Universidade Federal de Minas Gerais

Carol Prado / UFMG
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Simone Almeida: setores econômicos poderosos sustentam lógica hospitalocêntrica


Leitos psiquiátricos diminuem, mas modelo manicomial ainda resiste no Brasil, conclui estudo da UFMG

quinta-feira, 18 de maio de 2017, às 10h45

O modelo de atenção à saúde mental concebido pelos responsáveis pela reforma psiquiátrica brasileira ainda não pode ser considerado majoritário. A despeito da redução global de 19% dos leitos psiquiátricos em território nacional, levantamento pormenorizado realizado na esfera municipal mostra que houve criação desse tipo de leito em muitos lugares, o que indica que ainda vigora no país o modelo manicomial.

Os dados são fruto de pesquisa da professora Simone Costa de Almeida, do Departamento de Terapia Ocupacional da UFMG, com base em indicador criado para mensurar a implantação da Lei 10.216, aprovada em 2001, que reorienta o modelo de atenção às pessoas com sofrimento mental. No lugar da internação hospitalar, a lei propõe uma rede formada por Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs), Centros de Convivência e Cultura, Unidades de Acolhimento (UAs) e leitos de atenção integral – em hospitais gerais e nos Caps.

"Quando se aproxima a lupa das esferas subnacionais, constata-se que, de 2008 a 2013, em 25,1% dos municípios o número de leitos foi reduzido, em 36,5% não houve alteração e em 38,4% houve aumento", observa a professora. A queda no cômputo geral deve-se ao fato de que municípios com grande número de leitos registraram redução significativa, como Camaragibe (PE), que baixou de 1.140, em 2008, para 105, em 2013.

Por outro lado, muitos municípios que não tinham leitos passaram a oferecer esse serviço, e outros ampliaram o estoque, como Torres, no Rio Grande do Sul, que passou de sete para 10 leitos em cinco anos. Além disso, enquanto algumas cidades cumpriram de forma exemplar os pressupostos da lei – fechamento de leitos psiquiátricos, criação de Caps e de SRTs –, outras apenas fecharam os leitos, sem criar estrutura substitutiva.

Infográficos: Lucas Braga / UFMG
grafico%20leitos%20manicomiais%202.png Considerando a estrutura federativa e a dependência política e financeira entre as três esferas de governo, a Lei 10.216 – conduzida pelo Ministério da Saúde por meio de mecanismos de indução financeira – não se mostrou suficiente para reverter a lógica centrada no hospital. "Talvez o exemplo mais claro esteja nas cidades que mantiveram os leitos psiquiátricos, sem criação de Caps e SRTs. É preciso conferir prioridade a essa política na agenda dos gestores municipais", comenta a professora, que trabalhou como supervisora de estágios em serviços substitutivos ao manicômio na rede municipal de Belo Horizonte.

Os Caps são serviços de saúde mental que atendem às pessoas em crise e que congregam número reduzido de leitos para casos emergenciais. Em Belo Horizonte e em outras cidades mineiras, recebem a nomenclatura de Centro de Referência em Saúde Mental (Cersam). Já os SRTs são casas, mantidas pelas prefeituras, que acolhem egressos dos antigos hospitais psiquiátricos – esses pacientes são atendidos nos Caps.

"Se, de um lado, a redução dos leitos psiquiátricos no Brasil é marca indelével da implementação da política antimanicomial, de outro, o embate de forças com segmentos vigorosos que defendem o modelo hospitalocêntrico, mediante o aparato econômico e político de que dispõem, retarda a mudança que se pretende na forma de tratar a loucura", enfatiza Simone Almeida.

Contradição
Segundo a professora, o achado mais destoante em sua pesquisa, por se caracterizar como contraditório à reforma, foi a criação de novos leitos. "Não conseguimos identificar como eles foram abertos. Será que resultam da força de determinados lobbies diante de brechas que a lei oferece?", questiona. Em sua tese de doutorado, defendida em 2015, a pesquisadora levanta a hipótese de que esses leitos podem ter sido abertos para atender aos usuários de álcool e outras drogas, já que portaria do governo federal permite sua internação em comunidades terapêuticas.

Para a professora, essa determinação compromete as dimensões política e ética da reforma psiquiátrica e estabelece um retrocesso no curso da política antimanicomial. "Estamos desde 1978 tentando desativar leitos, de modo a dispensar esse recurso que valoriza a segregação. Não queremos pessoas internadas, isoladas, sejam elas portadoras de sofrimento mental propriamente dito ou usuárias de álcool e outras drogas. O que se pretende com a reforma psiquiátrica é o cuidado em liberdade", enfatiza.

Indicador
Em levantamento realizado no Cadastro Nacional de Estabelecimentos da Saúde (CNES) para a elaboração do indicador, Simone Almeida recolheu as informações referentes a Caps e a leitos psiquiátricos. Os dados sobre SRT foram obtidos na Coordenação Nacional de Saúde Mental, pois não estavam disponíveis no CNES. As informações colhidas pela professora mostram que em 2008 havia no Brasil 43.113 leitos psiquiátricos, distribuídos entre 24,2% públicos, 19,3% filantrópicos e 56,5% privados. Já em 2013, eram 34,8 mil leitos, com redução de 19,3% no estoque total no âmbito do Sistema Único de Saúde.

"O setor privado foi o que mais contribuiu para a diminuição, com 37,1%, enquanto no setor público o percentual foi de 5,6%, e o filantrópico teve aumento de 13,5%", compara a professora. Em relação aos Caps, houve aumento de 56,5% no período estudado. Nos casos dos SRT, a expansão se deu em menor escala.

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(Ana Rita Araújo / Boletim 1977)

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