Os desafios que a diversidade impõe à universidade foram abordados pela professora Nilma Lino Gomes, da Faculdade de Educação (FaE), em conferência na noite desta segunda-feira, 15, no campus regional da UFMG em Montes Claros. O evento marcou as comemorações dos 41 anos de fundação do campus e integra a programação dos 90 anos da UFMG. Apropriado originalmente por movimentos sociais ligados a pessoas com deficiência, o uso do termo “diversidade” se expandiu nas últimas duas décadas, tendo alcançado todos os campos da sociedade e da produção do conhecimento. “A partir do início do século 21, esse termo começa também a se relacionar com os dilemas e avanços de diferentes sujeitos sociais transformados em desiguais pelas relações de poder”, analisou a professora, que foi ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Em sua opinião, nas décadas de 1980 e 90 dificilmente seria realizada uma mesa para discutir o tema Universidade, conhecimento e diversidade: conquistas e desafios, embora a relação entre essas três dimensões seja tão antiga quanto a história dessa instituição. “Vivemos no reino da diversidade. O que temos hoje é uma politização das questões da diversidade que antes não tínhamos ou era quase inexistente”, pontuou. Para a professora, as mudanças vividas neste século, incluindo a quebra e a aproximação de fronteiras por meio de uma “intensa vida on-line”, proporcionam o contato entre ideologias e fazem circular valores, sujeitos, preconceitos e visões sobre o compromisso social com a vida e com o planeta: “Nesses últimos 20 anos os diversos sujeitos sociais passaram a ocupar no mundo outro lugar de protagonismo, como coletivos sociais, mais do que sujeitos sociais. E passaram a usar a tecnologia e a cultura digitais para disseminar suas ideias e respaldar suas ações – e isso o mundo hoje usa para o bem e para o mal”. Abertura Citando o intelectual português Boaventura de Sousa Santos, Nilma Lino lembrou que esse novo cenário leva à compreensão de como o mundo é diverso e como a experiência social do mundo é muito mais rica e intensa do que a experiência individual do mundo. “Somos hoje obrigados a ver o outro, o diferente, não somente na sua diferença, mas principalmente reivindicando o direito à sua diferença e, ao mesmo tempo, a igualdade de direitos. E isso faz toda a diferença.” A professora da Faculdade de Educação ressaltou que essa efervescência social e mundial caminha lado a lado com a exploração capitalista do mundo e seus impactos na produção do conhecimento – não somente na área das humanidades. “Isso desafia a Universidade a fazer outras perguntas, questões que eram vistas como próprias de movimentos sociais e que hoje fazem parte do mundo do cientista e do técnico.” Para Nilma Lino, a diversidade, do ponto de vista crítico e político, expõe a face oculta das relações de poder e da universidade. “Escancara a face conservadora, preconceituosa, arrogante, autoritária, perturba-nos quando nos mostra que não são só as áreas sociais e das humanidades que têm que se preocupar com superação do racismo, LGBTfobia, machismo, misoginia, preconceito de classe, linguístico, regional, que estão presentes na universidade e na sociedade.” Ao abordar o retrocesso de direitos em que vive o país, Nilma Lino Gomes recorreu a Guimarães Rosa, para quem “o correr da vida embrulha tudo”. “A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta, o que ela quer da gente é coragem", disse a professora. "Por isso não desistamos, sejamos corajosos diante da universidade e da diversidade que temos no mundo hoje.”
Nilma Gomes identifica, nesse contexto, um movimento de pressão para que a universidade se abra à diversidade. Segundo ela, os sujeitos sociais passaram a pressionar a instituição e os campos de produção do conhecimento “para se ampliar, se diversificar e se enriquecer não somente como locus do saber, mas também como instâncias que participam ou que provocam processos de mudanças sociais emancipatórias”.