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Nº 1559 - Ano 33
04.12.2006

Inclusão em revista

Alunas de comunicação lançam publicação em áudio para portadores de deficiência visual

Tatiana Santos

omo os portadores de deficência visual conseguem se “virar” num mundo dominado por textos e imagens? Foi pensando na interação desse público com os meios de comunicação que as alunas de jornalismo da UFMG Flávia Reis, Fernanda Santos, Eliziane Lara e Luísa Naves desenvolveram, como projeto de conclusão de curso, a Realejo, revista em áudio destinada a deficientes visuais adultos.

Foto: Flávia Reis

O CD foi distribuído a entidades de assistência a cegos, como o Centro
de Apoio às Pessoas com Deficiência Visual de Belo Horizonte.

Com tiragem de 200 exemplares em CD, a revista é voltada para um público com grandes dificuldades de acesso à informação, já que nem todos são alfabetizados ou leitores em braile. “Esse público não tem acesso amplo ao conteúdo baseado em imagens e textos impressos, como alguém que enxerga”, afirma Flávia Reis. Segundo ela, o objetivo é oferecer um produto para os deficientes visuais, e não apenas adaptações de mídias impressas: “A revista tem linguagem simples, transportamos para o som o maior número de referências em imagem, agregando mais informações”. As reportagens, de até 10 minutos, tratam de temas como esporte, política, literatura e inclusão social.

Para a gravação, o grupo optou pelo CD comum (wave), levando-se em conta que nem todos os deficientes visuais tem computador ou som com MP3. A escolha contempla ainda a proposta de lançar uma revista portátil para ser ouvida em qualquer lugar.

Recepção
Para fundamentar o projeto da Revista, o grupo iniciou, em abril, pesquisas bibliográficas e constatou grande defasagem, no campo da comunicação, de estudos sobre acessibilidade e inclusão social do deficiente. Para suprir parte dessa carência, as estudantes elaboraram um manual de redação. “Formamos um grupo de sete deficientes visuais para debater a relação deles com a mídia. Ao identificar como eles absorvem a informação da TV e do rádio, foi possível elaborar um roteiro de como desenvolver projetos para este público”, comenta Flávia Reis.

O mesmo grupo avaliou a revista e manifestou interesse em adquirir uma segunda edição, desde que a um preço acessível. Junto com os exemplares, o grupo distribui um questionário para obter informações sobre o que o deficiente absorve das mídias tradicionais e os assuntos de sua predileção. Exemplares da publicação foram distribuídos em entidades de assistência a cegos, como o Centro de Apoio Pedagógico às Pessoas com Deficiência Visual de Belo Horizonte.

As estudantes enfrentaram dificuldades na captação de recursos para a reprodução e distribuição da Revista. “Isso talvez se deva ao fato de que as empresas não vêem o deficiente como um consumidor em potencial”, argumenta Flávia Reis, ao lembar que boa parte dos patrocínios e doações foram oferecidos com base na política de responsabilidade social das organizações. Cada cópia da revista teve um custo médio de R$ 2.

Segundo Flávia Reis, para que o projeto da Revista Realejo tenha continuidade é preciso que seja financiado por alguma lei de incentivo à cultura ou assumido por empresa ou organização. A tiragem-piloto da publicação custou R$ 400,00. “Tudo foi feito de forma voluntária, com o suporte institucional e tecnológico da UFMG”, ressalta a estudante.

A publicação foi lançada em novembro, durante a 1ª Jornada de Inclusão da Pessoa com Deficiência: Vitória pela Arte, realizada em Belo Horizonte. A apresentação do projeto junto ao curso de comunicação será no dia 14 de dezembro.