Universidade Federal de Minas Gerais

Foto: Daniel Protzner / UFMG
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Joana Ziller: redes sociais revelam preconceitos e reforçam estereótipos

'Lugares de conforto', redes sociais colaboram para uma visão deturpada da realidade, afirma professora da UFMG

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017, às 12h26

Em média, um usuário do Facebook tem 338 amigos. Se cada um faz duas ou três publicações por dia, o resultado são quase mil conteúdos para serem acompanhados diariamente pelo usuário médio da rede – isso sem contar as postagens de personalidades públicas ou de veículos de comunicação que ele opta por seguir. A inviabilidade desse acompanhamento intensivo é uma das explicações para a existência de algoritmos por trás das redes sociais, cuja função básica é escolher automaticamente – no lugar do usuário – aquilo que se supõe ser do seu interesse ver, em detrimento de outros conteúdos.

Essa “curadoria algorítmica de conteúdo” foi um dos assuntos abordados na palestra Ela postou, eu não vi: lógicas de visibilidade e invisibilidade em rede, ministrada pela professora Joana Ziller, do Departamento de Comunicação, na manhã desta terça-feira, 21, no Conservatório UFMG, no âmbito do 11º Festival de Verão. Com diversificada programação, o evento segue até quinta, 23.

“Temos nesses ambientes um olhar que se constitui também pela falta, pela ausência, pelo que deixamos do lado de fora. Sempre que nosso olhar é convocado para algo, deixamos de olhar para outras coisas”, introduziu a pesquisadora.

Conforme Ziller, a forma como essa relação de destaque e silenciamento ocorre no mundo virtual é diferente da forma como se dá na vida física, gerando consequências negativas para a nossa compreensão do mundo. “O algoritmo é uma espécie de conta, que é feita de uma grande quantidade de ‘se’ e ‘então’: se isso, então aquilo. Em razão disso, caso demonstre interesse por um assunto ou formato, com o tempo você receberá cada vez mais conteúdos sobre aqueles assuntos e naqueles formatos", explicou a professora. O efeito negativo dessa seleção, salientou Ziller, reside no fato de que as as opiniões diferentes e as produções realizadas em formatos distintos tendem a ser cada vez menos oferecidas.

Bolhas
“Minha página no Facebook, por exemplo, é um lugar de conforto para mim. Fico feliz em abri-la e ver que nela não há homofóbicos, não há racistas, ver que as pessoas entendem as lutas indígenas. Contudo, esse não parece ser um retrato amplo da sociedade”, explica. Nesse sentido, as timelines funcionam como bolhas, que reportam uma realidade muito agradável para o usuário, mas completamente distorcida em relação ao que de fato se passa no mundo, em sua pluralidade.

Joana citou outro exemplo de como essa realidade restritiva pode ser percebida. “Se olharmos as curtidas que recebemos em nossas postagens, perceberemos que são sempre as mesmas pessoas que curtem. Isso ocorre porque é sempre para as mesmas pessoas que as nossas postagens aparecem; apenas para elas”.

Falar ou ser ouvido?
Joana Ziller aponta ainda outro problema: as deduções simplistas que se imiscuem nos algoritmos, revelando preconceitos e reiterando estereótipos. “Se você é mulher, por exemplo, a rede vai automaticamente considerar que você gosta de certo tipo de conteúdo. Há um certo ‘Dr. Lava Tudo’, por exemplo, que sempre aparece na minha timeline, com ofertas de serviços para casa: lavam tapetes, sofás, essas coisas. Esse é um cálculo que parte do estereótipo de gênero: a ideia de que é a mulher a responsável por cuidar da casa”, afirma ela. Alguns mulheres da plateia comentaram que também recebem a mesma propaganda frequentemente, mesmo nunca tendo demonstrado interesse no serviço.

Para Joana, que é pesquisadora do Centro de Convergência de Novas Mídias (CCNM) da UFMG, as redes sociais trouxeram um grande benefício: deu voz aos que antes não tinham acesso a meios massivos de expressão. Contudo, o valor desse ganho talvez seja menor que o estimado. “As mídias sociais permitiram que muitos pudessem falar, mas falar não significa, necessariamente, ser escutado.”

A professora ainda lembrou que, em certo momento, chegou-se a ver com otimismo o advento das redes sociais em função de sua suposta capacidade de fortalecer grupos minoritários e marginalizados. No entanto, verifica-se que, no atual estágio, as mesmas mídias proporcionam, paradoxalmente, a desconsideração do outro – inclusive em círculos mais progressistas, que teoricamente se relacionam mais intimamente com a ideia de diversidade.

Para a professora do Departamento de Comunicação, o fato de visões diferentes despontarem cada vez menos nas timelines colabora para um perigoso endurecimento das posições. “Se não tenho a oportunidade de tomar conhecimento da existência do outro nos meus lugares e espaços de sociabilidade e de suas diferenças em relação a mim, as questões próprias desse outro, suas opiniões, vão me importar cada vez menos”, concluiu.

A professora Joana Ziller também falou sobre suas pesquisas à reportagem das Redes Sociais da UFMG. Assista ao vídeo.

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