Impactos provocados por projetos de desenvolvimento, conflitos que opõem camponeses e populações tradicionais, de um lado, a governo e grandes empresas, como a brasileira Vale, de outro, são a motivação de 120 fotografias que compõem a exposição Corredor de Nacala – comboio, carvão e gente no norte de Moçambique. A mostra, que integrou a programação da 69ª Reunião da SBPC, em julho, na UFMG, volta a ser montada no saguão da Fafich, campus Pampulha, e poderá ser visitada de hoje, às 14h, até a próxima sexta, 1º de setembro. As fotografias foram produzidas ao longo dos últimos dois anos e meio por cinco integrantes de projeto do Laboratório de Antropologia das Controvérsias Sociotécnicas (Lacs) da UFMG, em parceria com a Universidade do Lúrio (UniLurio), em Moçambique. A mostra propõe uma narrativa crítica da implantação do Corredor de Nacala, empreendimento destinado a escoar, pelo porto de Nacala, no litoral norte, a produção de carvão de minas localizadas em Moatize, Moçambique, distante mais de mil quilômetros. Coordenada pelo professor Eduardo Viana Vargas, do Departamento de Antropologia e Arqueologia, a pesquisa, baseada em etnografia (observação participante), foi iniciada há cerca de três anos e tem conclusão prevista para 2018. O trabalho é realizado no âmbito do Programa Pró-mobilidade Capes/Aulp. “Nosso objetivo é conhecer quem são os agentes e quem são os afetados, e como esses milhões de pessoas estão sendo afetadas”, afirma Eduardo Vargas. “Os conflitos são gerados por problemas como reassentamentos forçados, redução da disponibilidade para transporte de passageiros, diminuição das paradas para embarque e desembarque ao longo do caminho de ferro.” Ainda segundo o professor, as empresas, ao promoverem reassentamentos, por exemplo, ignoram aspectos como a existência de lugares sagrados e a relação dos grupos populacionais com seus mortos. “Eles não aceitam facilmente deixar para trás seus entes queridos, nem os muros que são construídos colados às casas para dividir espaços e pessoas”, comenta Vargas. As fotografias são de Ana Esperança Jafete Gule, Eduardo Viana Vargas, Helena Santos Assunção, Patrick Arley de Rezende e Raul Lansky de Oliveira. Mas, ao assinarem os trabalhos, os autores acrescentam a seus nomes “& Muitxs Outrxs*”, referência a pessoas e entidades que viabilizam a exposição.