Tempos presentes

Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

 

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da
janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os
homens presentes
A vida presente

 

Carlos Drummond de Andrade, “Mãos dadas”

 

O tempo da História, mais que uma grandeza física, trata-se de um fenômeno coletivamente criado pela humanidade. Ele flui segundo o ritmo próprio das permanências e das transformações que a todo momento vão tecendo os fatos visíveis, as crenças, os medos, as esperanças e as narrativas de futuro que desenham o mundo de cada época. Esse tempo histórico parece ter como atributo uma inconstância que faz se sucederem e se sobreporem longas travessias, curtas primaveras, momentos de espera, acontecimentos que se precipitam.

 

Os tempos presentes, mais do que muitas outras eras, se apresentam constitutivamente atravessados pela incerteza e pela inquietude dela decorrente. Processos como o aquecimento do planeta, o aumento da desigualdade, as migrações forçadas, o desemprego estrutural, a persistência das discriminações, a erosão da democracia, parecem desafiar as macro-ideias articuladoras dos sentidos de progresso da civilização que nos permitiram atravessar cada época, na busca de futuros imaginados.

 

No Brasil o presente, como o passado, permanece atravessado por contradições e impasses. E a universidade brasileira, ponto focal da invenção de futuros capazes de inspirar o presente, vive crescentes desafios.

 

Ciclo de Conferências Tempos Presentes é organizado pela UFMG como contribuição para a tarefa de pensar a Universidade e a nossa época. Trazer o aporte de conhecimento, de reflexão, de questionamento, que se fazem indispensáveis para a reconstrução da noção de História como tradução da vontade humana de orientar sua existência pela utopia de um futuro digno de ser sonhado.