A autoria feminina no meio literário será abordada em evento sediado na Faculdade de Letras (Fale) e organizado pelo Grupo de Pesquisa Letras de Minas, a partir de amanhã, 31, até a próxima sexta-feira, 2 de junho. Com o tema Cartografias do corpo, a nona edição do Colóquio Mulheres em Letras vai homenagear as escritoras brasileiras Maria Firmina dos Reis (1825-1917), Clarice Lispector (1920-1977) e Nélida Piñon (1937). De acordo com a professora da Fale Constância Lima Duarte, uma das organizadoras do evento, o Colóquio tem estimulado reflexão acerca da importância da presença feminina no campo literário brasileiro. Segundo ela, a entrada das mulheres nesse cenário foi tardia no país. “Só os homens escreviam, só os homens sabiam ler, só os homens publicavam”, recorda em entrevista à TV UFMG, que pode ser assistida na íntegra em vídeo acima. A autorização para que as mulheres pudessem frequentar as escolas no país veio apenas em 1827, por meio de lei decretada por Dom Pedro I. A extensão do direito à alfabetização às meninas e mulheres brasileiras surgiu, então, mais de 300 anos após o início da colonização. “Os garotos, filhos da elite, já iam estudar em Paris, Coimbra, Lisboa. As meninas ficavam em casa, esperando a hora do casamento. As primeiras que foram alfabetizadas e tiveram acesso ao letramento se apoderaram imediatamente da leitura, da escrita e da crítica, e começaram a escrever”, destaca Constância Duarte. Mesmo havendo escritoras desde o século 19, a professora da Fale acredita que o corporativismo masculino impedia que suas obras se tornassem conhecidas. “Hoje, o cenário é bem diferente: o lugar conquistado pelas mulheres é inegável, fruto do seu mérito e competência. Um traço muito marcante na literatura de autoria feminina é exatamente trazer essa vivência”, afirma a professora, na entrevista. Programação Ao longo dos três dias, vão compor a programação, entre outros, os seguintes temas: Experiências dos estudos de gênero em arte, cultura e educação, A constituição da identidade feminina/feminista, Diálogos e representatividade da mulher negra, As mulheres e a imprensa periódica e A transexualidade e a academia mineira de transliteratura. No encerramento, às 19h30 da sexta-feira, 2, serão realizados sorteios de livros, sarau de poesia, lançamentos e sessões de autógrafos de livros. As atividades do Grupo de Pesquisa Letras de Minas podem ser acompanhadas pelo site Mulheres em Letras e pela página no Facebook. Mapeamento Ouça a íntegra da entrevista, conduzida pela apresentadora Michele Bruck:
O evento será aberto nesta quarta, às 8h30, no Auditório 1007 da Fale. A programação do dia inclui sessões de homenagens às escritoras Maria Firmina dos Reis (10h), no mesmo local, e Clarice Lispector (10h), no Auditório 2001.
A professora Constância Lima Duarte também falou à Rádio UFMG Educativa. Em entrevista que foi ao ar nesta segunda-feira, dia 29, no programa Universo Literário, ela discorreu sobre o tema Cartografias do corpo, que orienta as atividades da nona edição do Colóquio. "A ideia é fazer um mapeamento mais amplo da produção literária feminina, englobando perspectivas com viés de classe, de etnia e até mesmo temporal, considerando que abordaremos tanto escritoras mais antigas, dos séculos 19 e 20, até autoras contemporâneas", disse.