Universidade Federal de Minas Gerais

Fotos: Foca Lisboa/UFMG
DSC_5074.jpg
Michael Heinrich, Jaime Ramírez e Hugo Cerqueira em conferência sobre Karl Marx

'A exploração não é exclusividade do capitalismo', afirma especialista alemão em Marx

sexta-feira, 26 de maio de 2017, às 16h41

Em conferência que integra as comemorações dos 90 anos da UFMG, o matemático e cientista político alemão Michael Heinrich, da Universidade de Ciências Aplicadas de Berlim, abordou a atemporalidade da obra O capital, de Karl Marx. Um dos maiores conhecedores da obra, cuja primeira edição completa 150 anos em 2017, o especialista faz parte do Projeto Mega, que tem o objetivo de pesquisar e publicar os manuscritos e obras de Marx.

DSC_5077.jpg Na contramão de economistas e sociólogos que afirmam que a sociedade mudou e que o livro não deve servir como parâmetro para os estudos da sociedade capitalista contemporânea, Heinrich [foto ao lado] destacou a atualidade da obra. Segundo o pesquisador, O capital ainda é uma chave para se compreender o funcionamento da sociedade porque não aborda apenas o capitalismo da época em que foi publicado, mas apresenta estruturas e dinâmicas básicas do sistema que continuam vigorando nos dias atuais.

“Já no prefácio do primeiro volume de O capital, Marx utiliza exemplos da Inglaterra do século 19 para apresentar características gerais do modo de produção capitalista. Ao apresentar esses exemplos, fica claro que o objeto de análise do livro não é o capitalismo em si, mas as leis e a estrutura por trás desse regime. O capitalismo mudou, mas O capital nos fornece os elementos básicos para a condução de pesquisas atuais da área”, disse.

O especialista destacou que a obra de Marx também questiona pensadores anteriores, como o inglês Adam Smith. No primeiro capítulo do volume inaugural de O capital, Marx analisa o motivo de a mão de obra se assumir como uma forma de valor. Até então, esse questionamento não fora feito por outros pensadores. “Esse é um questionamento importante porque precisamos saber se a produção de valor é algo natural do ser humano. Além disso, Marx é o primeiro a descrever as figuras do capitalismo. Para ele, as pessoas são personificações de categorias econômicas”, explicou.

DSC_5114.jpg

Para o pesquisador, a visão do indivíduo como personificação de categorias econômicas tem consequências importantes na obra de Karl Marx, uma vez que as mercadorias são vistas por ele como possuidoras de valor de uso e de troca. “As pessoas e suas ações são importantes porque a mercadoria não chega sozinha ao mercado. Marx, no entanto, não analisa as pessoas, que são os capitalistas. Seu objeto de interesse foi a lógica e a estrutura de produção capitalista. Para ele, não importa quem são os indivíduos envolvidos no processo”, disse.

Exploração persistente
Michael Heinrich defende a ideia de que a exploração existe em todas as sociedades, não está restrita às sociedades capitalistas modernas. Para ele, o formato das regras que ditam a formação de classes é interessante para os estudos de quem se dedica ao entendimento do capitalismo.

“A exploração não é exclusividade do capitalismo. A diferença entre a exploração da sociedade capitalista moderna e aquela observada nas sociedades escravocratas, por exemplo, é que agora não existe mais a dependência pessoal. Hoje, as pessoas são cidadãos livres”, explicou.

DSC_5094.jpg

O pesquisador, no entanto, ressaltou que essa liberdade não impede que a exploração ocorra. ”Marx demonstra que a dependência pessoal é substituída por uma regra impessoal. Ele insiste que o trabalhador não vende o seu trabalho, que não é uma mercadoria, mas, sim, o seu poder de trabalho, que é tudo que ele tem. O trabalhador é forçado a se submeter ao capital, e assim se dá a exploração.”

Ao mesmo tempo, o conferencista destacou que, além dos trabalhadores, os capitalistas também sofrem exploração ao serem pressionados pela concorrência. “Para sobreviver como capitalista, é preciso que a pessoa maximize seus lucros. Dessa maneira, os capitalistas, que formam a classe dominante, também não são livres", afirmou.

Para Michael Heinrich, as teorias sobre formas de dominação são consideradas essenciais para compreender esse fenômeno. “Quando se quer mudar algo na sociedade capitalista, é necessário entender as especificidades das classes e da exploração existente nos tempos modernos. Por isso, precisamos nos debruçar sobre os três volumes da obra, e não apenas no primeiro volume, o mais conhecido.”

DSC_5042.jpgSegundo o professor Hugo da Gama Cerqueira [foto ao lado], professor do Departamento de Ciências Econômicas da Face, os estudos sobre a obra de Marx devem ser contínuos, uma vez que ela é fundamental para compreender o capitalismo. “Não podemos pensar em ciências sociais sem falar de Karl Marx. Sartre já dizia que O capital era uma obra insuperável porque enfrentava os problemas de seu tempo. É interessante notarmos que ainda hoje ela é capaz de enfrentar os novos problemas”, disse Cerqueira, que é pró-reitor de Planejamento da UFMG.

Manuscrito x versão editada
Michael Heinrich também alertou sobre as diferenças que podem ser observadas na versão de O capital editada pelo parceiro intelectual de Marx, Friedrich Engels, e nos manuscritos deixados pelo autor. Para ele, essas diferenças indicam a necessidade de mais estudos sobre a obra.

“Engels reformulou várias anotações de Marx, buscando oferecer explicações para pensamentos não concluídos do autor. A Teoria da Crise, por exemplo, foi desenvolvida por Engels, e não por Marx. O fato de Marx não ter finalizado sua obra mostra que devemos estudar os dois textos para compreendê-los melhor.”

A atuação como ativista político e seu debilitado estado de saúde foram alguns dos motivos que impediram Marx de finalizar O capital. Porém, foi outra a razão principal para a não finalização da obra. “Com as crises políticas da época e todas as transformações que ocorriam na sociedade, Marx percebeu que seria necessário acrescentar muita coisa à obra que ele estava escrevendo. Naquele momento, o capitalismo assumiu formas diferentes, e ele sentiu que precisava expandir seu escopo de pesquisa, o que não teve tempo de fazer porque morreu aos 64 anos. Precisamos reconhecer Marx como um produtor de fragmentos, e não de uma obra fechada”, concluiu.

Em entrevista à TV UFMG, Michael Heinrich falou sobre a obra de Marx e as comemorações dos 90 anos da Universidade.

05/set, 13h24 - Coral da OAP se apresenta no Conservatório, nesta quarta

05/set, 13h12 - Grupo de 'drag queens' evoca universo LGBT em show amanhã, na Praça de Serviços

05/set, 12h48 - 'Domingo no campus': décima edição em galeria de fotos

05/set, 9h24 - Faculdade de Medicina promove semana de prevenção ao suicídio

05/set, 9h18 - Pesquisador francês fará conferência sobre processos criativos na próxima semana

05/set, 9h01 - Encontro reunirá pesquisadores da memória e da história da UFMG

05/set, 8h17 - Sessões do CineCentro em setembro têm musical, comédia e ficção científica

05/set, 8h10 - Concerto 'Jovens e apaixonados' reúne obras de Mozart nesta noite, no Conservatório

04/set, 11h40 - Adriana Bogliolo toma posse como vice-diretora da Ciência da Informação

04/set, 8h45 - Nova edição do Boletim é dedicada aos 90 anos da UFMG

04/set, 8h34 - Pesquisador francês aborda diagnóstico de pressão intracraniana por meio de teste audiológico em palestra na Medicina

04/set, 8h30 - Acesso à justiça e direito infantojuvenil reúnem especialistas na UFMG neste mês

04/set, 7h18 - No mês de seu aniversário, Rádio UFMG Educativa tem programação especial

04/set, 7h11 - UFMG seleciona candidatos para cursos semipresenciais em gestão pública

04/set, 7h04 - Ensino e inclusão de pessoas com deficiência no meio educacional serão discutidos em congresso

Classificar por categorias (30 textos mais recentes de cada):
Artigos
Calouradas
Conferência das Humanidades
Destaques
Domingo no Campus
Eleições Reitoria
Encontro da AULP
Entrevistas
Eschwege 50 anos
Estudante
Eventos
Festival de Inverno
Festival de Verão
Gripe Suína
Jornada Africana
Libras
Matrícula
Mostra das Profissões
Mostra das Profissões 2009
Mostra das Profissões e UFMG Jovem
Mostra Virtual das Profissões
Notas à Comunidade
Notícias
O dia no Campus
Participa UFMG
Pesquisa
Pesquisa e Inovação
Residência Artística Internacional
Reuni
Reunião da SBPC
Semana de Saúde Mental
Semana do Conhecimento
Semana do Servidor
Seminário de Diamantina
Sisu
Sisu e Vestibular
Sisu e Vestibular 2016
UFMG 85 Anos
UFMG 90 anos
UFMG, meu lugar
Vestibular
Volta às aulas

Arquivos mensais:
outubro de 2017 (1)
setembro de 2017 (33)
agosto de 2017 (206)
julho de 2017 (127)
junho de 2017 (171)
maio de 2017 (192)
abril de 2017 (133)
março de 2017 (205)
fevereiro de 2017 (142)
janeiro de 2017 (109)
dezembro de 2016 (108)
novembro de 2016 (141)
outubro de 2016 (229)
setembro de 2016 (219)
agosto de 2016 (188)
julho de 2016 (176)
junho de 2016 (213)
maio de 2016 (208)
abril de 2016 (177)
março de 2016 (236)
fevereiro de 2016 (138)
janeiro de 2016 (131)
dezembro de 2015 (148)
novembro de 2015 (214)
outubro de 2015 (256)
setembro de 2015 (195)
agosto de 2015 (209)
julho de 2015 (184)
junho de 2015 (225)
maio de 2015 (248)
abril de 2015 (215)
março de 2015 (224)
fevereiro de 2015 (170)

Expediente