serviço ecossistêmico de polinização, com base no grau de dependência de polinizadores de cada cultura e o consequente declínio na produção de alimentos para o Produto Interno Bruto (PIB) e a segurança alimentar brasileiros.
Autores: Samuel Novais (UFMG e Universidad Nacional Autónoma de México), Cássio Nunes
(UFV), Natália Santos (UFMG), Ana D`Amico (UFMG e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio, Rondônia), Geraldo Wilson Fernandes (UFMG), Maurício Quesada
(Universidad Nacional Autónoma de México), Rodrigo Braga (UFV), Ana Carolina Neves (UFMG)