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Nº 1678 - Ano 36
30.11.2009

Quinze anos de solidariedade e altruísmo

Voluntários e equipe do Projeto Horizonte preparam-se para ensaios clínicos anti-HIV

Ana Rita Araújo

Nos últimos 15 anos, o relações-públicas Pedro Lúcio Abdala foi submetido a nada menos que 30 baterias completas de exames. Pedro Lúcio é saudável, mas volta a cada semestre à Faculdade de Medicina da UFMG para uma rotina de testes que inclui avaliação clínica e exames laboratoriais. Desde 1994 ele participa do Projeto Horizonte, iniciativa do Ministério da Saúde que pretende preparar voluntários para futuros ensaios clínicos com vacinas anti-HIV. “Quero ajudar nessa causa e estou pronto para receber uma vacina, caso surja”, afirma.

Solidariedade e altruísmo são traços comuns entre os 1.321 voluntários recrutados pelo projeto, que comemorou 15 anos de atividade em novembro. “Atualmente, acompanhamos 430 voluntários, que certamente serão capazes de decidirem, autonomamente, sobre sua participação em futuros ensaios com vacinas anti-HIV”, avalia o coordenador do projeto, professor Dirceu Greco, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina. Segundo ele, Pedro Lúcio figura na estatística dos 56,3% dos participantes que se submeteriam a testes com vacinas, enquanto 14,7% têm medo de contaminação e 27,8% relatam insegurança quanto aos efeitos colaterais e dizem não ter informações suficientes.

Considerado estratégico pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, o projeto coordenado pela UFMG acompanha homossexuais e bissexuais masculinos HIV negativos com base em estudos de natureza comportamental, clínica, epidemiológica e laboratorial. “Os conhecimentos adquiridos sobre os aspectos teóricos e práticos das questões sociocomportamentais da infecção poderão contribuir para ampliação de outros estudos dessa natureza e para o planejamento e realização de ensaios clínicos com vacinas candidatas anti-HIV que venham a ser testadas no Brasil”, explica Greco.

Ele destaca como mérito do projeto a formação de equipe multidisciplinar com experiência na implantação e condução de estudos de coorte (grupo com características comuns), “que hoje se encontra preparada para implementar ensaios com vacinas anti-HIV”. Outro aspecto importante, para o coordenador, é a demonstração de que é factível manter em acompanhamento uma coorte como esta por longo período.

Além de continuar com a formação e capacitação de recursos humanos para o enfrentamento da epidemia, o projeto pretende ampliar e diversificar o perfil dos voluntários recrutados, difundir as informações sobre prevenção e disponibilizar os dados obtidos para o Ministério da Saúde e para a comunidade científica, “obviamente mantendo o sigilo e confidencialidade dos dados dos participantes”, como ressalta Dirceu Greco.

Recrutamento

A principal fonte de recrutamento do projeto tem sido a divulgação boca a boca, que resulta em voluntários com perfil sociocultural e sexual mais homogêneo e se reflete na dificuldade de alcançar segmentos como travestis e profissionais do sexo. “Vale lembrar que o projeto lida com pessoas sadias, não infectadas pelo HIV, para as quais inexiste aparente ganho imediato, pois não há medicamentos e, por enquanto, nem vacinas a serem oferecidos”, explica Greco. “Dessa maneira, o recrutamento se torna mais difícil e são necessárias abordagens diversas para captação de novos participantes”, completa.

Com objetivo de diversificar o perfil dos voluntários que chegam ao projeto, foram reestruturadas as atividades de comunicação e elaboradas novas estratégias de recrutamento que incluem a formação de uma equipe de divulgação que distribui panfletos em bares e boates LGBT, parcerias com ONGs e inserção da divulgação eletrônica, com utilização de e-mails, redes de relacionamentos, chats e grupos de discussões virtuais.

Porta-bandeira

Pedro Lúcio Abdala também atua como voluntário na distribuição de panfletos sobre o projeto, sobretudo em bares e boates. “Carrego a bandeira do Projeto Horizonte e faço tudo o que posso para ajudar”, afirma. Ele comenta que embora a aids seja um problema tanto para os heterossexuais quanto para os homossexuais, o estigma permanece. “Ainda somos vistos como aqueles que trazem a doença. Mas o que importa realmente é fazer algo para evitar a disseminação e para encontrar a cura”, completa. Ele, que já perdeu muitos amigos vitimados pela aids, constata: “Nessa hora, não adianta ter dinheiro, recursos ou planos de saúde, por isso é importante buscar a cura”.

Leia também: "Como funciona o projeto"