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Os entraves ao crescimento
Dissertação de aluno do Cedeplar investiga o desenvolvimento econômico brasileiro nas últimas três décadas
Maurício Guilherme Jr.
urante o século XX, a economia brasileira acostumou-se a alternar, em períodos bastante curtos, fases de estagnação e de crescimento. Tal realidade impediu que o país, até os dias de hoje, vislumbrasse o panorama ideal de desenvolvimento sustentável, capaz de, a longo prazo, provocar real elevação da capacidade produtiva, aumento de renda e diminuição das taxas de desemprego. Analisar as causas da restrição ao crescimento econômico brasileiro, de 1970 a 2000, foi exatamente a motivação que levou o aluno José Ronaldo de Castro Souza Júnior a escrever sua dissertação de mestrado.
Para compreender as restrições à economia brasileira nas últimas três décadas do século XX, o mestrando buscou utilizar o chamado método dos três hiatos, formalizado pelo pesquisador Hollis Cheney em 1952. Segundo a teoria, postulada para análise dos países em desenvolvimento, há três causas básicas para o baixo crescimento econômico. A primeira delas refere-se à restrição fiscal. Trata-se da forte aproximação entre investimentos públicos e privados. "Isso acontece quando a presença do estado é preponderante. Se há redução de investimentos públicos, a produção cai e, conseqüentemente, o crescimento diminui", explica José Ronaldo.
O segundo hiato é chamado de restrição de poupança. Nesse caso, para que haja desenvolvimento, é necessária a disponibilidade de recursos destinados a investimentos na produção. A poupança potencial é determinada pela renda, que, por sua vez, está diretamente relacionada à capacidade produtiva do país. "Quando a poupança é baixa, não há como investir no aumento de tal capacidade", afirma o aluno. O último item diz respeito às restrições externas. Trata-se do crescimento vinculado à necessidade de importação de bens intermediários, ou insumos produtivos, e de capital, referentes a máquinas e equipamentos. "Seria o caso de países onde a estrutura produtiva é incompleta, e, por isso, há necessidade de importação para crescimento", afirma.
Caso brasileiro
De acordo com a pesquisa, a metodologia dos três hiatos mostra-se bastante atual para a avaliação do caso brasileiro. Em cada uma das décadas analisadas, houve um tipo de constatação. Nos anos 70, a economia cresceu consideravelmente em decorrência de três fatores: a capacidade de investimento do setor público, a disponibilidade de recursos para o setor privado, e o grande fluxo de financiamentos externos.
Taxa de Crescimento do PIB (%)
No início da década de 80, no entanto, o crescimento econômico foi limitado pela chamada restrição externa. O mundo vivia a segunda grande crise do petróleo. Os juros internacionais estavam altos, e uma série de acontecimentos, como a moratória mexicana, impediam o investimento externo no Brasil. "Se você cresce pouco, é bem menor a demanda por importações", explica José Ronaldo, lembrando que o país, nesses casos, é forçado a reduzir o próprio crescimento. Há desvalorização cambial e redução da demanda interna. A situação, no início dos anos 80, é bastante similar à de hoje, quando o governo precisa restringir o desenvolvimento econômico para gerar superávit.
Além das restrições externas, o Brasil enfrentava também, no começo da década de 80, o chamado hiato fiscal. Havia pouca capacidade de investimento estatal na economia. "Nesse período, inicia-se um processo de descolamento das relações entre investimentos públicos e privados", ressalta José Ronaldo. Desde então, o crescimento não depende tanto dos investimentos do governo. "Com isso, pode-se dizer que a idéia do hiato fiscal não mais se aplica, a longo prazo, ao Brasil", completa.
Na segunda metade dos anos 80, o Brasil cresce um pouco, devido ao alívio nas restrições externas. Contudo, passa a haver restrição de poupança. No início da década passada, o crescimento econômico é negativo, em decorrência do confisco da poupança pelo governo Collor. A partir do Plano Real, a situação externa se equilibra, e os investimentos estrangeiros no Brasil são maciços. "Além disso, a poupança se aproxima de sua capacidade potencial", diz o estudante.
A pesquisa mostra o quanto o hiato externo é importante para determinar os entraves ao crescimento da economia. "Momentos de estagnação têm grande relação com o baixo investimento externo", diz José Ronaldo. O mais importante, no entanto, está na criação de um plano de desenvolvimento sustentável, pouco vulnerável a hiatos temporários. Tal projeto, a longo prazo, seria capaz de fazer com que o país crescesse de forma saudável, sem a necessidade de frear propositalmente o desenvolvimento econômico. "Para instalar tal processo de crescimento sustentável, é preciso aumentar a capacidade produtiva", conclui José Ronaldo.
Dissertação: Restrições
ao crescimento econômico no Brasil: uma aplicação do
modelo de três hiatos (1970-2000)
Aluno: José Ronaldo de Castro Souza Júnior
Defesa: 2 de outubro, junto ao curso de pós-graduação
em Economia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar)
da Face
Orientador: Frederico Gonzaga Jayme Júnior